terça-feira, 26 de julho de 2011

Como os pontos de crack:: Eliane Cantanhêde

Mais de 50 organizações em todo o mundo colhem milhões de assinaturas pelo fim dos paraísos fiscais para levar à reunião do G-20 (países ricos mais os emergentes), em novembro, na França.

Aqui, no Brasil, a campanha será lançada hoje pela ONG Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), que reuniu dados assustadores sobre como o país perde quando empresas driblam a Receita e despejam bilhões de dólares nas Ilhas Cayman, Bahamas, Ilhas Virgens Britânicas ou Luxemburgo.

Eles agasalham dinheiro ilegal -ou porque não pagou imposto na origem ou por ser fruto de desvios públicos, contrabando, tráfico de drogas... Depois dos paraísos fiscais, volta limpo e legal.

Os países mais afetados são emergentes ou pobres, como os africanos, onde ditadores se escondem sob variadas ideologias para dilapidar os recursos naturais, enriquecer muitas gerações da família e manter o povo faminto, analfabeto e submisso. Paraísos fiscais são, pois, instrumentos de sonegação fiscal, de falta de educação e saúde e até de autoritarismo.

No rastro de cada CPI brasileira (quando eram para valer) e das investigações cabeludas da PF sempre surgiam paraísos fiscais, especialmente as Ilhas Cayman. Mas, mais do que os corruptos, interessam os corruptores. Boa parte das empresas recorrem aos paraísos fiscais para fugir de suas responsabilidades com o Brasil e com os brasileiros. Estudos (precários, é verdade) estimam que a sonegação corresponde a 9% do PIB. O gasto público com educação é de 5%.

A campanha tem algo de juvenil, quixotesco ou nórdico, mas é, no mínimo, educativa e pede que os líderes do G-20 incluam o tema na agenda e sugiram medidas pró-transparência e antissonegação.

Seria o fim da hipocrisia, pois os paraísos fiscais são como pontos de crack: todo mundo sabe onde ficam, para que servem e o mal que causam, mas ninguém faz nada.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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