quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dilma amplia faxina e varre mais seis nos Transportes

Depois de afastar sete pessoas do Ministério dos Transportes por denúncias de corrupção, incluindo o ex-ministro Alfredo Nascimento, a presidente Dilma Rousseff demitiu mais seis ontem, todas ligadas ao PR. O partido reagiu cobrando também a demissão de um petista, o diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, Hideraldo Caron. Um técnico dos Transportes explicou que as demissões de ontem - três servidores dos Transportes e outros três ligados ao Dnit - quebram a "espinha dorsal" de dois grupos que estavam à frente do órgão. Luiz Antonio Pagot, o diretor-geral afastado que será demitido do Dnit quando voltar de férias, se disse "constrangido e indignado" com a crise. A oposição tenta convocar o atual ministro, Paulo Sérgio Passos, para se explicar no Congresso ainda durante o recesso
Faxina nos Transportes continua
Dilma exonera mais seis funcionários ligados ao PR; novas demissões ainda virão
Roberto Maltchik
Apresidente Dilma Rousseff desarticulou a rede que conectava o Partido da República (PR) ao comando das decisões sobre a execução de obras no Ministério dos Transportes e no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Foram exonerados ontem seis entre os principais operadores do ex-ministro Alfredo Nascimento, presidente do PR, e do deputado Valdemar Costa Neto (PR-SP), secretário-geral da legenda. Apenas um foi exonerado a pedido. Desde o início da crise no setor, deflagrada por denúncias de corrupção, cobrança de propina e inchaço no orçamento de obras públicas, 13 pessoas já caíram ou estão afastadas de suas funções. E o Dnit continua acéfalo, sem um diretor-geral substituto, funcionando com apenas quatro dos sete diretores.
A cúpula do PR já aguardava o novo desdobramento da "faxina" que Dilma resolveu fazer no setor, responsável pelas mais importantes obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O efeito nas relações do governo com o partido só será medido depois que forem efetivadas outras demissões já acertadas, especialmente a do diretor de Infraestrutura Rodoviária, o petista gaúcho Hideraldo Caron. A demissão do petista seria uma forma de evitar uma radicalização do PR.
O petista convive com a presidente desde a época em que era diretor do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) no Rio Grande do Sul, durante o governo Olívio Dutra (1999-2002). Suas contas, à frente do Daer, foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Cronograma do PAC é afetado
Ontem, Caron participou, com o ministro Paulo Sérgio Passos, de reunião técnica para preparar o próximo balanço do PAC.
A onda de demissões no Dnit e no Ministério dos Transportes começa a afetar o cronograma do governo em relação ao PAC. Com o alto escalão do Dnit desfalcado, o ministro Paulo Sérgio Passos passou a tarde ontem em reunião para tratar das obras do setor no próximo balanço do PAC - a data ainda não foi confirmada justamente por causa do impasse na área.
Ontem, líderes do PR não escondiam o descontentamento com as novas demissões. O PR não foi consultado previamente e muito menos chamado para fazer novas indicações. O tom do partido foi de cautela em relação às decisões do novo ministro, ainda que com recados discretos.
- Só queremos que haja um balança igual para todos. E que os servidores afastados tenham o direito de defesa. Não estamos fazendo nenhuma indicação. As decisões foram tomadas pelo ministro Paulo Sérgio Passos. Mas não tenho um julgamento do trabalho dele até o momento - afirmou o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG).
Na nova leva de demitidos, cujas exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União de ontem, está o coordenador-geral de Operações Rodoviárias do Dnit, Luiz Cláudio dos Santos Varejão, ligado a Caron. O próprio Caron deverá ser afastado. Sua saída é exigida pelo PR.
A limpeza nos escalões inferiores do setor começou depois de consultas da presidente Dilma, segunda-feira, a Paulo Sérgio Passos e ao controlador-geral da União, Jorge Hage, e teve como objetivo romper a linha de comando construída pelo PR ao longo dos dois governos Lula.
Um técnico dos Transportes explicou que as demissões quebram a "espinha dorsal" de dois grupos que até agora estiveram à frente do Dnit. Na lista aparecem três servidores dos Transportes e outros três ligados ao Dnit.
O ex-secretário de Fomento para Ações de Transportes da pasta Darcy Humberto Michiles não só é filiado ao PR como é líder do partido no Amazonas, tendo sido tesoureiro de campanhas do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR). Ele foi demitido a pedido. Por meio de Michiles, Nascimento controlava a atuação do ex-coordenador-geral de Administração Geral do Dnit Mauro Sérgio Fatureto - este era responsável pela contratação de terceirizados, compras administrativas e obras físicas na sede e nas superintendências do órgão.
Já Varejão, o coordenador-geral de Operações Rodoviárias, integrava outro grupo, ligado ao deputado Sandro Mabel (PR-GO) e a Valdemar. Era subordinado a Hideraldo Caron e controlava milionários contratos para a aquisição de balanças, radares e sinalização rodoviária.
Também foi demitido José Osmar Monte Rocha, assessor temporário do Ministério dos Transportes. Sua demissão ocorreu no mesmo dia em que o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou reportagem na qual aponta que Rocha deu atestado para que o Dnit contratasse empresa supostamente de fachada por R$18,9 milhões.
No ministério, o subsecretário de Assuntos Administrativos da Secretaria-Executiva, Estevam Pedrosa, também demitido ontem, foi indicado por Nascimento. Também caiu Maria das Graças de Almeida, que trabalhava no Fundo Nacional de Infraestrutura de Transportes e era subordinada ao ex-secretário Darcy Humberto Michiles.
De acordo com a assessoria da pasta, as demissões fazem parte dos ajustes anunciados pelo ministro Paulo Sérgio Passos quando tomou posse na semana passada.
Colaboraram: Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti
FONTE: O GLOBO

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