sexta-feira, 8 de julho de 2011

PR veta preferido de Dilma, que convida Blairo Maggi

CGU apreende computadores em gabinetes nos Transportes, no Dnit e na Valec

O PR do ex-ministro Alfredo Nascimento, demitido sob suspeita de corrupção, vetou a efetivação do interino Paulo Sérgio Passos nos Transportes. Ele era o nome preferido da presidente Dilma Rousseff, que então sondou o senador Blairo Maggi (PR) para o cargo. Ex-governador de Mato Grosso, megaempresário do setor agrícola e padrinho de Luiz Antonio Pagot, afastado do Dnit no mesmo escândalo, Blairo pediu tempo para decidir. O gesto de Dilma foi visto como uma tentativa de "controlar" Pagot, que vai ser ouvido no Congresso e tem mandado recados de que agia sob ordens. A Controladoria Geral da União recolheu documentos e computadores em gabinetes do Ministério dos Transportes, do Dnit e da Valec, que cuida de ferrovias.

Dilma chama Blairo, mas PR, "magoado", faz suspense

COLISÃO NOS TRANSPORTES

Padrinho de um dos afastados, senador pede tempo para pensar

Maria Lima, Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut

Com o veto da cúpula do PR à efetivação do ministro interino dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, a presidente Dilma Rousseff viu dificultada sua intenção de fazer uma limpeza maior no setor e decidiu inverter a tática, chamando pessoalmente o senador Blairo Maggi (PR-MT) para saber se ele estaria disposto a assumir o cargo. Na conversa, Dilma disse que Blairo teria que assumir com autoridade para estancar a crise no PR, provocada pela saída do colega Alfredo Nascimento.

Titular no cargo também no governo Lula, Nascimento foi forçado a pedir demissão anteontem, após a divulgação, pela "Veja", de denúncias sobre um esquema de cobrança de propina no ministério, além das investigações sobre o patrimônio de seu filho, reveladas pelo GLOBO. Blairo, receoso, pediu tempo para analisar se aceita o cargo, alegando que a função pode ser incompatível com sua condição de megaempresário do setor agrícola.

O agrado a Blairo foi visto como sinal para que ele "segure" o diretor do Dnit, Luiz Antonio Pagot, envolvido nas denúncias de irregularidades, mas que ameaça sair atirando contra o governo. Se Blairo não aceitar, Dilma usará a negativa para tentar novamente emplacar Passos, que é filiado ao PR desde 2010, mas não é político tradicional nem pessoa de confiança do partido. O PR está armado para se manter à frente da pasta, e seus líderes dizem que têm "pelo menos outros dez nomes" a oferecer à presidente.

Na primeira reunião da comissão formada no PR para negociar com Dilma o nome do substituto de Alfredo Nascimento, Blairo perguntou aos colegas o que achavam, mas antecipou que tinha dificuldade para aceitar.

- O partido gosta muito do nome dele pela sua boa ligação com a presidente Dilma. Mas ele tem dificuldade de aceitar. Tem uma empresa com cinco mil funcionários, contratos com o governo, com o BNDES, Marinha. Está consultando a família. O PR não fechou questão, mesmo porque tem outros nomes, mas o dele é excelente - disse o líder do PR, deputado Lincoln Portela (MG).

Blairo não deve se decidir esta semana

A comissão é formada pelo próprio Blairo, Portela e o líder no Senado, Magno Malta (ES). Presente à reunião - embora sua assessoria tenha informado na véspera que ele teria embarcado para Manaus -, Nascimento disse que nem ele nem o secretário-geral do partido, deputado Valdemar Costa Neto, querem participar da escolha de seu substituto.

Entre outros nomes do PR para o ministério, os dirigentes citaram dois: os deputados Luciano Castro (RR) e Jaime Martins (MG). A expectativa é que nada seja definido ainda esta semana, segundo Lincoln Portela:

- O próximo passo agora é ir para casa, esfriar a cabeça e digerir isso.

De manhã, Blairo declarou, em entrevistas, que o desmanche do comando do Dnit e do Ministério dos Transportes deixou muita gente magoada no partido e acenou com a possibilidade de rompimento com o governo. Ele foi o parlamentar que mais se irritou com a queda de seu apadrinhado Pagot - Dilma determinou o afastamento de Pagot, mas ele, para evitar a formalização da decisão, entrou de férias.

- O PR acabou de sair de um posto importante, tem bancada de 40 deputados e sete senadores. Precisamos ouvir se querem continuar na base, se querem continuar a defender o Ministério - disse Blairo. - Tem muita gente que ficou magoada. Vou defender a continuidade. Fui companheiro da presidente Dilma desde o início, defendi, fui a palanques. Somos responsáveis pelo governo, e nos solavancos é que precisamos dar o suporte.

Lincoln Portela disse que o nome de Blairo é "o mais cotado":

- Ele disse que está fazendo avaliação se pode ou não ser ministro. Tem um envolvimento empresarial com o governo.

O líder do PR disse que não há "resistência" a Paulo Sérgio, mas afirmou que há outras preferências:

- Vamos crucificar uma pessoa antes de qualquer julgamento?

Blairo descartou, delicadamente, a indicação de Passos:

- Precisamos discutir isso internamente e, se a decisão do partido for de apoiá-lo, não há problema nenhum. Mas não existe essa determinação e, ainda, não existiu essa discussão.

A conversa de Dilma com o senador matogrossense ocorreu na noite de anteontem, e caso ele tivesse dado sinalização positiva, teria sido anunciado como o novo ministro. Ontem, enquanto consultava colegas do partido, chegou a ser alertado que poderia se transformar na "bola da vez", principalmente por causa de suas relações com Pagot, que já começa a ser chamado no PR de "homem bomba".

Diante do cenário de incerteza política, Blairo foi aconselhado a esperar uma semana para dar a resposta. O PR quer avaliar se o noticiário trará novas denúncias envolvendo a pasta, comandada pelo partido desde o primeiro mandato do ex-presidente Lula. Anteontem, Blairo reagiu ao afastamento de Pagot numa reunião com a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Mais tarde, foi chamado para conversa com o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência), e repetiu que era injustiça o pretendido afastamento do diretor do Dnit. Carvalho respondeu que quem comprovar inocência tem direito de voltar ao governo. Ontem, o ministro ponderou que aliados não podem ser mantidos a qualquer preço.

FONTE: O GLOBO

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