quinta-feira, 28 de julho de 2011

Nos EUA, o tempo está acabando

Em mais um dia de corrida contra o relógio, os republicanos adiaram para hoje a votação de uma proposta para cortar gastos públicos e conter o déficit. Os Estados Unidos lutam para elevar o teto do endividamento no Congresso até o dia 2 de agosto para que não entrem em moratória. O presidente Obama não quer aumentar o limite por decreto

Republicanos alteram proposta sobre dívida

Casa Branca argumenta que plano democrata é mais abrangente no corte de gastos, com US$2,2 trilhões

Fernando Eichenberg*

WASHINGTON. A Casa Branca lançou ontem uma nova ofensiva para sobrepor seu plano de aumento do teto da dívida federal, hoje em US$14,3 trilhões, à proposta dos republicanos, que deverá ser debatida hoje no plenário da Câmara. Os democratas acusam a oposição de desperdiçar um tempo precioso, pois o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, já anunciou sua intenção de vetar o projeto de lei dos republicanos, de improvável aprovação no Senado.

A proposta alterada ontem pelo líder da maioria republicana na Câmara, John Boehner, prevê US$917 bilhões de cortes de gastos públicos em dez anos e uma elevação do limite da dívida de US$1 trilhão - o que garantiria recursos para o Tesouro americano por apenas mais seis meses. Entre seus argumentos, o governo usou o relatório do Escritório de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), que apontou um corte superior, de US$2,2 trilhões, se adotada a proposta do líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid.

Obama rejeita recorrer a emenda constitucional

Na véspera da possível votação na Câmara, os líderes republicanos ainda não estavam seguros de poder contar com as 217 vozes necessárias para aprovar a proposta, que tem a oposição da ala mais conservadora do partido. Em reunião fechada, Boehner convocou os deputados republicanos a "arriscar o traseiro" e votar por um aumento da dívida federal de curto prazo.

- A cada dia que ele (Boehner) passa impondo seus desejos na reunião de líderes de seu partido, adernamos cada vez mais perto de um catastrófico calote - advertiu o senador democrata Charles Schumer.

Mas o líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, defendeu a proposta de Boehner:

- Continuo comprometido como sempre em resolver a crise de uma maneira que nos permita evitar o calote sem elevar impostos e cortar gastos sem truques orçamentários. Só há uma opção que faz isso, e é a que Boehner apresentou - afirmou.

Ontem, Obama rejeitou a sugestão de parlamentares democratas para ignorar os debates no Congresso e invocar a 14ª emenda da Constituição americana para elevar o teto de endividamento federal. A emenda diz que a dívida pública dos EUA, autorizada pela lei, "não deve ser questionada".

- Nós avaliamos essa possibilidade, mas essa não é uma opção - descartou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.

Em depoimento ontem na Comissão de Serviços Financeiros da Câmara, o presidente da agência de classificação de risco Standard&Poor"s, Deven Sharma, disse não acreditar na hipótese de uma moratória da dívida americana, mas não descartou o rebaixamento do rating do crédito soberano dos EUA, hoje com a nota máxima, "AAA".

- Baixar a nota não significa que o país vá entrar em default (calote), mas que aumentaram os seus riscos - afirmou Sharma.

Analistas discordam de data-limite de 2 de agosto

Para o economista Michael Mussa, do Peterson Institute for International Economics, uma alteração do rating para "AA" fará pouca diferença.

- O que as agências de classificação de risco pensam sobre o governo dos EUA e a administração de suas finanças não é particularmente importante. No fundo, os EUA são bem conhecidos em suas forças e fraquezas.

O Barclays Capital Research estimou que o governo terá recursos suficientes para pagar suas obrigações até 10 de agosto, conforme estudo baseado em dados do Tesouro, que apontam US$14 bilhões adicionais na arrecadação até meados deste mês. Segundo os cálculos anteriores do Barclays, faltariam US$2 bilhões em caixa para o pagamento de US$32 bilhões em débitos no próximo dia 3. A Stone & McCarthy Research Associates e a Wrightson ICAP preveem fundos federais para segurar as contas até o dia 15 de agosto. Já o Centro de Políticas Bipartidárias do Congresso (BCP, na sigla em inglês) calcula que entre os dias 2 e 10 agosto o governo não terá mais dinheiro para efetuar os pagamentos devidos.

A Casa Branca voltou a afirmar ontem que a data-limite para uma eventual moratória é 2 de agosto.

- E ainda que à meia-noite de 2 de agosto não nos transformemos todos em abóboras, perderemos, como país, nossa autoridade de tomar emprestado pela primeira vez em nossa História. E isso seria muito, muito ruim - ressaltou o porta-voz Jay Carney.

Para Mussa, o governo terá de recorrer a um certo contorcionismo para cobrir o buraco de cerca de US$135 bilhões nas contas no mês de agosto.

- É improvável que se deixe de pagar os juros dos títulos do Tesouro. Poderá ocorrer um adiamento temporário, mas não deverá se prolongar, e serão necessários cortes de outros pagamentos. Mas não acredito numa moratória. Se ocorrer, nenhum político de Washington conseguirá se reeleger. A noção de não elevar o teto da dívida é completamente absurda - afirmou o economista.

(*) Com agências internacionais

FONTE: O GLOBO

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