segunda-feira, 30 de maio de 2011

Olho grande na base governista

Depois de selarem, pelo menos no discurso, a união interna, partidos da oposição pretendem aproveitar o momento de fragilidade no Executivo para ganhar aliados em siglas "inconstantes"

Ivan Iunes e Izabelle Torres

Com o fim, ao menos aparente, da batalha fratricida que dividia internamente DEM e PSDB, os dois partidos apostam na crise na base aliada entre PT e PMDB para tentar atrair partidos menores com vistas às eleições municipais de 2012. Estão na alça de mira as legendas que, costumeiramente, mantêm um pé na canoa governista e outro na oposicionista. Siglas como PTB, PP, PR e PV. “Até o fim de semana, os comandos dos partidos não estavam nítidos. Agora é possível fazer uma ação coordenada entre partidos e fundações e vamos propor ao presidente Sérgio Guerra uma reunião com o intuito de estabelecer uma linha para as eleições de 2012”, afirma o presidente do DEM, José Agripino Maia.

A ideia é tentar recuperar o tempo desperdiçado de combate efetivo contra o governo em função do desarranjo sofrido depois que as siglas da oposição perderam deputados e senadores para o recém-criado PSD e entraram em parafuso pela sucessão nos comandos do partido. Com os rumos desenhados, os dois principais partidos em rota de colisão com o Palácio do Planalto, DEM e PSDB, articulam uma ação conjunta para tentar ganhar terreno na fragilidade do governo.

A tentativa da oposição de influenciar legendas da base aliada deve esbarrar na intenção dos partidos governistas de dar sinais de alinhamento com os oposicionistas para valorizar o passe nas negociações com o governo. A convenção do PSDB no sábado, por exemplo, contou com a presença do presidente do PTB, Roberto Jefferson. “Foi um gesto de camaradagem com os tucanos. A presença dele não quer dizer que queremos seguir o caminho da oposição. Estamos do lado do governo e a presidente sabe da nossa importância e do apoio que temos dado”, afirma o líder da legenda na Câmara, Jovair Arantes.

Fragilidade

A cartilha rezada por tucanos e demistas para 2012 deve ser a mesma das últimas eleições: aliança preferencial e apoio automático à legenda com maiores chances de vitória, especialmente nos municípios maiores. Em relação ao Congresso, a regra será manter o tom elevado contra as fragilidades governistas. No sábado, durante a convenção tucana, pela primeira vez dirigentes do partido decidiram colocar na alça de mira a evolução patrimonial do titular da Casa Civil, Antonio Palocci. O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, chegou a cobrar o ministro para que ele explique “o que fez e para quem fez”.

Por isso, diante da fragilidade de articulação do governo, a própria oposição decidiu que o momento é de atuar no sentido de prolongar a crise governista. “Tivemos o absurdo de o presidente Lula vir e ter de intervir na relação do governo com a base pela incapacidade de articulação política do governo. Sua principal figura ainda está envolvida em fatos que o governo quer encobrir, de práticas pouco usuais. O momento agora é de avançar sobre o governo”, aponta o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro.

Contra-ataque

Enquanto a oposição ensaia o ataque, o governo ainda não sabe quem vai liderar a reação. Até o momento, a única certeza é de que a presidente Dilma Rousseff terá de tomar as rédeas do próprio governo e encarar pessoalmente negociações e conversas com políticos. Não se sabe, porém, até que ponto ela vai conseguir se sair bem na função de articuladora, já que a função de negociar e ouvir a choradeira de aliados por cargos e poder nunca deixou a presidente confortável.

“A presidente sabe e sempre soube que tinha de haver essa relação mais próxima. Não tinha feito nada a respeito ainda porque esteve doente. Não foi falta de interesse, como alguns querem pregar. Mas agora as coisas vão mudar. Aliás, já começaram a ficar diferentes”, diz o líder do governo na Câmara, Cândido Vacarezza.

Na avaliação de integrantes da base, Dilma vai precisar fazer mais do que simplesmente aparecer. Terá de atender pedidos, distribuir cargos de forma estratégica e, principalmente, trabalhar para não desagradar ninguém. Pior: terá de agir de forma a não comprar briga com o PMDB, porque já notou que o aliado, quando se rebela, impõe ao governo derrotas amargas. Foi assim na votação do Código Florestal na Câmara e na divisão dos royalties do petróleo, no ano passado.

Racha na base

A aprovação do novo Código Florestal na Câmara resultou na primeira grave fissura dentro da base governista. Com a forte presença de ruralistas na bancada e o apetite por espaço no governo federal pouco atendido pelo Planalto, os peemedebistas se uniram à oposição e trouxeram consigo partidos menores, como PP, PDT e PSC. A aprovação do Código com a emenda que consolida áreas desmatadas irregularmente fez com que o Planalto chegasse a ameaçar de demissão todos os peemedebistas — depois a presidente Dilma Rousseff recuou. O projeto ainda segue em análise pelo Senado.

Veto forçado

O governo federal acordou com os principais estados produtores de petróleo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, uma nova fórmula de distribuição dos royalties. Faltou, porém, combinar com a base — em grande parte capitaneada pelo PMDB. Por meio de emenda apresentada pelo então deputado federal Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), o Congresso aprovou a redistribuição dos royalties de forma igualitária. Até o relator da proposta governista, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), votou a favor da modificação do próprio relatório. Com a conta de R$ 7 bilhões de prejuízos provocados ao estado do Rio de Janeiro, o governo federal interveio e o então presidente Lula vetou a emenda.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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