segunda-feira, 2 de maio de 2011

Inflação vai limitar alta dos salários em 2011

O aumento nos índices de preços deve reduzir o percentual de reajuste real nas negociações trabalhistas neste ano.

Inflação vai limitar aumento real de salário em 2011

Somente segmentos com muita escassez de mão de obra devem manter bons ganhos reais ao longo do ano

Eva Rodrigues

Antes da crise, em2008, o Brasil tinha a segunda maior taxa de desocupação entre as 20 maiores economias do mundo. Hoje, o país ocupa a 14ª posição no mesmo ranking, segundo dados elaborados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O avanço é resultado de um mercado de trabalho aquecido, que melhorou renda, formalizou mais e atualmente enfrenta falta de mão de obra em vários setores.

Esse cenário elevou o poder de negociação dos trabalhadores nos últimos anos. Mas agora, outro fator surge como limitante nessa equação: a inflação. Ela deve levar a reajustes reais de salário menores em relação aos patamares verificados em 2010. O maior crescimento da economia, por si só, estimula os reajustes salariais e desde 2004 o Brasil registra paulatinamente crescimento nos ganhos reais —tanto no número de acordos quanto no tamanho desses ganhos. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2008, 4% dos acordos fechados registraram reajuste real de salário superior a 3%. Em 2009, foram 5% e em 2010, esse número triplicou e chegou a 15%dos acordos.

A política de valorização do salário mínimo, que atinge em torno de 47 milhões de pessoas, entre aposentados, pensionistas e empregados domésticos, acaba servindo como parâmetro de piso para as demais categorias profissionais, também tem sido influência positiva para as negociações dos trabalhadores.Mas em 2011, a inflação em alta deve exercer algumfreio nas conversas entre empresários e trabalhadores — referência para os reajustes, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumula alta de 6,31% em 12 meses. “A inflação é sempre um elemento dificultador para os ganhos reais.

O mercado de trabalho deve continuar bom, as margens de lucro das empresas também, mas as pressões de preços trazem ruído e refletem nas negociações, que devem resultar em ganhos reais em patamar inferior ao do ano passado”, diz o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado deOliveira.

Para além da inflação corrente, a taxa de desemprego baixa e o maior poder de barganha do trabalhador podem justamente se reverter em maiores pressões inflacionárias logo mais à frente, alerta o sócio da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo. “Não tem nenhum problema nesse cenário se os salários crescerem na mesma taxa de crescimento da produtivida- de — o problema é que os salários estão começando a crescer mais que a produtividade e isso vai gerar pressão inflacionária.”

Mão de obra escassa

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) está conduzindo as conversas com o Sindicato patronal da categoria que tem dissídio no mês de maio. Depois de uma dezena de reuniões entre as partes, a reivindicação do INPC — em torno de 6,3% — do período e aumento real de 5% ainda está longe do consenso. No ano passado, o reajuste foi de 8,1%, sendo 2% de aumento real, além de alguns avanços em cláusulas trabalhistas. Segundo o presidente do Sintracon-SP, Antônio de Sousa Ramalho, a inflação em alta está sendo usada como “desculpa” nas negociações. “Mas não tem jeito, diante da enorme necessidade de mão de obra no segmento e considerando que os salários médios da construção civil são baixos, é preciso dar uma melhorada geral nesses rendimentos”, pondera. Se a categoria não fechar acordo até o início de maio, a greve geral já está marcada para o dia 11.

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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