domingo, 29 de maio de 2011

PT tenta blindar mais um escândalo

Denúncias de corrupção em Campinas envolveram nomes ligados a Dirceu

Maurício Simionato, Silvia Amorim e Tatiana Farah

CAMPINAS e SÃO PAULO. As denúncias de corrupção e propina em licitações de obras públicas na Prefeitura de Campinas (SP), que culminaram com a prisão do vice-prefeito petista Demétrio Vilagra, chegaram semana passada ao empresário Ítalo Barioni, nome ligado ao ex-ministro José Dirceu em outro escândalo, o da aquisição da empresa Eletronet.

Barioni, que representa empresas estrangeiras de tecnologia, entre elas a Contem, do Canadá, aparece em interceptações telefônicas judiciais tratando de uma suposta tentativa de obter delação premiada por parte de outro empresário, desta vez amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai. Bumlai, ex-conselheiro da empreiteira Constram, é suspeito de intermediar facilidades nos negócios em Campinas.

O suposto esquema de corrupção teria lesado os cofres de Campinas em R$240 milhões, segundo os promotores do Gaeco (Grupo Especializado de Combate ao Crime Organizado). Uma das denúncias aponta para superfaturamento da Estação de Tratamento de Esgoto Anhumas, financiada com dinheiro do governo federal (R$40 milhões) e inaugurada em 2007.

Parlamentares reclamam das investigações

Preocupado com o desfecho do escândalo, Dirceu recebeu petistas de Campinas no fim de semana passado, um dia depois de deflagrada a operação que determinou a prisão de onze empresários e funcionários públicos. O PT deflagrou um movimento para tentar blindar Vilagra. Parlamentares foram ao Ministério Público fazer queixa da condução da investigação ao procurador-geral do MP, Fernando Grella. Vilagra foi preso ao chegar de férias da Espanha, na quinta-feira à noite, mas não passou 24 horas na cadeia e foi libertado, com todos os demais, sexta à noite.

O nome de Dirceu aparece ligado a Barioni no caso Eletronet. Dirceu foi acusado de fazer lobby em prol da empresa Contem, de Barioni, e da offshore Star Overseas, de Nelson dos Santos, que acabou se tornando sócio da Contem. Santos teria contratado a consultoria de Dirceu no negócio por R$620 mil. A Eletronet, que já fechou, teria sido beneficiada pelo PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), quando estava nas mãos de Barioni e Nelson dos Santos.

Dirceu negou ter feito tráfico de influência na ocasião e, na sexta-feira, procurado pelo GLOBO, afirmou, por meio de sua assessoria, que não se encontra com Barioni "há anos". Ele informou que não presta consultoria a nenhuma das empresas envolvidas no escândalo de Campinas e disse que o encontro em sua casa de campo reuniu políticos do PT regional.

- O assunto hoje é outro. Isso foi há quatro anos - disse Barioni, por telefone, sobre sua ligação com José Dirceu.

O empresário, que prestou depoimento na quinta-feira, negou que esteja sendo investigado e disse que falou com os promotores como "uma testemunha". Ele negou ter participado do suposto esquema de corrupção de desvio de verbas públicas.

Bumlai foi ouvido pelo Gaeco, por cerca de três horas, na sexta-feira. Seu advogado, Mário Sérgio Duarte Garcia, negou envolvimento do empresário no caso e que não pediu o benefício da delação premiada. Pelas investigações, Bumlai teria agido em nome da empreiteira Constran, da qual foi conselheiro, supostamente intermediando pagamento de propina aos petistas de Campinas. Sua prisão foi pedida pelos promotores, mas negada pela Justiça.

O escândalo em Campinas, que tem como foco a companhia de abastecimento Sanasa, atinge o núcleo de poder do prefeito Helio de Oliveira Santos, o dr. Hélio, do PDT. Cogitado para disputar a chapa de vice-governador em 2010, com o ministro Aloizio Mercadante.

FONTE: O GLOBO

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