sábado, 4 de junho de 2011

Dois tempos:: Míriam Leitão

O PIB cresceu mais no primeiro trimestre do que no último do ano passado, mas a economia está desacelerando como queria o Banco Central quando apertou o crédito e elevou os juros. E ele fez isso exatamente para reduzir o passo e conter a inflação. Nos Estados Unidos os esforços para a criação de emprego não estão funcionando. O desemprego aumentou para 9,1%.

O crescimento no Brasil nos últimos quatro trimestres caiu de 7,5% para 6,2%, apesar de o primeiro trimestre deste ano ter crescido 1,3%, mais do que o ritmo do último do ano passado, que foi 0,7%. Quando se contar em gráfico a história do crescimento de 2011 a linha vai mostrar que no segundo trimestre o ritmo será menor do que no primeiro, no terceiro bem menor, para estabilizar no quarto. A melhor notícia é que o investimento, que tinha crescido apenas 0,4% no último trimestre de 2010, voltou a acelerar e cresceu 1,2%.

O Brasil vive a discussão sobre como e quanto reduzir o ritmo do crescimento para conter a inflação elevada pelo excesso de gasto público durante a eleição de 2010. Nos EUA, vive-se a discussão sobre o que fazer para elevar o PIB, estimular a confiança das empresas para que elas possam recontratar. Com mais emprego, as eleições presidenciais de 2012 acontecerão num ambiente mais favorável a Obama. Segundo o "New York Times", desde Franklin Delano Roosevelt nenhum presidente foi reeleito com o desemprego acima de 7,2%. A taxa está em 9,1% e ninguém acredita, nem os assessores econômicos do presidente Barack Obama, que ela possa cair substancialmente até as eleições. Ele será o primeiro, deste o mítico FDR, a testar este limite estatístico.

As empresas americanas estão demitindo menos, mas estão criando pouco emprego. Vinham criando 220 mil vagas por mês nos últimos dois meses mas em maio criaram apenas 54 mil. E mesmo em abril, que teve um desempenho melhor, 13,7 milhões de americanos procuraram emprego e não encontraram. O tempo para encontrar trabalho está ficando mais demorado. Milhões de americanos estão ficando desanimados de procurar porque quanto maior o tempo de desemprego, mais difícil é reinserir-se no mercado, segundo estudos citados pelo "NYT". Vários indicadores mostram que o ritmo da economia americana está piorando, depois de pequena melhora, entre outros motivos por causa do tsunami no Japão. Várias cadeias produtivas estão sendo afetadas, como se temia, pela falta de peças que são produzidas na área atingida pelo terremoto, tsunami e desastre nuclear. As indústrias automotiva e de eletrônicos têm sentido isso.

No Brasil a transição de um ritmo superquente para outro menos quente tem ocorrido com sinais contraditórios. Esta semana saiu um dado péssimo para a indústria, queda de 2,1% em abril. Vários setores começam a se inquietar com a queda da demanda. Mas o varejo comemora números fortes. Entrevistei na Globonews o presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo, Fernando de Castro, e o presidente da Nielsen, Eduardo Ragasol. Os dois estão otimistas com as perspectivas de curto e longo prazos do varejo. Segundo Fernando de Castro, o varejo deve crescer este ano 8%, bem acima do PIB. Esta tem sido a constante nos últimos anos e ele disse que o varejo que hoje representa 15% do PIB vai ter uma fatia cada vez maior. Ragasol acha que o grande motivo desse avanço é a soma das mudanças positivas que aconteceram no Brasil nos últimos tempos e que incluíram mais consumidores na classe média. Segundo ele, que é mexicano, isso está acontecendo em todos os países da região, exceto Venezuela e Argentina. Nestes dois, a inflação tem subido: "A inflação é veneno para a economia", disse.

No mundo inteiro os índices subiram neste começo do ano pelo impacto das commodities que se elevaram, principalmente o petróleo, por causa dos acontecimentos do Norte da África. No Brasil havia outros fatores determinantes da alta, como o excesso de demanda, os gastos públicos e resquícios da indexação. Nos próximos meses a taxa ficará bem mais baixa, mas o setor de serviços ainda está com inflação acima de 8%. Nada no entanto se compara aos absurdos que estão acontecendo na Venezuela e na Argentina em termos de inflação. Por isso eles estão fora da festa que está ampliando a classe média no continente; porque estão permitindo a alta dos preços.

Um dos problemas que estão preocupando a indústria atualmente é a queda do dólar. Mas isso tem a ver mais com a política monetária americana. Para tentar reavivar a economia e reduzir a taxa de desemprego o governo americano recomprou títulos públicos para jogar mais dinheiro na economia. Essa é uma das razões da queda da moeda americana em relação à maioria das moedas do mundo. A indústria brasileira diz que assim não consegue competir. Fernando de Castro afirma que o diferencial de preço de alguns produtos é muito maior do que se supõe que seja a defasagem do dólar:

- Imagine que o dólar suba 20%. Alguns produtos têm diferença de preço de 50%.

Com a desaceleração do PIB, a tensão entre indústria e varejo vai aumentar. Nos EUA, os próximos 18 meses serão de queda de braço político, e a taxa de desemprego jogará um papel fundamental.

FONTE: O GLOBO

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