terça-feira, 26 de julho de 2011

Diretor-geral do Dnit pede demissão e ataca governo

Pagot deixa cargo e dá novo recado ao governo

Na despedida, dirigente do Dnit faz discurso, evita o ministro, e critica CGU e a presidente

Vannildo Mendes

 BRASÍLIA - Em discurso inflamado de despedida, em que destilou ressentimento e mandou recados velados ao governo, o engenheiro Luiz Antônio Pagot comunicou ontem de manhã aos servidores e auxiliares do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) seu pedido de demissão "irrevogável".

O ex-diretor-geral disse não aceitar a pecha de corrupto e rebateu o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, para quem o órgão é um antigo foco de corrupção. "Discordo do ministro Jorge Hage, quando diz que o Dnit tem o DNA da corrupção. Aqui, o que há é o DNA do trabalho e da dedicação dos servidores."

Pagot é o 17.º dirigente a cair em meio à crise que se arrasta desde o começo de julho, com a revelação de um esquema de corrupção, tráfico de influência e cobrança de propina que o PR teria montado no Ministério dos Transportes. O ministro Alfredo Nascimento foi um dos primeiros a pedir demissão.

Indiretamente, Pagot criticou a presidente Dilma Rousseff, que, após as denúncias, exigiu a reestrutura completa do ministério - a seu ver, um setor caótico e ineficiente. Pagot afirmou que o Dnit executa um orçamento de mais de R$ 1 bilhão por mês e ressaltou que só se consegue isso com trabalho e eficiência.

"Somos o órgão de maior execução orçamentária da Esplanada", gabou-se. "Somos líderes absolutos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e temos o dobro da execução da Caixa."

Pagot disse que conseguiu esses resultados num órgão sucateado - "nem computadores adequados temos" -, com um terço do efetivo necessário e sem condições mínimas de trabalho. Disse que a conquista não foi mérito exclusivo seu, mas de "todos os funcionários e assessores".

Pagot informou que o Dnit tem 1.156 contratos em execução no País e seria impossível esperar que não houvesse alguma irregularidade num volume de obras tão grande. Mas alegou não haver uma denúncia sem apuração ou recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) que não fosse atendida ou irregularidade corrigida.

Comportamentos. Com capacidade para 500 pessoas, o auditório estava lotado. Pagot foi aplaudido de pé e saiu de forma apoteótica, cumprimentando os servidores até a porta de saída.

Mas ele não teve a mesma deferência com o ministro Paulo Sérgio Passos: mandou emissários lhe entregarem uma carta comunicando que havia suspenso as férias e pedido demissão em caráter irrevogável. Outra carta foi entregue pelo próprio Pagot às 11h ao amigo Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, logo após o discurso. O ministro disse que informou o fato à presidente e se negou a divulgar o teor da carta.

A luta de Pagot para se salvar da degola teve conotação quixotesca. O ex-diretor-geral do Dnit estava na primeira leva de dirigentes a serem afastados. Mas antecipou-se à degola e pediu férias em 4 de julho, evitando ser notificado. Sua estratégia incluiu audiências no Congresso e contatos com os partidos da base. Ele agarrou-se também a Carvalho, seu avalista dentro do governo em nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve comportamento ambíguo no episódio.

Nos momentos mais tensos, Pagot mandou recados velados de que sabia demais e poderia haver retaliações. Dilma não se intimidou: desautorizou as iniciativas de Carvalho para salvar o dirigente e deixou claro que ele estava fora. Mais denúncias e afastamentos vieram, e Pagot sentiu faltar chão sob os pés. No fim de semana decidiu jogar a toalha, mesmo sem ter negociado um prêmio de consolação.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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