quinta-feira, 7 de julho de 2011

Marina lança movimento em ato de saída do PV

Cristiane Agostine

São Paulo - "Não tenho mais a ilusão da juventude, do partido perfeito, mas acredito que homens e mulheres de bem podem aperfeiçoar as instituições". A frase foi dita por Marina Silva ao filiar-se ao PV em agosto de 2009, dias depois de sair de deixar uma trajetória de 30 anos no PT. Hoje, menos de dois anos depois de ingressar no partido e de concorrer à Presidência pela legenda, a ex-senadora anunciará a saída da sigla, junto com aliados.O evento, em São Paulo, deve se transformar em um protesto ao presidente nacional do PV, deputado José Luiz Penna (SP) e à burocracia partidária. Os aliados da ex-senadora pretendem reunir cerca de 300 pessoas, entre lideranças políticas e sindicais, empresários e representantes de organizações da sociedade civil. O comando da sigla, no entanto, minimiza o impacto da saída da ex-senadora e critica o grupo de Marina pela crise interna do partido.

Além de Marina, devem anunciar a desfiliação os empresários Guilherme Leal (vice na chapa presidencial) e Ricardo Young, o ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente João Paulo Capobianco, o ex-presidente do Ibama Basileu Margarido e o ex-deputado Luciano Zica. "Sairão todos que entraram com Marina em 2009", disse Young. Fora do partido, se articularão em um movimento e só deverão criar um partido depois de 2012.

Pelo menos dois expoentes continuarão na sigla: o deputado Alfredo Sirkis, vice-presidente do PV e presidente do diretório do Rio, e o ex-deputado Fernando Gabeira. Sirkis teme a perda do mandato e Gabeira quer disputar a Prefeitura do Rio.

A saída de Marina se dá depois de meses de divergências com a direção do PV. Desde a eleição de 2010, os aliados da ex-senadora buscam espaço na estrutura partidária, mas enfrentam a resistência do presidente José Luiz Penna. A briga interna intensificou-se no começo deste ano, quando o grupo de Penna decidiu mantê-lo no cargo, adiando a renovação do comando da legenda. O deputado preside o PV desde 1999.

Os "marineiros" reclamam da falta de democracia interna. "O acordo feito em 2009 não foi cumprido", disse Young. "Fizemos o que pudemos, mas o PV insistiu em continuar como cartório. Não podemos nos confinar em um partido arcaico", afirmou. Entre as críticas, está o "expurgo" a dirigentes ligados a Marina. Citam como exemplo São Paulo e o afastamento de Maurício Brusadin da presidência do diretório.

No PV, os diretórios são comandados por comissões provisórias, nomeadas por Penna. Os "marineiros" criticam também a ausência de diálogo com o dirigente.

A direção do PV, no entanto, reclamou da "falta de compreensão dos aliados da ex-senadora. Dizem que abriram espaço na Executiva para aliados de Marina e introduziram uma "cláusula de consciência" no programa do PV, para que a ex-senadora pudesse divergir da sigla por razões religiosas, em temas como aborto e união de homossexuais.

"Lamento pela saída de Marina, mas seus aliados fizeram um tensionamento artificial dentro do partido", disse o deputado Sarney Filho (MA). "Deveria haver mais compreensão. As mudanças internas partidárias estão sendo feitas, mas alguns não entenderam a complexidade do funcionamento partidário", afirmou. Sarney Filho foi um dos articuladores da filiação da ex-petista ao PV. "Marina foi levada pelo grupo", opinou. Procurado, Penna não quis falar sobre a crise no PV.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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