sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dilma e Palocci atendem Lula e dão explicações

Após o ex-presidente Lula cobrar reação mais forte da presidente Dilma Rousseff e do ministro Antonio Palocci, os dois falaram pela primeira vez ontem, 11 dias depois, a respeito das suspeitas que recaem sobre o aumento do patrimônio do hoje chefe da Casa Civil. Dilma abordou a crise num evento público, mas Palocci, apenas numa reunião fechada com senadores do PT. Dilma usou o mesmo argumento de Lula para defender Palocci, com a concordância do ministro: chamou as denúncias de "luta política" e disse que "a oposição tenta o terceiro turno" das eleições. Os dois disseram que Palocci dará todas as explicações aos órgãos de controle.

No roteiro de Lula

Dilma fala pela 1ª vez sobre acusações contra Palocci; ele também falou, mas em reunião fechada

Maria Lima e Luiza Damé

Depois de o ex-presidente Lula fazer uma espécie de intervenção branca na articulação do governo Dilma Rousseff, a presidente falou pela primeira vez, em público, sobre as suspeitas que pesam sobre o aumento substancial do patrimônio do ministro Antonio Palocci, da Casa Civil. Onze dias depois da primeira denúncia contra ele, Palocci também falou, mas numa reunião fechada com senadores do PT.

Dilma falou pela primeira vez em entrevista de manhã, num evento sobre educação no Planalto, defendendo seu auxiliar. Depois, no almoço com os 15 senadores petistas, no Palácio da Alvorada, ela pôs Palocci para se explicar aos aliados. Os dois trataram a crise como "uma luta política". A presidente, com a concordância de Palocci e dos senadores, disse que "a oposição tenta o terceiro turno" das eleições, repetindo frase tantas vezes dita por Lula.

Sem que o nome de Lula tenha sido citado uma única vez, a presidente Dilma conduziu a reunião do Alvorada tentando mostrar autonomia e determinação para enfrentar a crise política. Encerrou o encontro pedindo que Palocci esclarecesse as dúvidas dos senadores, o que ele fez por cerca de 15 minutos.

Ao final da fala de Palocci, Dilma fez duas intervenções: sobre o vazamento dos dados de faturamento de sua empresa, e sobre a ação politica da oposição. Ela reclamou que durante a campanha sofreu durante dois meses um bombardeio com acusações de que o PT teria vazado dados sigilosos da família de José Serra, e ninguém queria debater conteúdo.

- Agora se negam a discutir o vazamento dos sigilos e só querem discutir o conteúdo dos sigilos. Estão querendo fazer um terceiro turno, e esse episódio da politização da devolução do imposto da WTorre é a maior prova disso - reclamou Dilma, segundo relato dos presentes.

Caso "lastimável" da WTorre

Durante todo o tempo da "sabatina" de Palocci, Dilma esteve ao lado do ministro pedindo que ele detalhasse melhor este ou aquele ponto mais nebuloso. Dilma, Palocci e os senadores petistas criticaram muito o que chamaram de politização do caso WTorre/Receita, repetindo que a devolução milionária do imposto se deu em função de uma decisão judicial, e não de suposto tráfico de influência do dono da Projeto.

Pela manhã, em entrevista no Planalto, após solenidade para assinatura de convênios do Ministério da Educação, Dilma fez a primeira defesa pública do coordenador de seu governo e disse que ele está dando todas as explicações aos órgãos de controle, incluindo a Receita Federal e o Ministério Público Federal:

- Quero assegurar a vocês que o ministro Palocci está dando todas as explicações para os órgãos de controle, as explicações necessárias - disse a presidente. - Espero que esta questão não seja politizada, como foi o caso do que aconteceu ontem (anteontem), o caso lastimável, que é aquela questão da devolução dos impostos da empresa WTorre. A Fazenda demorou um determinado tempo, se eu não me engano, em torno de dois anos, e a Justiça determinou à Fazenda o pagamento da restituição devida à empresa. Não se trata, de maneira alguma, de nenhuma manipulação. Lamento que um caso desse tipo esteja sendo politizado.

Segundo denúncia do PSDB, Palocci teria conseguido a liberação de R$9,2 milhões de restituição de Imposto de Renda da WTorre, que doou, no mesmo período, R$2 milhões à campanha de Dilma. O ministro estava presente na cerimônia, mas aproveitou que a presidente estava falando com os jornalistas para sair discretamente do Salão Negro, sem dar entrevista.

Em suas explicações no almoço com os senadores petistas, o ministro jurou que fez exatamente o que declarou, tudo dentro da lei, e que continuaria se negando a revelar sua carteira de clientes e os valores recebidos.

Segundo relatos, afirmou que, se as empresas quisessem se declarar, seria por sua própria conta, pois correriam o risco de ficarem vulneráveis a uma devassa da imprensa, como aconteceu com a WTorre. O ministro, entretanto, ao contrário de Lula, disse que a imprensa estava cumprindo seu papel de investigar. Sobre o resultado das consultorias prestadas para grandes empresas durante o auge da crise de 2008, ele se gabou:

- Fiz um trabalho muito bem feito para essas empresas em 2008. Fiz meu trabalho direitinho. Nenhuma delas caiu em erros, por exemplo, de apostar em ativos cambiais.

No almoço do Alvorada, ao tratar com os aliados petistas de providências para melhorar o entrosamento dos articuladores do governo com a base, a presidente foi tirada do sério por um comentário do senador Wellington Dias (PT-PI), que abordou um assunto que ela odeia: ocupação de cargos.

O ex-governador do Piauí não só cobrou uma solução para a troca do comando das estatais que terão seus dirigentes substituídos, como também a liberação de restos a pagar para os municípios. Levou uma bronca que desestimulou os demais a falar qualquer coisa sobre insatisfações por cargos e verbas.

- Olha aqui! Eu vou aproveitar que você tocou nesse assunto para deixar uma coisa bem clara! Eu me nego terminantemente a tratar de cargos junto com a votação do Código Florestal! - esbravejou Dilma, encerrando o assunto e deixando o desconforto no ar.

Logo depois, ela própria tentou mostrar seu lado ternura, quando o neto, Gabriel, começou a emitir os sons típicos de um bebê numa sala próxima, quebrando seu raciocínio:

- Olha aí, eu tenho que viajar à China, tratar de Código Florestal e ainda cuidar do meu netinho!

FONTE: O GLOBO

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