terça-feira, 12 de julho de 2011

''Marina foi autoritária'', diz presidente do PV

Após o fim da polêmica com a ex-senadora, Penna já fala em Fernando Gabeira como candidato verde para as eleições presidenciais de 2014

Roldão Arruda

Com a saída da ex-senadora Marina Silva, o PV já começa a se articular para a eleição municipal de 2012. Em entrevista ao Estado, o presidente da legenda, deputado José Luiz Penna (SP), enfatizou ontem que vai reforçar a aliança política dos verdes com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab - que deixou o DEM para montar um novo partido, o PSD. Conta com o apoio dele para lançar como candidato a prefeito da capital o atual secretário do Meio Ambiente, Eduardo Jorge (PV-SP). No Rio, o candidato citado por ele é Fernando Gabeira.

No encontro, Penna mostrou-se aliviado com o fim da polêmica, que se prolongou durante quatro meses, com Marina e o grupo político que a acompanha: "Foi um período muito dolorido. Nós precisávamos de um desfecho. Não dá para querer transformar uma dificuldade interna numa agenda política para o País, como tentaram fazer. O que interessa são os postulados que estamos defendendo e que fazem com que a sociedade caminhe cada vez mais a nosso favor. A quantidade de pessoas que nos procura, com intenção de disputar eleições, é enorme".

Sobre as críticas que vinha recebendo de Marina, de que o PV está engessado numa estrutura de comando verticalizada e autoritária e que é graças a isso que Penna se mantém no cargo de presidente há 12 anos, ele respondeu: "Não mando nem em minha casa. Sou apenas porta-voz do partido. Os conservadores têm dificuldades para nos codificar, devido à nossa experiência original de direção coletiva, horizontal. O grupo político de Marina não digeriu bem isso. Por mais que eu dissesse que precisava consultar o coletivo antes de tomar decisões, eles não levavam em consideração. Traziam propostas autoritárias de afastamento de pessoas que não iam bem. Ora, se uma pessoa segura o partido em determinada região do País há 20 anos, eu preciso sentar e dialogar com ele. Não dá para tratorar o PV".

A Executiva nacional do partido deve se reunir logo após o recesso parlamentar, no início de agosto. Um dos principais assuntos da pauta, segundo Penna, deverá ser a relação com dissidentes que, embora endossem as ideias de Marina e participem do movimento que ela está criando, vão continuar filiados ao PV. O caso mais emblemático é o do deputado federal e fundador da legenda, Alfredo Sirkis (RJ), que se mantém na legenda para não correr o risco de perder o mandato.

"Essa questão é a nossa maior dificuldade no momento", disse Penna. "Aceitar o proposta do Alfredo, de ficar no partido enquanto tiver mandato, porque não tem para onde ir, é aceitar o papel de barriga de aluguel. O Alfredo é um parceiro histórico, não é alguém de passagem pelo partido, mas devemos conversar. O PV não quer ser barriga de aluguel para ninguém."

O outro tema mais importante da reunião deve ser a eleição municipal de 2012. "Vamos tirar uma agenda positiva, porque já estamos em pleno processo de eleição", disse Penna.

No caso de São Paulo, ele se entusiasmou ao falar da aliança política que mantém há anos com Kassab. "A questão ambiental é uma das marcas do governo do Kassab. Ele multiplicou por seis o orçamento da Secretaria do Meio Ambiente, o que é uma loucura. Por outro lado, a administração do Eduardo Jorge é irretocável: vamos fechar o mandato com mais de cem parques em São Paulo - e tínhamos apenas 30. Nós queremos continuar essa aliança, que deu ao PV a chance de produzir para a sociedade. Queremos que o Kassab apoie a candidatura de Eduardo Jorge e ele vai fazer isso."

O nome de Fernando Gabeira também foi citado diversas vezes, como candidato em 2012 e também em 2014. Penna acredita que é o melhor nome para substituir Marina na corrida presidencial.

 A herança de Dilma é difícil

TRÊS PERGUNTAS PARA...

José Luiz Penna

1.Como vê a crítica de Marina aos atuais partidos, que teriam perdido o contato com a sociedade?

É muito ruim esse esforço de desmoralização da vida partidária e política. Não acho estratégico, porque não estamos assim tão distantes da ditadura militar. Temos que lutar para que os partidos tenham o melhor desempenho possível.

2. O que acha do governo de Dilma Rousseff?

Ainda não sabemos se vai conseguir fazer um governo de acordo com a sua própria visão das coisas ou não. As dificuldades da herança que recebeu são grandes e a aliança que a elegeu é complicada, para não dizer atrasada. Ela tem feito sinais interessantes de mudança, como a aproximação com FHC e com o PV - no debate do Código Florestal.

3.Por que o senhor decidiu falar só agora? Por que não debateu as propostas apresentadas publicamente por Marina e seu grupo político?

Não quisemos bater boca na mídia. Mas fizemos gestos de boa vontade, como na ocasião em que a colocamos na abertura do programa de dez minutos do PV na televisão. Houve grandeza da nossa parte. Esperei muito que Marina fizesse como Pedro I e dissesse aos verdes: "Diga ao povo que fico". Mas ela não fez.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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