quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dez dias em busca de entendimento:: Raquel Ulhôa

Sem acordo entre os grupos paulista e mineiro em torno da composição da comissão executiva nacional, o PSDB caminha para a convenção nacional do dia 28 com uma grave divisão interna. Se o impasse persistir, nos dois lados há quem admita a possibilidade de confronto - até mesmo (o que é improvável) em torno da presidência do partido, embora a reeleição do deputado Sérgio Guerra (PE) hoje seja considerada certa.

O que está em jogo é o controle do partido no período preparatório para as eleições presidenciais de 2014. O senador Aécio Neves, ex-governador de Minas Gerais, além de apoiar a reeleição de Guerra, está empenhado em manter o deputado Rodrigo de Castro (MG) na secretaria-geral, um dos cargos mais importantes da estrutura partidária. A lógica é manter a maior parte da atual executiva.

O ex-governador José Serra - que concorre com Aécio a candidatura a presidente pelo PSDB em 2014 - e o governador Geraldo Alckmin querem substituir Castro pelo ex-governador Alberto Goldman, mas não estão conseguindo emplacar o aliado. A pouco mais de uma semana da convenção, as tentativas de acordo feitas por Sérgio Guerra têm fracassado.

Sem acordo, há risco de confronto na convenção

Uma proposta que havia sido afastada, mas voltou à mesa de negociação nos últimos dias é a criação de um conselho político do partido, a ser presidido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois que Serra rejeitou a proposta de um conselho com 14 membros, como foi defendido em reunião de governadores, agora Aécio e Guerra falam em um grupo "mais enxuto".

Seriam sete pessoas: FHC, Serra e Alckmin, como ex-candidatos a presidente, um representante dos governadores, os líderes da Câmara e do Senado e o presidente do partido. Serra, no entanto, continua resistindo à ideia de integrar tal colegiado. A interlocutores, disse que o grupo não passaria de uma "tertúlia".

Em reuniões, na tentativa de acordo, também é oferecida aos tucanos paulistas a primeira vice-presidência, que ficará vaga com a saída da senadora Marisa Serrano (MS), para assumir uma vaga de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Uma opção seria a ida de Goldman para o lugar. O cargo é mais simbólico e os paulistas o consideram insuficiente para equilibrar as forças no comando do partido.

Um espaço que havia sido cogitado por aliados para Serra assumir, com peso político, era a presidência do Instituto Teotonio Vilela, órgão de estudos e formação política do PSDB. Mas ontem o ex-senador Tasso Jereissati foi formalmente convidado pela bancada do Senado a comandar o instituto - e aceitou.

Havia resistências atribuídas à atual cúpula partidária e ao grupo de Aécio a uma eventual ocupação do ITV por Serra. A avaliação era que, à frente do ITV, em condições de realizar eventos nos Estados e mobilizar o partido, Serra praticamente dividiria o comando partidário com a presidência da sigla.

Enquanto disputam nos bastidores, Serra e Aécio adotam o mesmo discurso para o público externo. "Sou a favor da unidade. Seria uma insensatez trazer 2014 para agora. O PSDB tem que fazer o trabalho de fortalecimento orgânico e de oposição", disse Serra.

"Não tem sentido estabelecer uma disputa por cargos agora. Seria uma insensatez ir para o confronto", afirmou, por sua vez, Aécio. "Vamos criar um conselho político sólido, enxuto, para ter mais efetividade na formulação partidária. Um conselho presidido por Fernando Henrique, com a participação do Serra", completou. Ontem, a proposta do conselho voltou a ser apresentada - e recusada.

A convenção vai eleger o diretório nacional, que tem 213 integrantes, mais 59 suplentes. Para o diretório não há possibilidade de disputa, já que foi registrada chapa única. Os paulistas são cerca de um quarto dos delegados da convenção. Caberá a esse colegiado eleger a Executiva, formada por presidente, cinco vice-presidentes, secretário geral, primeiro e segundo secretários, tesoureiro, tesoureiro adjunto e vogais.

Há ainda o cargo de vice-presidente executivo, ocupado por Eduardo Jorge, ex-secretário-geral da Presidência no governo Fernando Henrique. Além da vice-presidência, ocupada por Marisa Serrano, pelo menos outros dois cargos da executiva ficarão vagos, mas são considerados sem relevância para o comando da máquina.

Em conversas reservadas, um grupo de tucanos mostra uma preocupação: não havendo negociação em torno da executiva, o receio é que a legalidade da reeleição de Guerra seja questionada, porque o mandato está na segunda prorrogação, o que contrariaria o estatuto partidário.

Independentemente do que acontecer na executiva, a escolha do candidato a presidente sofrerá principalmente influências externas. A opinião predominante entre os parlamentares do PSDB é que Aécio está hoje mais forte, mas o quadro pode mudar. Primeiro, pelo resultado das eleições municipais. Muitos apostam suas fichas na candidatura de Serra à Prefeitura de São Paulo. Uma vitória poderia dar musculatura.

Tucanos com maior neutralidade na disputa interna estão preocupados com a intensidade do embate entre Serra e Aécio. O mineiro, que em 2009 não mostrava, de fato, empenho pela disputa, agora tem demonstrado pela candidatura presidencial em 2014 a gana com que lutou para presidir a Câmara dos Deputados, em 2000. Foi contra o partido e o então presidente, Fernando Henrique.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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