sábado, 21 de maio de 2011

Governo acena com cargos para evitar que base apoie investigação

Pendências na distribuição de cargos do segundo escalão para aliados deve, finalmente, ser resolvida para conter crise política

Vera Rosa e Tânia Monteiro

BRASÍLIA - Na tentativa de esvaziar a ameaça de uma CPI para investigar as atividades do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, o governo já acena com cargos para acalmar a base aliada. A ideia é que a partir da próxima semana o quebra-cabeça do segundo escalão comece a tomar forma final.

A oposição não tem votos suficientes para abrir uma CPI mista, reunindo deputados e senadores, mas já está atrás dos insatisfeitos da base aliada. É "suprapartidário" o grupo dos descontentes com a demora da presidente Dilma Rousseff em definir presidências e diretorias de estatais, autarquias e bancos oficiais. O time reúne parlamentares do PT ao PMDB, passando pelo PSB, PC do B e PR.

Na prática, tanto o PSDB como o DEM sabem que há poucas chances de conquistar assinaturas suficientes para instalar a CPI agora, mas já começaram a "mapear" os queixosos, principalmente dos partidos menores da base. Cauteloso, o governo quer, por sua vez, adoçar a boca dos aliados para também barrar qualquer convocação de Palocci em comissões do Congresso.

Disputados. Na lista dos cargos cobiçados pelos aliados estão as presidências de instituições financeiras - como o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (Basa) - e da Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), além de várias diretorias. As mais citadas estão na própria Chesf, Itaipu, Departamento de Obras contra as Secas (Dnocs), Eletronorte, Eletrosul, Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e Sudene.

"Nós vamos dar toda a força para Palocci e enfrentar essa luta política. É claro que há desgaste e temos preocupação com os desdobramentos políticos do caso, mas a recomendação é para que ninguém pare de trabalhar", afirmou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

No Palácio da Alvorada, Dilma recebeu o ex-ministro Franklin Martins, que comandou a Comunicação Social do governo Lula no segundo mandato. O governo nega que Franklin tenha sido chamado para ajudar a traçar a estratégia do contra-ataque no caso.

Embora a situação do ministro da Casa Civil esteja cada vez mais delicada, o discurso do Planalto é o de que não há fato determinado para a abertura de uma CPI. Nem mesmo a revelação de que a consultoria Projeto - de propriedade de Palocci - tinha como clientes empresas que mantinham negócios com o governo abalou a defesa do ministro mais poderoso da equipe, braço direito de Dilma.

"Meu Deus do céu, se você for selecionar empresas no Brasil que têm negócios com o governo vai observar que são praticamente todas", disse Carvalho. "Isso não prova nada. Palocci não tem problema na Comissão de Ética, na Receita e nem na Procuradoria-Geral da República. Então, nenhuma das acusações até agora vai além da questão política."

Para Entender

1. Denúncia

Em quatro anos, Antonio Palocci teria multiplicado por 20 seu patrimônio. Em 2010, ele comprou, por meio de sua empresa de consultoria, a Projeto, um apartamento de luxo por R$ 6,6 milhões. Em 2009, comprou um escritório no valor de R$ 882 mil (foto).

2. Defesa

O ministro Palocci declara que relatou os bens a Comissão de Ética da Presidência da República. Também afirma que alterou o objeto da sociedade (de consultoria para administradora de imóveis) para que não houvesse conflito com seu cargo. Oposição começa a se movimentar. DEM e PPS pedem explicações. PSDB, até o momento, é o mais contido partido de oposição.

3. Blindagem

Planalto monta operação de guerra para blindar Palocci. Na segunda-feira, a presidente Dilma reúne-se com a coordenação do governo e afirma que a denúncia faz parte de um jogo político. Dois dias depois, a governo consegue impedir a convocação de Palocci para prestar depoimento sobre o caso na Câmara.(foto)

4. Esclarecimento

Comissão de Ética Pública decide que não vai investigar a evolução patrimonial de Palocci e dá o caso por encerrado. PSDB protocola no Conselho de Atividades Financeiras (Coaf) pedido de esclarecimentos sobre as eventuais movimentações bancárias suspeitas da Projeto.

5. Explicações

Casa Civil envia um e-mail para líderes do Congresso defendendo Palocci das acusações. O texto cita outros ex-ministros da área econômica, especialmente do governo de Fernando Henrique Cardoso, que multiplicaram seu patrimônio depois de passarem pelo governo. O texto irrita o PSDB e Palocci pede desculpas aos tucanos. O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, diz que pedirá informações ao ministro

6. Nova denúncia

Estado revela que o Coaf enviou, há seis meses, relatório a PF comunicando uma movimentação financeira atípica envolvendo a Projeto e uma empresado ramo imobiliário que estava sob investigação.

7. Negócios

Reportagem do Estado mostra que Palocci teve negócios com 20 empresas e que rendimento foi concentrado em novembro e dezembro de 2010. Um dos negócios, segundo a Folha, seria com a WTorre e o faturamento da empresa no ano passado pode ter superado R$ 20 milhões.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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