quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dilma e Palocci, um enigma:: Eliane Cantanhêde

O ato de despedida de Antonio Palocci no governo deixou uma dúvida: por que a presidente Dilma Rousseff passou três semanas sem defender com garra o ministro e ontem, abatida e emocionada, o elogiou calorosamente?

"Eu estaria mentindo se dissesse que não estou triste. Tenho muitos motivos para lamentar a saída de Palocci. Motivos de ordem política, pelo papel que desempenhou na minha campanha; administrativa, pelo papel que tinha e teria no meu governo, e motivo de ordem pessoal, pela amizade que construímos", disse, com voz embargada.

De duas, uma:

1 - Palocci ganhou R$ 20 milhões no ano eleitoral com sua empresa de uma funcionária só, metade deles já como coordenador da transição, mas Dilma acha que isso não tem nada demais. Iniciativa privada é iniciativa privada...

2 - Ou Palocci não ganhou para si, mas sim para o partido, a campanha, a causa, um esquema de poder. Neste caso, Dilma não o condena e é até grata a ele.

É possível que a opinião pública nunca saiba a solução desse enigma de ordem ética. Dilma e Palocci trataram de debitar a crise a "embates políticos" e à oposição, enquanto a nova chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, estendia a mão ao Legislativo. "Não sou trator."

Gleisi é uma mulher muito bonita, mas isso é só um detalhe. Ela é também inteligente, preparada, com experiência em gestão e gosto pela política. Pode ser de grande serventia num governo em busca de personalidade, organicidade e interlocução política -até, ou especialmente, com os próprios aliados.

Mais do que assumir o principal cargo da República depois da Presidência, ela tem o desafio de ser uma boa conselheira e um marco do recomeço do governo Dilma.

Um porém: Gleisi é uma peça importante, mas só uma peça. Quem mexe o tabuleiro é Dilma, o que exige jeito, tática, estratégia e liderança. Ela precisa treinar mais.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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