quarta-feira, 27 de julho de 2011

Dólar, o que fazer?:: Míriam Leitão

Se a conta for feita com a inflação acumulada do Brasil e dos Estados Unidos, o real hoje está 34% mais valorizado do que em janeiro de 1995, quando o câmbio controlado era arma usada para derrotar a hiperinflação no Brasil. Este ano, o real já subiu 7,74%, mas não foi a moeda que mais subiu, e sim o franco suíço. As medidas do governo não têm conseguido sequer reduzir o problema.

O mundo das moedas reflete uma série de questões. Uma das razões que têm derrubado o dólar em relação à maioria das moedas é a política monetária americana. Como se não bastasse o excesso de emissões, há a incerteza em relação ao futuro da dívida dos Estados Unidos, se haverá calote ou não na semana que vem.

Mas se abstrairmos todos os outros fatores conjunturais que influenciam na valorização de uma moeda, e calcularmos só a inflação de lá para cá do Brasil e dos Estados Unidos, o resultado é, segundo o economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria, que o câmbio brasileiro está 34% mais valorizado do que naquela época de paridade.

O economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da consultoria MB Associados, acha que a queda mais recente do dólar é resultado da grande incerteza na Europa e nos Estados Unidos, o que faz com que haja uma procura por moedas que sejam reserva de valor. O real é uma dessas, mas não a única.

- Se olharmos o franco suíço, o dólar canadense, a coroa norueguesa, a coroa sueca e o dólar australiano, vamos ver o mesmo movimento de valorização. No caso do franco suíço, há uma complicação extra porque bancos austríacos e húngaros concederam empréstimos lastreados nessa moeda, o que significa que os devedores desses bancos tiveram um aumento de 30% da sua dívida em cerca de dois anos.

José Roberto acha que todos os setores sentem o câmbio:

- Não se trata de discutir desindustrialização ou não, é que com o dólar como está até setores dinâmicos estão sendo afetados.

E o que se pode fazer? José Roberto acha inescapável aquela lista conhecida da qual o governo tem tentado fugir. Reduzir fortemente o déficit público, evitar contabilidade criativa para inventar superávit, como aconteceu no ano passado, para permitir a queda da taxa básica de juros.

Neste momento, o principal fator de desvalorização do dólar é o impasse da dívida americana. Há poucos instrumentos para combater o problema. Existe algo que nunca se pode fazer: o ministro da Fazenda ameaçar tomar medidas cambiais. Isso exacerba e antecipa a tendência.

A indústria tem reclamado, e com uma certa razão, ainda que seja sempre mais complicado do que parece. A mesma indústria acaba se beneficiando disso nas suas importações de matérias-primas, componentes, máquinas e equipamentos.

Para tentar segurar o dólar, o Banco Central tem perdido uma montanha de dinheiro. Bruno Lavieri calcula que o custo de carregamento das reservas brasileiras é de R$50 bilhões. O governo paga 12,5% em sua dívida e o rendimento das reservas em dólar é quase zero, porque o BC usa a maior parte dos dólares para comprar títulos do Tesouro americano, que têm rentabilidade baixíssima, de 2% ao ano. O governo tem uma dívida que custa 12,5% e tem um ativo que rende 2%.

Claro que é vantagem ter reservas altas, como o país viu quando houve a crise externa de 2008, e essas reservas foram parte do arsenal para evitar uma queda maior da economia brasileira. A pergunta feita é: precisa ter US$340 bilhões? Os dados mostram que do começo de 2010 para cá as reservas subiram e o Risco Brasil não caiu, indicando que para o mercado internacional tanto faz ter US$240 bi ou US$340 bi. O fato é: o governo não sabe muito como enfrentar essa questão.

FONTE: O GLOBO

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