sexta-feira, 27 de maio de 2011

Campinas: vice, do PT, é preso no aeroporto

Suspeito de corrupção, o vice-prefeito de Campinas (SP), Demetrio Vilagra, do PT, foi preso ontem ao desembarcar no Aeroporto de Guarulhos, vindo de Madri. Ele é acusado de comandar um esquema de fraudes em licitações que já teria desviado R$ 615 milhões dos cofres públicos e envolveria mais de dez pessoas. Vilagra teria pedido propina a empresários para pagar dívidas de campanha.

Vice-prefeito de Campinas preso por corrupção

Demétrio Vilagra é suspeito de desvio de verbas de obras públicas e investigado sob acusação de ter pedido propina

Maurício Simionato* e Tatiana Farah

CAMPINAS e SÃO PAULO. Suspeito de corrupção, o vice-prefeito de Campinas, Demétrio Vilagra (PT), foi preso ontem à noite ao desembarcar no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, vindo de Madri. Vilagra estava em férias na Espanha quando teve o mandado de prisão expedido pela Justiça de Campinas, em meio à investigação de fraudes em licitações públicas que passariam de R$615 milhões. Ele é um dos suspeitos de comandar desvios de verbas de obras públicas em Campinas e investigado pelo Ministério Público Estadual sob suspeita de ter pedido propina a empresários para "o pagamento de dívidas de campanha".

Vilagra foi preso por volta das 19h pela Polícia Federal, na área internacional do aeroporto. Sem passar pela saída convencional, onde era esperado por jornalistas, amigos e parentes, o vice-prefeito foi conduzido à sala da PF e, uma hora depois, levado para Campinas em um carro da Polícia Civil, escoltado por um camburão da Corregedoria de polícia de Campinas. Ele teria negociado com a polícia se apresentar e por isso não foi algemado. Sua chegada ao país foi informada tanto pela assessoria da prefeitura quanto por seu advogado no caso, o criminalista Ralph Tórtima Stettinger, cujo pedido de suspensão da prisão de Vilagra foi negado pela Justiça.

O corregedor da Polícia Civil em Campinas, Roveraldo Battaglini, acompanhou toda a prisão. Vilagra não quis dar declarações ao ser preso.

Por meio de seu site pessoal e do Twitter, o vice-prefeito disse que anteciparia o retorno ao Brasil em razão das denúncias de que era um dos comandantes das fraudes. Ele também informou que vai deixar a presidência da Ceasa, companhia de abastecimento de Campinas. O vice-prefeito é apontado pelo MP como integrante da suposta organização que fraudava contratos públicos na cidade. Tórtima nega o envolvimento dele.

Os empresários Alfredo Ferreira Antunes e Augusto Ribeiro Antunes (pai e filho), proprietários da Global Serviços, disseram ao MP de Campinas na última terça-feira que Vilagra alegou pagamento de dívidas de campanha ao pedir a eles propina num churrasco da sede da empresa, em Campinas. Este é o primeiro depoimento que liga o desvio de verbas públicas investigado com contas eleitorais.

Os empresários afirmaram ter dado R$20 mil em dinheiro ao vice-prefeito, mas disseram não se lembrar da data da entrega do dinheiro.

A investigação sobre o suposto esquema de fraude em licitações no alto escalão da prefeitura de Campinas começou a fechar o cerco a pessoas ligadas ao PT. Ontem o Ministério Público Estadual colheu depoimento do empresário Ítalo Hamilton Barioni, próximo do ex-ministro José Dirceu, que esteve no fim de semana na cidade para reuniões com líderes do partido.

Hoje os promotores vão ouvir José Carlos Bumlai, empresário e amigo do ex-presidente Lula. Ele é suspeito de intermediar pagamentos das empresas envolvidas com os agentes públicos. A primeira-dama, Rosely Nassim Jorge Santos, é apontada no relatório como chefe do grupo.

Numa das interceptações telefônicas registradas com autorização judicial pela investigação, Luiz Augusto Castrillon de Aquino, ex-presidente da empresa pública de saneamento de Campinas (Sanasa), foco das fraudes, diz a seu advogado que se encontrou com Barioni e que este estaria colhendo informações, a pedido de Bumlai, para negociar delação premiada com o MP.

Aquino relata que o objetivo de Bumlai era proteger Lula. Na campanha eleitoral de 2002, Lula passou quatro dias na fazenda de Bumlai nas proximidades de Campo Grande (MS) para gravar programas de TV.

Diz o relatório do Ministério Público: "De acordo com diálogo telefônico, Luiz Aquino foi procurado por um amigo pessoal identificado como Ítalo Barioni, que passou a fazer uma série de indagações sobre a confiança que Aquino teria nos promotores e explicou que "o cara que é o principal disso tudo" o teria contatado "com a intenção de fazer algo parecido" claramente se referindo à delação premiada realizada por Aquino".

O ex-dirigente da Sanasa está entre os envolvidos no esquema e deu três depoimentos ao Ministério Público por meio de delação premiada. Na semana passada, 11 pessoas, entre empresários e funcionários da prefeitura, foram presos. Só dois continuavam presos até ontem à noite. Na segunda-feira, o prefeito de Campinas, Dr. Hélio (PDT), negou o envolvimento dele e de sua mulher nas fraudes. Bumlai e Barioni não foram localizados ontem.

* Especial para O GLOBO

FONTE: O GLOBO

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