domingo, 1 de maio de 2011

Entrevista - Sérgio Guerra: "PSD é a direita do governo"

Entrevista Sérgio Guerra

Para o presidente do PSDB, partido criado por Kassab é de ocasião e atende interesses dos petistas

Candidato a mais um mandato como presidente do PSDB, o deputado Sérgio Guerra (PE) ataca o PSD de Gilberto Kassab, a quem chama de “a direita do governo federal” e, pela primeira vez, declara em público que José Serra não precisa presidir o partido para ter espaço nobre na legenda. “Marina Silva foi candidata e continua relevante. Geraldo Alckmin, depois de ser candidato, foi estudar nos Estados Unidos. Serra continua como um de nossos principais líderes”, diz, empenhado em acabar com a disputa entre Serra e Aécio pela candidatura de 2014. “Deveríamos ter feito prévias lá atrás. Nada nos impede que façamos no futuro”, afirma, defendendo um PSDB mais aberto e moderno. “Quem defender isso com mais vigor terá mais apoio no futuro”, diz. A seguir, os principais trechos da entrevista.

O PSD tirou deputados do DEM e começa a atingir o PSDB. É grave a crise, há muita gente saindo do partido?

Vamos aos fatos: o PSD é um partido que tem apoio oficial. A iniciativa é do prefeito Kassab e tem o apoio da máquina do governo Dilma Rousseff e da base de sustentação. Evidente que há constrangimentos em vários partidos e, por muitas razões, setores pleiteiam um deslocamento. E essas pessoas são em grande parte da base do governo e, em parte, dos partidos de oposição. Nessa oposição, de uma maneira especial no Democratas, origem do prefeito Kassab. É natural que ele tivesse ali maiores chances de mobilizar gente para seu projeto. Mas nem foi isso que se deu. Hoje, há mais filiados no partido de Kassab vindos de outras legendas da base do governo do que propriamente do DEM.

Mas o DEM sentiu o baque. Tanto é que estão falando em fusão com o PSDB. Essa fusão vai sair?

A criação do PSD implica prejuízo relevante para o DEM. Eles perderam mais de uma dezena de parlamentares, mas um partido da base, como o PP, perdeu seis. Essa ação tem levado alguns filiados ao DEM a sugerir um processo de fusão. No PSDB também, em muitas áreas, se defende a mesma fusão. Mas há ressalvas preliminares. Primeiro, o PSDB nem sequer elegeu a nova Executiva Nacional. Segundo, as eleições para prefeito estão desenhadas, os candidatos estão fixados em grande parte. Falar de fusão agora desestabiliza pleitos para as eleições de prefeitos daqui a um ano e meio. Terceiro, a fusão implica procedimentos que exigem providências legais de alguma complexidade. Portanto, não se pode dar de uma hora para outra.

Então, antes das eleições municipais, não haverá fusão…

É improvável que a fusão venha a se consumar antes disso. Nesse instante, a estratégia é de fortalecer os partidos e não de criar um ambiente para a fusão.

Por quê?

Porque é o projeto que nos parece mais óbvio e é importante para a democracia brasileira a existência de um partido como o Democratas, que ocupa um espaço evidente no cenário político. É bom recuperar nesse sentido o discurso do presidente (do DEM), José Agripino Maia, na sua posse. O Democratas é parte da composição político-ideológica do Brasil. Não é um partido de ocasião. Nem um partido que resulta de procedimentos irregulares como, por exemplo, esse que deu origem ao PSD.

Há quem diga que a fusão não sai porque no DEM hoje há mais aliados de Aécio do que de Serra.

Todos os aliados de Aécio no DEM foram aliados de Serra há três meses. Portanto, isso não tem relevância nesse momento.

Por falar em Aécio e Serra, existe uma disputa de bastidores entre os dois por espaço no partido. Como administrar isso?

Pessoalmente, sou candidato a presidente do partido. A eleição deve ser daqui a 30 dias. Entre os que me apoiam há muita gente que apoiaria Aécio para presidente e muita gente que apoiaria Serra para as candidaturas que ele desejasse. É claro que essa visão de disputa é inoportuna e, além de inoportuna, desestruturante. Sempre defendi que essa pauta fosse deletada, destruída. Essa discussão sem conteúdo só faz acumular dificuldades e produzir um ambiente que não ajuda a promover as reformas que o partido deve promover. A nova executiva fatalmente terá que tratar disso. E é bom que trate, porque não vamos resolver a escolha de nosso candidato a presidente da República como resolvemos na última vez. Vamos resolver com antecedência e por processos mais abertos.

Então, o senhor acha que deveriam ter tido prévias lá atrás?

Se tivéssemos filiados, cadastros regulares, autorização legal, deveríamos ter feito prévias. Não há nada que nos impeça de construir isso agora e trabalhamos para que o partido seja o mais aberto possível. Se houver necessidade, que as prévias sejam feitas.

Embora o senhor diga ser contra essa pauta, ela insiste em permanecer e volta e meia a gente escuta de tucanos algo a respeito. Como estancar isso?

Nos últimos três ou quatro anos só atuei contra essa pauta. Ela será confrontada nas eleições de presidente do PSDB. Quem vota conosco não quer a pauta.

Essa semana houve um zum-zum-zum de que Serra poderia seguir para o PSD por não ter espaço no PSDB. Isso tem fundamento?

De jeito nenhum. O PSD é a direita que estava faltando ao governo federal. O apoio da direita que o governo não tinha, terá com o PSD. E Serra está longe da direita. Não tem nada com isso.

O que sobra para a oposição se a base do governo ocupa todo o espectro político: esquerda, centro, direita?

A base do governo , tão “ampla”, é limitada do ponto de vista prático. A solidariedade ao governo se deve não a um certo componente de coerência político-ideológica, mas a processos indevidos e não republicanos de cooptação. Essa base, formada desse jeito, foi responsável pela crise do governo Lula. Todas as crises do governo anterior tiveram origem, forma e desenvolvimento nessa base construída por meios em grande parte ilegais e isso não sustenta nada nem coisa alguma. O Brasil de fato, independentemente do número de parlamentares eleitos por um ou por outro partido, representa aquele componente de quase 50% dos brasileiros que votaram contra Dilma.

Serra, desde a eleição, se movimenta, ou seus aliados se movimentam, para que ele ocupe um espaço nobre no partido. Ele terá?

Ele sempre teve e sempre terá. É um de nossos três ou quatro principais líderes. E se estiver sentado na Executiva, será um deles. Se for se reunir com parlamentares, será um deles. Terá sempre o reconhecimento de seu enorme papel no partido.

Isso não quer dizer que deva ocupar a Presidência do partido?

Evidentemente que não. Não é o mesmo caso, mas a ministra Marina Silva foi candidata a presidente da República e continua relevante do ponto de vista da política. Geraldo Alckmin, quando deixou de ser candidato a presidente da República, foi estudar nos Estados Unidos.

O senhor está sugerindo que Serra faça o mesmo?

Não, o papel que Serra tem no partido é forte. É inquestionável que ninguém mais do que ele terá condições de liderar o processo de oposição. Isso não quer dizer que ele seja presidente do partido ou não. O Serra terá do PSDB o que ele quiser, o partido já o escolheu três vezes candidato à Presidência.

E terá a próxima?

O futuro a Deus pertence. Tudo tem que se desenvolver de forma natural e há vários desafios. O primeiro é dar rumo à oposição. Outro é colaborar para que o PSDB seja democrático, novo, que não esteja subordinado a decisões de cúpula.

A oposição tem condições de angariar mais quadros?

O que falta é resolver seu conflito interno, eleger uma executiva adequada, liderar um processo de reforma interna, de ajuste com a sociedade, como Fernando Henrique indica. Isso temos que fazer e vamos fazer.

Então, Fernando Henrique está certo quando diz que a oposição precisa se dedicar mais?

Fernando Henrique está sempre certo. A oposição tem que fazer seu papel: fiscalizar o governo e comparar o discurso da presidente com os fatos. Eles vão mostrar que há um abismo entre o que ela fala e o que ela faz.

Mas houve gente no PSDB que considerou o artigo de FHC um fato negativo para os tucanos.

Tem gente para tudo, inclusive para dizer besteira.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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