quarta-feira, 13 de julho de 2011

Dificuldades em perspectiva:: Rosângela Bittar

A administração da ampla aliança política que conduziu a candidata Dilma Rousseff à Presidência ia ser muito difícil: não havia um só político enganado sobre isso, após a eleição de 2010. A expectativa, contudo, era que a intensidade dos problemas no relacionamento com cada partido não impedisse a presidente de governar por períodos relativamente longos, no tempo adequado à formulação de algum programa ou medida e seu lançamento. Com o que vem acontecendo, porém, vê-se que será interminável a sucessão de crises que não deixam o governo respirar para inverter a onda e sair da defensiva.

Nem bem solucionado o caso PT, partido que entrou em ebulição antes da queda de Antonio Palocci e continuou fervendo semanas depois, até que as substituições nos gabinetes do Palácio do Planalto fossem feitas, eclodiu o caso PR, escândalo agudo de corrupção que culminou com demissões e só agora começa a entrar em banho-maria. O PMDB, que antes de o PT empunhar armas já vinha dando sinais de extrema insatisfação, demonstrada na votação do Código Florestal, protegeu-se do vendaval mas agora acredita que é chegado o momento de retomar as negociações várias vezes interrompidas para delinear uma dimensão real do seu tamanho nessa aliança.

O PMDB engoliu em seco o caso Palocci. Entrou para a história do partido a humilhação de ter defendido Palocci até a véspera da queda, da tribuna, como uma missão do governo que queria mantê-lo, e não ter sido avisado nem da demissão nem da substituição. Ruminou o fato três, quatro dias, a presidente conversou com o vice-presidente e presidente de honra do partido, e o PMDB hibernou na crise do PR.

A aliança tem mais capítulos de tormenta que de bonança

Agora pretende retomar as discussões sobre o que lhe interessa, "partilhar a gestão do governo", como definiu uma liderança. "Isso significa participar, saber de tudo, ser informado, consultado, afinal é o maior parceiro, sem o qual as relações com o Congresso ficam difíceis". E também, claro, ter pemedebistas nos cargos importantes.

Uma das referências do PMDB para explicar suas razões é o Ministério das Minas e Energia, cujo titular é o ministro Edison Lobão (PMDB-MA). Quando só o ministro é do partido, alega-se, é como se o partido não tivesse a Pasta. O "ministro, só, pode muito pouco".

Os cargos das Minas e Energia são ocupados, pelo menos em 60%, pelo PT. Isso vem desde o primeiro governo Lula, quando saiu uma administração adversária (PSDB/PFL), entrou o PT com a ministra Dilma Rousseff, saíram todos do governo anterior e o PT ocupou. Lá está até agora, no governo Dilma, mesmo com o Ministério sob o comando do PMDB. Os demais partidos da base ganharam também ali seu quinhão, mas o PMDB acredita que é ele, e não o PT, que deveria ficar com a maior parte da administração.

Hoje, segundo o PMDB, os cargos de diretor de estatais a secretários da administração direta estão com o PT. A Eletrobrás está com o PT. Para Furnas também foi um indicado do Planalto. Petrobras nem se fala. Na Chesf está o PSB, aliás desde que Miguel Arraes era vivo. O partido admite ter feito unzinho: o diretor geral do DNPM. E tem um diretor da área internacional da Petrobras, indicado pelo PMDB de Minas, desde Lula. "Não pode estar só um partido (PT) em todos os lugares, esse é um problema central da aliança", diz um pemedebista de cúpula.

Dilma retirou 100% do apoio tímido que vinha dando à ideia de participação do BNDES na fusão entre o Pão de Açúcar e o Carrefour porque desde o início achava que o governo estaria entrando numa fria e não conseguiu deter as negociações na hora certa.

Quando conversou com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, Dilma pediu cautela. Preocupava-a o caráter polêmico da negociação. Diante da repercussão, pediu mais cautela que antes, e tanto o Planalto quanto o banco começaram a sugerir que o BNDES estava fora do negócio, só honrando o apalavrado se houvesse um acordo entre os sócios Pão de Açúcar e Casino.

Na segunda conversa com Luciano, a presidente avisou que o banco não deveria esperar pelo acordo entre os sócios, sepultando o negócio. A avaliação dos próximos à Dilma é que o governo não deveria ter dado apoio à operação, mas o presidente do BNDES já havia avançado autonomamente.

Dilma não gostou mesmo de duas situações: a ousadia do BNDES, fazendo negociação de péssima repercussão sem dar ciência de cada passo e suas consequências à presidente. "Luciano Coutinho pisou fora da risca", diz-se no Planalto. Outro registro negativo foi a ousadia do presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, Abílio Diniz, um dos quatro empresários da Câmara de Gestão coordenada por Jorge Gerdau para aperfeiçoar métodos e programas da administração em áreas críticas. Abílio se encontrava em viagem ao exterior no momento em que, por "coincidência", a primeira reunião da Câmara foi convocada, mas voltou às pressas e apareceu, inesperadamente, no Planalto, na intimidade do poder, no dia em que o negócio se tornou público. A demonstração de força constrangeu enormemente as autoridades do governo.

O ministro Paulo Bernardo está profundamente indignado, reativo e inconformado com notícias que tentaram vinculá-lo às irregularidades cometidas por autoridades dos Transportes a partir de suposta intervenção sua, quando ministro do Planejamento, nas autorizações de aditivos a contratos daquela área. Considerou uma indignidade, um fuzilamento anônimo e gratuito por intermédio da imprensa, "insinuações covardes". Como ministro das Comunicações, é na sua gaveta que está a proposta sobre o controle social da mídia.

A greenpeaciática performance de Marina Silva, fragmentando seu desligamento do PV em vários eventos, já tem orientação do marketing político e são peças de uma campanha que vai até 2014. Tal qual as campanhas em que o protagonista foi Lula, que lhe serve de inspiração e exemplo.

Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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