sábado, 21 de maio de 2011

Tática do Planalto é descolar crise de Dilma

Visita de Franklin à presidente, porém, alimentou rumor de que ela busca reforço

Adriana Vasconcelos e Maria Lima

BRASÍLIA. Enquanto for possível, a intenção da presidente Dilma Rousseff é manter-se silenciosa e longe da crise com seu principal auxiliar, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, como vem fazendo há quase uma semana. Contra ele pesam suspeitas sobre suas atividades como consultor, que lhe permitiram comprar um apartamento de R$6,6 milhões e um escritório de R$800 mil em São Paulo, no ano passado. A estratégia do Palácio do Planalto é tentar descolar o tema do governo e, sobretudo, da presidente. Mas até governistas acham que Dilma tem levado a crise para sua agenda diária.

Avaliação feita por Dilma e seu entorno é que ela não deve mesmo se manifestar porque esse, até o momento, é um problema do ministro e tem de ser resolvido por ele. Enquanto não houver prova de que as atividades de Palocci como consultor produziram algum ato ilegal no governo, o assunto continuará tratado como uma questão pessoal do ministro.

Ninguém pense, porém, que Dilma jogará seu principal ministro aos leões, "até porque gosta muito dele e não acredita que tenha alguma coisa errada a ser explicada pelo governo", como disse ontem um interlocutor. As novas revelações sobre o faturamento da empresa do ministro - que ano passado teria chegado a R$20 milhões, de acordo com a "Folha de S.Paulo" - não mudam, pelo menos por enquanto, o comportamento de Dilma.

A opção do ministro de só se manifestar por notas tem incomodado a base governista, que se ressente de informações até para melhor defender Palocci no Congresso. Embora o clima seja de preocupação entre os aliados, a avaliação no Planalto é que até agora ele não foi atingido pela bala de prata, o golpe definitivo.

Por mais alto que tenha sido o faturamento da empresa de Palocci, o governo parte do pressuposto de que tudo foi declarado à Receita Federal, e que não há crime em enriquecer. Avalia ainda que há diferença entre fazer ilação sobre suposto tráfico de influência e comprovar, de fato, uma ação irregular de Palocci.

Alguns governistas, porém, consideram que Dilma cometeu um erro ontem ao receber o ex-ministro Franklin Martins no Alvorada, alimentando rumores de que ela busca reforço.

- Estão cometendo erros primários. O pior deles foi levar a sala da crise para dentro do Alvorada. Isso põe o problema no colo da presidente - criticou um líder governista.

A apreensão maior dos aliados é com a possibilidade de fatos novos. Ainda está muito fresco na memória o escândalo que derrubou Palocci do Ministério da Fazenda, no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa.

Por isso, senadores da base defendiam ontem que o Planalto entre logo em campo para barrar a iniciativa da oposição, que começará a coletar assinaturas para a instalação de CPI mista. Auxiliares da presidente, porém, apostam na força e no poder do governo para evitar que aliados descontentes assinem a CPI.

- É muito fácil ficar falando que está insatisfeito com o Planalto e vai assinar a CPI, mas na hora de pôr o nome numa lista pública a história é outra - comentou um ministro.

Franklin se reuniu ontem com Dilma por duas horas. Ele foi um dos principais assessores do ex-presidente Lula e seu conselheiro frequente em crises. No encontro com Dilma, não estava a atual ministra de Comunicação Social, Helena Chagas. Franklin já esteve várias vezes com Dilma; ao GLOBO, ele disse que a visita já estava agendada e que foi vê-la por serem amigos. Negou que tenham falado sobre Palocci.

FONTE: O GLOBO

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