sexta-feira, 29 de julho de 2011

BC admite que inflação só ficará perto de centro da meta em 2013

BC admite que alvo agora é 2013

Ata da reunião do Copom já não prevê convergência da inflação para meta nem no ano que vem

Martha Beck

O Banco Central (BC) já não está mais comprometido com o plano de fazer a inflação convergir para 4,5% (centro da meta) em 2012. A ata da reunião de 20 de julho do Comitê de Política Monetária (Copom) - na qual a Selic foi elevada em 0,25 ponto percentual, passando para 12,5% ao ano - sinaliza que o foco da autoridade monetária passou a ser colocar a inflação em trajetória de queda, mesmo que o centro da meta só seja atingido em 2013. Além disso, o BC indicou que vai interromper a alta dos juros.

A ata de julho diz que as decisões do BC serão tomadas "com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas". Já a ata da reunião anterior dizia claramente que os juros seriam calibrados "por um período suficientemente prolongado", o que seria "a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta em 2012".

Ainda assim, o documento de julho afirma que o cenário de inflação hoje é mais favorável e indica que o ciclo de alta dos juros pode ter chegado ao fim. Entre os indicadores que reforçam esse quadro estão uma acomodação parcial dos preços de commodities desde abril e a concentração atípica de reajustes de preços administrados no primeiro semestre de 2011.

Além disso, o BC destaca que as medidas de restrição ao crédito tomadas pelo governo desde dezembro do ano passado para ajudar a conter o consumo e a própria elevação dos juros ainda continuarão tendo efeitos sobre a atividade econômica.

Analistas veem fim da alta dos juros

"No âmbito interno, ações macroprudenciais e, principalmente, ações convencionais de política monetária recentemente implementadas ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços, processo que tende a se acentuar neste semestre. Embora incertezas elevadas e crescentes que cercam o cenário global e, em escala marcadamente menor, o cenário doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões inflacionárias recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação mostra sinais mais favoráveis", afirma a ata.

Em outro trecho, o documento destaca que "os desenvolvimentos no âmbito fiscal e parafiscal são parte importante do contexto no qual decisões futuras de política monetária serão tomadas". Para o professor de Finanças do Ibmec Gilberto Braga, a ata aponta que o BC não elevará mais os juros, preferindo usar outros instrumentos, como política fiscal e mais ações para segurar o consumo, para tentar fazer a inflação convergir o mais rapidamente possível ao centro da meta:

- A ata mostra que os juros já chegaram a um patamar que o BC considera como razoável. Ao dizer que vai trabalhar para uma convergência tempestiva da meta, ele sinaliza que vai usar outros instrumentos para chegar a esse objetivo.

Para o estrategista-chefe para América Latina do WestLB, Roberto Padovani, a ata deixou claro que o BC está menos preocupado com inflação:

- Eu acredito que BC não deve mais subir os juros este ano.

Segundo o texto, o cenário de referência do Copom manteve sua projeção para o IPCA em 2012, com o índice ainda acima do centro da meta. Já para 2013, houve aumento da projeção para o primeiro semestre, mas o indicador foi mantido ao redor do centro da meta. Em 2011, o Copom acredita que a inflação começará a convergir para 4,5% a partir do quarto trimestre.

- A retirada de todo o parágrafo que falava da alta (dos juros) suficientemente prolongada e, inclusive, do parágrafo que prevê inflação para o centro da meta em 2012 é crítica, porque indica que a a inflação deve vir para o centro da meta só em 2013 - disse a economista da Tendências Consultoria Alessandra Ribeiro.

A ata ressalta que a política fiscal tem sido importante para reduzir a demanda e segurar os preços: "Desde o início deste ano, importantes decisões foram tomadas e executadas e reforçam a visão de que está em curso um processo de consolidação fiscal".

Mas o Copom alerta para o risco que as negociações salariais que serão feitas no segundo semestre de 2011 podem trazer: "Um risco muito importante reside na possibilidade de concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade e suas repercussões negativas sobre a dinâmica da inflação".

No cenário externo, a ata ressalta uma deterioração adicional dos mercados internacionais por causa da incerteza em torno da recuperação da atividade econômica global. Esse movimento também contribui para o fim do ciclo de alta dos juros. A autoridade monetária não quer correr o risco de ver a economia brasileira desaquecer demais por uma combinação entre o cenário externo ruim e os esforços domésticos de combate à inflação.

O texto, no entanto, não chega a contemplar os riscos de uma moratória na dívida americana em função das dificuldades do presidente Barack Obama em negociar com o Congresso um aumento do teto da dívida do país.

Colaborou Paulo Justus

FONTE: O GLOBO

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