domingo, 29 de maio de 2011

Intervenção de Lula deixou Dilma fragilizada

Aliados já começam a duvidar se presidente terá força política para chegar em condições de disputar 2º mandato

Maria Lima

BRASÍLIA. A intensa e inusitada movimentação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que aportou em Brasília no auge de uma crise provocada pela completa desarticulação política e pelo agravamento da situação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, deixou aliados que têm projetos próprios para 2014 preocupados. Parlamentares e cientistas políticos avaliam que a presidente Dilma Rousseff deu os primeiros sinais de que não tem apetite ou fôlego para disputar um segundo mandato. A constatação geral é que, ao pedir socorro ao seu antecessor e criador na primeira crise, Dilma encerrou a semana muito fragilizada.

- Independentemente das motivações de Lula, o fato é que, na primeira crise, Dilma precisou de apoio externo. O presidencialismo tem um aspecto decisório muito forte. O sinal que se tem é que o projeto dela não é de longo fôlego, e 2014 não está em seu horizonte. Esta não era uma crise tão forte e nem motivo para pedir ajuda externa. O recado que ela deu foi: "Olha, bola dividida para mim é complicado, e Lula é craque nisso" - avalia o cientista político Luiz Werneck Viana, da PUC-Rio.

Na oposição, a leitura é que essa fragilidade política revelada pela presidente Dilma em nada ajuda uma volta de Lula em 2014, justamente porque ele é seu avalista, foi para a TV e para as ruas propagandear suas qualidades. A comparação concreta é com o caso do ex-prefeito Celso Pitta, cria do ex-prefeito Paulo Maluf, que fracassou na gestão e levou junto seu criador.

Para ACM Neto, sinais ruins

O líder do DEM na Cãmara, deputado ACM Neto (BA), diz que Dilma demonstrou não ter capacidade para conduzir politicamente o governo e precisou de uma bengala.

- Isso a longo prazo para a oposição é ótimo. Quando Lula volta dando ordens e querendo ocupar espaço, mostra que ele ainda é o cara que manda. Isso esbarra no questionamento da autoridade de Dilma. Não vejo como isso pode dar em coisa boa - diz ACM Neto.

O lider do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), exalta a grande experiência de Lula, adquirida com três derrotas e o enfrentamento de graves problemas em seu governo, em contraponto com a presidente Dilma, que está começando agora seu governo. E minimiza:

- Não se pode cobrar dela a experiência que Lula tem. Dilma ainda não adquiriu em tão pouco tempo a perfeição dessa conduta política. Temos que ter paciência e tolerância - diz Henrique Alves, explicando que não enxerga nessa movimentação de Lula uma tentativa de ocupar espaço para ser opção em 2014. - Lula faz isso para ajudar Dilma, não para diminuí-la. E nosso projeto, do PMDB, daqui a quatro anos, é Dilma e Michel de novo na reeleição. Estamos nesse projeto para valer e vamos torcer para dar certo a longo prazo.

Apesar de elogiarem o "freio de arrumação" que Lula deu na descoordenação política do governo Dilma, alguns aliados não escondem que a repercussão, ao fim, foi muito negativa e arranhou profundamente a autoridade da presidente Dilma. Alguns alertam que, se Lula investir no enfraquecimento de Dilma, pode pagar um preço alto por isso.

Um desses aliados com cargo no governo contou que semana passada, num encontro com empresários, era geral o clima de perplexidade com a agressividade de Lula intervindo no governo.

- Dilma saiu com sua autoridade arranhada, e isso também não é bom para Lula. Se der errado o governo dela, ele também está morto, porque é seu avalista. Se Dilma for mal, quem vai capitalizar é a oposição. Lula foi para a TV dizer que Dilma era o máximo. E agora? Vai morar no Alvorada e ser babá da presidente o tempo todo? - diz um desses aliados.

FONTE: O GLOBO

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