terça-feira, 7 de junho de 2011

Com ‘fuerza’, mas sem força

Em visita a Brasília, o venezuelano Hugo Chávez encontrou-se ontem com o ministro Antonio Palocci e, depois de um abraço, recomendou: "Fuerza, fuerza." Mais cedo, a Força Sindical, central aliada do governo, pediu em nota a saída de Palocci. "O imediato afastamento do ministro só trará benefícios para o país, que vive um bom momento econômico, mas começa a sentir a paralisia política do governo", diz a nota

"Fuerza, fuerza", diz Chávez ao ministro

Chico de Gois e Luiza Damé

BRASÍLIA. Depois das entrevistas dadas na última sexta-feira, o ministro Antonio Palocci, esforçou-se ontem para deixar a impressão de que nada o abala e que as explicações que deu seriam suficientes. Ontem, todo sorrisos em evento público no Palácio do Planalto, antes de o procurador-geral da República anunciar o arquivamento do caso, ele voltou a adotar o silêncio. A falta de resposta também se estendeu à presidente Dilma Rousseff toda vez que jornalistas lhes perguntaram sobre o futuro do chefe da Casa Civil.

O incômodo era visível. Sem o apoio dos petistas e até mesmo de Dilma, Palocci acabou ganhando o incentivo do controverso presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que em visita ontem ao Brasil lhe sugeriu "fuerza" para aguentar as pressões. Incomodada com a situação, a presidente não falou publicamente do assunto.

De manhã, depois de cumprimentar ministros brasileiros e venezuelanos no Planalto, a presidente Dilma se dirigia ao final da rampa que dá acesso ao Palácio para esperar Chávez quando foi provocada pelos jornalistas sobre Palocci. Ela apenas sorriu e deu meia-volta, sem responder à pergunta. À tarde, no Itamaraty, ao chegar para o almoço com o presidente venezuelano, Dilma acenou para repórteres, mas novamente não respondeu se o ministro continuará no cargo.

O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, foi outro que se recusou a comentar a situação do ministro da Casa Civil:

- Não tenho a menor informação e não quero dar opinião sobre isso. Perguntem ao Palocci.

Mas Palocci não atendeu aos chamados da imprensa, e, na saída do Itamaraty, seu carro procurou de todas as maneiras fugir dos repórteres. O único apoio lhe chegou com o abraço de Hugo Chávez, que se equilibra em uma muleta depois de ter machucado o joelho no mês passado.

- Fuerza, fuerza - disse o venezuelano.

Foi a primeira visita de trabalho de Chávez ao Brasil depois da era Lula. O venezuelano derramou-se em declarações elogiosas à presidente Dilma Rousseff, a quem acusou, de brincadeira, de lhe ter roubado o coração. O "amor" por Dilma começou, segundo afirmou, na Venezuela, quando a presidente ainda era ministra de Minas e Energia. Brasil e Venezuela assinaram ontem dez memorandos de cooperação em várias áreas, como agricultura, habitação e energia. No entanto, nenhum acordo foi assinado sobre a refinaria Abreu e Lima, que seria construída em parceria pelos dois países, mas que, por causa da demora por parte da Venezuela a investir recursos na obra, tem sido tocada somente pela Petrobras.

- Dilma me roubou o coração em Caracas - declarou Chávez, esclarecendo que ele teria se encantado com ela no encontro na Venezuela.

O venezuelano, ao lembrar dos oito anos de mandato de Lula, elogiou os ministros que, em sua análise, ajudaram o ex-presidente a desenvolver o Brasil e citou nominalmente Dilma e Palocci.

FONTE: O GLOBO

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