sábado, 7 de maio de 2011

Inflação estoura a meta pela 1ª vez desde 2005

Pela primeira vez desde julho de 2005, a inflação oficial, medida pelo IPCA, estourou o teto fixado pelo governo. O centro da meta é de 4,5%, com tolerância de dois pontos para baixo ou para cima. Ou seja, 6,5%. Com os 0,77% registrados em abril, a inflação acumulou 6,51 % nos últimos 12 meses. Na realidade, o custo de vida ate desacelerou um pouco no mês passado em comparação com março, quando tinha ficado em 0,79%. O grande vilão continua sendo o combustível. As maiores altas foram de etanol e gasolina em abril. Agora, a grande dúvida dos analistas é se, nos próximos meses, a inflação, dará trégua para fechar o ano nos 6,5%. O ministro Guido Mantega disse que o pior já passou.

Inflação passa do limite

IPCA acumulado em 12 meses até abril fica em 6,51%, acima da meta do governo

Liana Melo

Ainflação rompeu, pela primeira vez desde 2005, o teto da meta estipulada pelo governo: nos últimos 12 meses terminados em abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, acumulou variação de 6,51%, enquanto o limite oficial é de 6,5%. Em julho de 2005, a taxa foi de 6,57%. No mês passado, o IPCA ficou em 0,77%, o que significou uma ligeira desaceleração em relação ao 0,79% de março, mas foi a maior alta mensal para um mês de abril nos últimos seis anos. Apesar de o governo vir insistindo que a inflação está sob controle e que começará em maio a convergir para o centro da meta (4,5% no ano), o objetivo principal, o mercado está dividido e alguns analistas já acreditam que o IPCA só ficará no limite desejado pelo Planalto em 2013. Há consenso apenas nas previsões de novas altas da taxa básica de juros nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Desde janeiro deste ano, já houve elevação de 1,25 ponto percentual da Selic, para 12% ao ano.

O mercado vinha esperando uma taxa maior para abril, entre 0,83% e 0,89%. Já para o índice fechado de 2011, a previsão de analistas é de que a inflação rompa a barreira dos 6,5%. A coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, chama atenção para um detalhe:

- Vamos ter um efeito matemático daqui para a frente. Qualquer que venha a ser a taxa positiva em junho, julho e agosto, vai puxar o IPCA em 12 meses para cima, já que a inflação foi próxima de zero nesses períodos do ano em 2010.

Combustíveis são o novo vilão

Ou seja, segundo Eulina, sairão do cálculo taxas muito baixas e entrarão novas, com variações mais altas.

No ano, até abril, o IPCA acumulou alta de 3,23%. O que mudou em relação a março foi o perfil da inflação. Os alimentos deixaram de ser vilão e os combustíveis ocuparam este lugar. No mês passado, o grupo com maior alta de preços foi o de transportes: 1,57%, refletindo o avanço de 6,53% dos combustíveis, que, sozinhos, responderam por 0,30 ponto percentual do IPCA no mês. Os alimentos subiram menos: 0,58% contra a alta de 0,75% registrada em março.

Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, acha que a queda dos preços só dura até outubro. Para ela, a inflação só vai convergir para o centro da meta em 2013.

- Aqueles itens que tiveram alta expressiva vão deixar de pressionar. Mas a inflação vai voltar a acelerar em outubro, e nossa aposta é que vai passar a girar em torno de 0,5% ao mês. A inflação não está sob controle.

Já o economista Elson Teles, da Máxima Asset, ressalta que é a primeira vez, desde o fim de 2010, que a inflação do mês surpreende positivamente. Ele aposta que, na margem, a inflação vai continuar desacelerando, mas também acha difícil que ela volte ao centro da meta em 2012.

O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, por sua vez, acha que o aumento de algumas tarifas deverá impedir uma queda mais expressiva em maio. Pelas suas projeções, a inflação este mês deverá ficar entre 0,50% e 0,55%. Em maio, as pressões no IPCA já esperadas pelo IBGE serão as tarifas de energia e de ônibus urbano, especialmente no Rio.

O resultado da inflação não pegou o BC de surpresa, mas serviu para reforçar a tese de que a escalada de preços, daqui para frente, vai "recuar fortemente". Em maio, o IPCA já deve diminuir para algo próximo a 0,45%, como prevê o mercado, caindo para algo perto de 0,1% nos dois meses seguintes. Desse modo, olhando-se para 12 meses à frente, o indicador já estaria na trajetória de convergência para o centro da meta.

Essa perda de força da inflação virá, sobretudo, dos efeitos da politica monetária restritiva implementada pelo BC desde dezembro passado, quando anunciou medidas para conter o crédito, além da alta da Selic. Os preços do álcool devem perder força e voltar para os níveis históricos em breve: ou seja, 70% do preço da gasolina, o que também vai ajudar.

O governo lembra que, em 2005, o IPCA ficou sete meses seguidos acima do teto da meta - chegou a ultrapassar 8% anualizado - e que, no fim do ano, foi de 5,69%. Ainda bem acima do centro da meta de 4,5%, mas dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.

Colaborou: Patrícia Duarte, de Brasília

FONTE: O GLOBO

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