sexta-feira, 1 de julho de 2011

O BNDES paga a conta novamente :: Roberto Freire

O anúncio da fusão entre os supermercados Pão de Açúcar e Carrefour, bancada em 85% por dinheiro público, do BNDES, é mais uma demonstração do desvio de função de um banco que deveria financiar o desenvolvimento industrial do país, mas se dedica, nos governos Lula e Dilma a aportar enormes quantias de recursos na formação de grandes conglomerados privados, com a justificativa esfarrapada de defender o nacionalismo econômico.

Prática que vem do tempo do regime militar, que usava o Estado para criar o "Brasil grande", das empresas privilegiadas pelo governo de plantão.

O BNDES já financiou, dentre outros, a fusão, ao custo de R$ 10 bilhões saídos do bolso dos contribuintes, dos frigoríficos Bertin, JBS e Friboi; bancou a compra da Brasil Telecom pela Oi, gastando R$ 2,5 bi; a fusão dos grupos Sadia e Perdigão, que concentrou 40% do mercado de alimentos prontos nas mãos da Brasil Foods, a empresa resultante da junção, e onde o banco aplicou cerca de R$ 2 bilhões para aporte na Sadia. É fácil para os amigos do governo fazer grandes negócios.. O BNDES paga a conta!

Mas e o brasileiro, o que ganha com a formação desses trustes? O governo, ao defender o aporte de R$ 4 bilhões na fusão do Pão de Açúcar como Carrefour, diz que é importante e estratégico para o país. Eu não entendo essa estratégia de concentrar 30% do mercado nacional de varejo na nova empresa e colocar o desemprego na antessala dos trabalhadores de ambos os supermercados.

Não vamos sonhar que após a fusão os empregos serão somados.

Onde houver uma loja Pão de Açúcar vizinha de uma do Carrefour, certamente sobrará apenas uma, desalojando os empregados daquela que foi fechada. Também não devemos imaginar que, com a concentração do mercado, os preços serão nivelados por baixo. Vai sobrar para o consumidor, que terá de pagar mais caro nas compras. Os fornecedores também perdem, porque terão menos poder de barganha. Para o bem do consumidor brasileiro, é melhor que esse setor seja mais pulverizado, mais pluralista, mais democrático. Não vejo estratégia, senão a de dar prerrogativa àqueles que privilegiam o grupo politicamente dominante, que está no governo; um conluio que não significa transparência e muito menos República.

O que o BNDES está fazendo nesse negócio? Com tanta demanda por infraestrutura, com pequenas empresas precisando de investimento, não seria o caso de o banco se voltar para o objetivo para o qual foi criado, o de fomento? E o governo, que se pretende progressista e de esquerda, por que se atola no financiamento da criação de conglomerados econômicos de alguns eleitos? Ressalte-se que são grupos do grande capital, escolhidos pelos governos Lula e Dilma os beneficiados.

É inadmissível que o BNDES torne-se sócio e financiador, a taxas subsidiadas, de grandes grupos nos mais variados setores da economia que visam a oligopolização. Não é papel do governo promover esses absurdos. Patrocinar essa fusão é dar munição a uma arma que se voltará contra o consumidor e a economia. Não podemos assistir, inertes, a esse processo. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) precisa agir para evitar que o negócio se concretize. Até porque esse capitalismo monopolista ou aproximado do monopólio não é de nenhum interesse do ponto de vista democrático.

Roberto Freire, deputado federal e presidente do PPS

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

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