sexta-feira, 27 de maio de 2011

Escândalo expõe fragilidade da base de apoio da presidente

Christopher Garman

É difícil antecipar como a crise em torno das finanças do ministro Antonio Palocci evoluirá. Em contraste com escândalos em que integrantes do governo são acusados de corrupção, ainda não há uma acusação específica de que Palocci tenha feito tráfico de influência ao trabalhar como consultor de empresas durante o exercício do mandato como deputado federal.

Mesmo assim, o escândalo serviu para expor com muita clareza a vulnerabilidade política do atual governo. Com a oposição quase aniquilada no Congresso e a presidente Dilma Rousseff gozando de índices de aprovação elevados, não há como negar que ela iniciou seu governo com um estoque de capital político significativo.

Em vez de usar esse capital para defender uma agenda de reformas, ela optou por usá-lo para conter nomeações políticas, preenchendo os cargos no governo com pessoas de sua confiança com perfil mais tecnocrático.

O PMDB, que entrou na campanha eleitoral do ano passado com a expectativa de exercer grande influência no governo Dilma, viu ser reduzido seu peso na Esplanada dos Ministérios e no segundo escalão do governo.

O mesmo ocorreu com a ala do PT ligada ao sindicalismo, uma corrente política com a qual a presidente Dilma não tem ligação histórica.

O articulador dessa estratégia foi Palocci e a crise expôs os custos que ela carrega.

O grau de descontentamento dentro da base aliada é alto dentro e fora do PT, o que aumenta a dificuldade do governo para controlar votações difíceis no Congresso, como mostrou a votação do novo Código Florestal no início desta semana.

Não é por acaso que o ex-presidente Lula tenha entrado em campo nesses últimos dias para unir a base governista na defesa de Palocci.

Mas os riscos maiores para o governo se encontram entre o segundo semestre deste ano e o início de 2012.

A despeito da insatisfação na base, Dilma mantém uma posição muito forte no Congresso. Mas é provável que a combinação de um cenário de inflação mais alta e crescimento econômico menos vigoroso leve a uma lenta, mas contínua, queda nos índices de aprovação do governo.

Se esse cenário se confirmar, é provável que as dificuldades do governo de contornar uma agenda negativa no Congresso aumentem.

Diretor para América Latina da consultoria Eurasia Group.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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