sábado, 7 de maio de 2011

Reflexos da indexação

Thiago Curado

Os quatro primeiros meses de 2011 foram marcados por fortes reajustes dos preços administrados. Enquanto os preços livres no IPCA acumularam até abril variação de 2,98%, os administrados subiram 3,8%. A variação acumulada desses itens até abril já supera o resultado de todo o ano passado (3,13%). Parte da piora se deve ao ciclo eleitoral. Após um ano de eleição em que diversos reajustes foram postergados, 2011 tem sido marcado por grande volume de reajustes. Já ocorreram aumentos nas tarifas de ônibus urbanos em oito capitais que compõem o IPCA.

Mas a principal explicação está nas elevadas taxas de inflação acumuladas em 2010, tanto no IPCA (5,91%) como no IGP-M (11,32%), que têm feito com que a magnitude dos reajustes deste ano tenham se mostrado particularmente pressionada. Além dos aumentos de preços relacionados a transporte público, os quatro primeiros meses do ano foram marcados por reajustes em jogos lotéricos, remédios, energia elétrica, cartório e tarifas de água e esgoto. Agravando o cenário, a disparada dos preços da gasolina pressionou os administrados em abril.

O quadro configura a evidência mais clara do papel da indexação na economia, já que boa parte da pressão representa um repasse da inflação passada, tornando mais árduo o combate à inflação. Todavia, destacamos que a indexação não implica que as políticas fiscal e monetária tenham pouco espaço de atuação. Pelo contrário, a existência de tais mecanismos de repasse da inflação passada demanda que a atuação fiscal e monetária seja ainda mais rígida, para assim conseguir quebrar a inércia inflacionária e a autoalimentação da inflação.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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