sexta-feira, 24 de junho de 2011

Oposição exige explicação sobre viagens de Cabral

Paola de Moura

Rio - A tragédia do dia 17, em que, após a queda de um helicóptero na Bahia morreram sete pessoas, entre elas a mulher e o filho do empresário Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, e a namorada do filho do governador do Rio, Mariana Noleto, promete abalar o conforto que o governador Sérgio Cabral tem na Assembleia Legislativa (Alerj). Deputados de oposição já estão na Justiça para obrigar o presidente da Casa a publicar um requerimento pedindo esclarecimentos sobre viagens não comunicadas de Cabral.

Eles também prometem ir à Agência Nacional de Aviação (Anac), se necessário, fazer um levantamento das viagens. Isto porque Cabral foi a Trancoso naquele dia, para participar da festa de aniversário de Cavendish num jatinho particular de outro empresário, Eike Batista. Além disso, o vice-governador, Luiz Fernando Pezão, estava na Itália. E o presidente da Alerj, Paulo Mello (PMDB-RJ), não foi convocado para assumir o cargo.

Só para se ter uma ideia da blindagem de Cabral na Casa, na eleição de Mello à presidência no início do ano, 66 dos 70 deputados votaram a favor do candidato. A base de Cabral conta com 23 partidos. Estão na oposição, o PSDB, o PR e o PSOL. "O governador conta com este apoio. Mas agora temos a opinião pública cobrando", diz o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB).

Em 26 de abril, a deputada Clarissa Garotinho (PR-RJ) solicitou à mesa diretora que publicasse no diário oficial um requerimento no qual pede que a Casa Civil informe todas as viagens oficiais e extraoficiais realizadas pelo governador entre janeiro de 2007 e abril de 2011, os locais e as datas, o custo, o meio de transporte utilizado e quem o acompanhou. "Sempre ouvimos boatos sobre as viagens do governador", diz Clarissa. "Até hoje, o presidente da Alerj não publicou. Ele tinha cinco dias úteis. Reclamei três vezes. Em cada uma, ouvi desculpas diferentes".

No dia 17, antes mesmo do acidente ocorrer, como faz questão de destacar, a deputada entrou na Justiça com um mandado de segurança para obrigar Mello a publicar o pedido. Clarissa também o acusa de não ter publicado o projeto de emenda constitucional aprovado há duas semanas que dá anistia aos bombeiros. "O prazo venceu dia 16 de junho". Procurado pelo Valor, Mello não retornou as ligações.

O deputado Marcelo Freixo (PSOL) que, com os parlamentares Luiz Paulo Corrêa da Rocha, Flávio Bolsonaro (PP), Janira Rocha (PR), Paulo Ramos (PDT) e Wagner Montes (PDT), enviou outro requerimento à Casa pedindo informações sobre os contratos do governo com a Delta e as empresas do grupo EBX, conta que, se necessário, vai pedir à Anac os registros de viagens de Cabral. "As suspeitas das ausências foram lamentavelmente confirmadas através de uma tragédia. Mas isto é uma questão pública. O governador viajava no avião de Eike Batista", argumenta o deputado.

Freixo destaca que as empresas do grupo EBX, de Eike Batista, receberam do Estado cerca de R$ 75 milhões em isenção de ICMS. "Além disso, o próprio empresário doou à campanha de Cabral R$ 750 mil". Em nota divulgada na terça-feira, o empresário confirmou que emprestou seu jato Legacy ao governador e afirmou que tinha orgulho de fazê-lo já que "Sérgio Cabral vem realizando seu trabalho com grande competência e determinação".

A oposição também quer explicações do relacionamento de Cabral com o dono da Delta. A construtora é a principal empreiteira a realizar obras no Estado, como a reforma do Maracanã, que começou orçada em R$ 400 milhões e agora está prevista em R$ 956 milhões. Em 2007, primeiro ano do governo Cabral, a Delta recebeu do Estado R$ 57,8 milhões em obras com licitação. Em 2010, foram R$ 426,178 milhões, um crescimento de 637%. "Também há um crescimento escandaloso das obras emergenciais, sem licitação", acusa Clarissa. Em 2007, foram R$ 10,2 milhões. No ano passado, R$ 127,3 milhões, 1.148% a mais. Em reportagem publicada ontem, o jornal "O Globo" mostrou que a Delta vem recebendo do Estado por projetos que não foram executados, apresentam falhas ou ainda não saíram do papel.

FONTE VALOR ECONÔMICO

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