quinta-feira, 5 de maio de 2011

No governo, nova e mais tensa relação com o PT::Jarbas de Holanda

Um consistente controle da executiva do PT que Lula havia assegurado em 2010 com a escolha para a presidência do sergipano José Eduardo Dutra – tendo em vista a subordinação dela às necessidades da sucessora Dilma Rousseff, então ainda em campanha, e também em papel de instrumento básico de apoio à sua própria atuação como ex-chefe do governo e de possível candidato a um terceiro mandato em 2014 – esse controle foi posto em xeque, podendo vir a ter meios e fins rediscutidos e ao menos parcialmente alterados, em face do inesperado e bem sucedido bloqueio da cúpula do partido à substituição de Dutra pelo senador Humberto Costa (indicado por ele e por Dilma), seguido da promoção para o cargo, até 2013 do vice-presidente Rui Falcão, quadro de estrita confiança de José Dirceu.

Uma primeira derrota de Dilma Rousseff na luta interna do PT foi o insucesso de seu candidato à presidência da Câmara, Cândido Vaccarezza, compelido a desistir da disputa pelo cargo por articulação independente feita em torno do gaúcho Marco Maia. Mas a segunda – a da eleição agora de Rui Falcão para o comando da executiva nacional – é mais significativa pelo seu potencial de implicações negativas quanto às decisões partidárias voltadas ao pleito municipal do próximo ano e quanto ao equilíbrio da relação do governo com o PMDB. Implicações – especialmente às ligadas a esse equilíbrio, bem como a decisões políticas e econômicas de caráter pragmático que a presidente venha a considerar necessárias – cuja manifestação só deverá dar-se à medida que o governo venha a ter problemas sérios, como aqueles que a persistência da ameaça inflacionária poderá gerar.

Quanto a definições para o pleito de 2012, a primeira implicação da mudança da executiva paulista está se manifestando em São Paulo: a prioridade, na escolha de candidatura a prefeito paulistano, de lideranças tradicionais do partido, como Marta Suplicy e Aloizio Mercadante, em detrimento de um nome novo e aberto a aliança mais ampla, como o do ministro Fernando Haddad, que Lula vinha defendendo. Prioridade que Rui Falcão fundamentou em entrevista de ontem ao Valor: “Em 2010, foi tudo por Dilma. Agora, é pelo PT”.

“PT quer mais com Dilma” – Abertura de artigo, com este título, do jornalista João Bosco Rabello, no Estadão, de domingo último: “A eleição de Rui Falcão para a presidência do PT remete ao que previra seu grande cabo eleitoral, José Dirceu – de que o governo Dilma Rousseff seria o verdadeiro governo do partido. A frase, proferida ano passado a uma plateia de sindicalistas, embutia, a um só tempo, duas avaliações: que Lula governava com indesejável independência do partido e que este voltaria a exercer seus interesses de forma plena depois de sua saída do poder”. Outros trechos: “O desfecho (da decisão da executiva petista) agrava o malabarismo que a presidente vem fazendo desde a posse para mediar os dois principais partidos de sua base – o próprio PT e o PMDB”. “O PT tenta ‘enquadrar’ Dilma e consolidar sua hegemonia na aliança, o que a torna mais dependente de Lula e dos partidos satélites da base governista, além do próprio PMDB”.

No outro campo, um rumo agregador ou mais conflito na convenção do PSDB

Às vésperas da convenção dos tucanos, no final deste mês em Brasília, o noticiário da imprensa sobre as articulações para o evento destaca (como a reportagem da Folha de S. Paulo, de ontem – “Aécio e Alckmin se unem para a sucessão no PSDB”) um entendimento entre essas duas lideranças em torno da recondução de Sérgio Guerra à presidência da executiva nacional. Mas o noticiário abre também espaço para a resistência a tal entendimento de outra liderança de peso, José Serra, indicativa de que ele persiste na determinação de manter-se como possível presidenciável em 2014. Essa resistência, mesmo que minoritária, se não for superada logo poderá comprometer a convenção e seus reflexos políticos. Pois de uma expressiva demonstração de vitalidade unitária do PSDB dependerá em grande medida a contenção do processo de divisionismo e enfraquecimento dos partidos oposicionistas, estimulado pelo governo.

As respostas a tal processo começaram com o discurso proferido por Aécio no Senado, semanas atrás; por artigos e entrevistas do ex-presidente FHC; e pela revalorização do papel do DEM no governo paulista, formalizado esta semana por Geraldo Alckmin. Mas elas precisam ir bem além de uma composição na montagem executiva do PSDB, abrindo caminho para a perspectiva de uma candidatura viável à presidência da República, como a de Aécio Neves. Fator relevante de agregação política e social. Isso terá de passar, porém, por um acerto – para papel expressivo de José Serra na direção do partido em São Paulo e também na nacional. Sem o que dificilmente se esgotarão os conflitos entre os tucanos, com desdobramento no resto da oposição.

Jarbas de Holanda é jornalista

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