domingo, 15 de maio de 2011

Estudo mostra onde a reforma agrária vinga

Humberto Trezzi

Ao revelar balanço do Incra sobre 25 anos de assentamentos, ZH retrata casos de colonos bem-sucedidos ao aproveitar a terra.

As receitas para um assentamento próspero

Zero Hora mostra como se constroem casos de reforma agrária bem-sucedida no país, com exemplos encontrados no interior do Estado

Meio século após virar bandeira de sucessivos governos, a reforma agrária no Brasil ainda está longe de ser uma maravilha. Quase a metade dos beneficiados – 42% deles – convive com estradas péssimas. A maioria conta com energia em períodos insuficientes ou sequer dispõe dela. São grandes entraves, mas eles não impedem que a situação dos assentados esteja muito melhor do que antes de ganharem seu quinhão de terra.

A maior parte dos colonos planta em terras férteis, conta com água em abundância e crédito. As benesses são ainda mais visíveis no Rio Grande do Sul, onde uma em cada três famílias assentadas possui carro, algo impensável há duas décadas – e onde a maioria tem renda familiar superior a cinco salários mínimos.

É o que mostra, em síntese, a pesquisa Avaliação da Qualidade dos Assentamentos, Produção e Renda, que acaba de ser elaborada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O levantamento, realizado em 2010, analisou 1.164 assentamentos brasileiros e traçou um retrato das 3,6 milhões de pessoas assentadas pelos programas de reforma agrária desde 1985 (embora os primeiros projetos do gênero datem do início da década de 60).

O estudo foi feito a partir de entrevistas com os agricultores e ainda não está totalmente concluído. Falta tabular dados relativos à produtividade – e o Incra não cogita confrontá-los com os de não assentados. O argumento é que as experiências desses dois tipos de produtores são incompatíveis, devido às diferenças de custo na aquisição e trato do solo, bem como origens diversas e dificuldades de quem se instala em região onde não está acostumado.

Um dos maiores especialistas brasileiros em agricultura familiar, o gaúcho Ivaldo Gehlen, professor de Sociologia Rural na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considera inegáveis os impactos positivos gerados pela reforma agrária – mesmo que aquém do esperado e desejado.

Renda maior, mas insuficiente

Um exemplo é a renda, via de regra superior à anterior ao assentamento, porém insuficiente para que os assentados possam se enquadrar no que poderia se classificar como “classe média” em ascensão. Ele ressalta que os assentados também carecem de serviços de saúde e de lazer, além de exibir baixa qualificação e escolaridade.

– Me parece que isso evidencia algum nível de desleixo, dos assentados ou dos responsáveis pelos assentamentos. A reforma agrária cumpre papel relevante, mas nas perspectivas de produção, poder político e relação com o ambiente ainda se ressente de melhores resultados – conclui Gehlen.

FONTE: ZERO HORA (RS)

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