quarta-feira, 1 de junho de 2011

Petistas cobram explicações de Palocci

CRISE NO GOVERNO

Parlamentares e governadores estão incomodados com exposição do governo por causa do silêncio do ministro

Maria Lima e Isabel Braga

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O apoio dado até agora ao ministro Antonio Palocci (Casa Civil) está diminuindo não só entre os aliados mas em seu partido, o PT, onde parlamentares e governadores já não escondem o desconforto e a irritação com o silêncio, o que estaria obrigando a presidente Dilma Rousseff a se expor para defendê-lo, contaminando o governo. Diante da insistência do ministro de não explicar o crescimento de seu patrimônio - contrariando orientação de assessores, de Dilma e do ex-presidente Lula -, os petistas começam a cobrar publicamente que ele se explique, com o argumento de que Palocci está fragilizando o governo perante o mais poderoso dos aliados: o PMDB.

- Essa história diz respeito a um só sujeito: Palocci. Estamos cobrando explicações porque ele é um homem público, era deputado e, agora, é ministro. Por que não vem a público e diz logo o que houve? - reforçou ontem o senador petista Walter Pinheiro (BA), dando voz à insatisfação no PT. - A única ansiedade que nos move é que cada dia surge uma coisa que não sabemos, o caso fica rendendo. Agora, o dinheiro dele não foi para o PT nem para o governo. Pode ser tática dele esperar aval de órgão oficial para vir a público falar.

Amanhã, a Executiva Nacional do PT passará o dia reunida em Brasília para debater a crise. No que depender do presidente do PT, Rui Falcão, o partido não deve divulgar nota oficial.

No PMDB, foi recebida com apreensão a notícia, publicada ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo", de que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) relatou declaração de Palocci de que recebeu R$1 milhão por consultoria sobre fusão de empresas. Suplicy, ao falar das explicações dadas por Palocci no encontro com petistas e Dilma semana passada, disse que o ministro contou que a Projeto fazia três tipos de consultoria: palestras para empresas privadas; para empresas públicas, sem remuneração; e assessoria a empresas em processo de fusão, mediante taxa de sucesso econômico e financeiro. Num desses casos, se a fusão tivesse sucesso, poderia receber até R$3 milhões, mas, como teve de fechar a empresa, só teria recebido R$1 milhão.

- Esse povo do PT tá (sic) ficando doido? Isso é uma bomba, se ficar comprovado que houve ajuda de órgãos de controle nesse caso de fusão. Se o Ministério Público resolver instaurar inquérito? Aí já era! O Palocci estaria morto, ninguém consegue segurar aqui no Congresso - disse um líder governista ao saber das declarações de Suplicy.

Suplicy foi bombardeado pelos colegas e sofreu repreensões na bancada. Tentou em vão falar com Palocci. Sem conseguir, mandou-lhe uma carta. Passou toda a tarde cabisbaixo e triste.

- Eu só causo preocupação para eles! - penitenciava-se, depois dos puxões de orelha.

- Temos de aguardar o Ministério Público. Qualquer opinião agora, ou rememoração de fato ocorrido, em vez de ajudar, cria conflitos - ponderou o líder do PT no Senado, Humberto Costa.

Nos bastidores, todos criticam o que chamam "postura autista" de Palocci. Outro governador petista reclama, no mesmo tom de Jaques Wagner (BA), que já tinha estranhado o volume de dinheiro envolvido no caso.

- Há um desconforto geral desnecessário. O fato em si é difícil de entender e explicar. Expôs Dilma, que teve de vir a público defender seu ministro, enquanto Palocci age como se não fosse com ele. Estive numa reunião com ela, e Luiz Sérgio estava mais constrangido que ele, que estava com cara de paisagem. Ninguém tem perfeita segurança do que ocorreu. Ele não explica nada! - diz o governador. - A imagem mais fiel ao caso é um cara vestido com macacão largo, camisa florida, chapéu de florzinha, nariz vermelho e, no fundo, o circo pegando fogo.

Na bancada do PT na Câmara, os deputados estão divididos entre os que cobram mais explicações e outros que entendem que o momento é de união e defesa de Palocci. Muitos estão vendo nas manifestações contrárias ao ministro o tom de quem quer a vaga de Palocci e dos demais coordenadores da articulação política do governo.

- É importante que ele fale. O tempo de silêncio já passou. A bancada continuará defendendo Palocci, sabe que a oposição quer desestabilizar o governo. Mas Palocci precisa falar, dar entrevista, escolher a melhor forma - disse um petista.

Colaboraram: Leila Suwwan e Tatiana Farah

FONTE: O GLOBO

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