segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sombra na Esplanada

Ex-homem forte dos transportes pretende mostrar em depoimento ao Congresso que sua atuação era acompanhada por ministros. Expectativa é de que ele tente transferir a responsabilidade por desvios

Paulo de Tarso Lyra e Vinicius Sassine

Do alto da expectativa de ser explosivo, o depoimento do diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, é aguardado com ansiedade e apreensão pela oposição e pelo governo. Pagot estará amanhã no Senado e, na quarta-feira, na Câmara. Pessoas próximas ao diretor afirmam ter ouvido dele, desde o afastamento do Dnit na última segunda, acusações contra o ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, o atual ocupante da pasta, Paulo Sérgio Passos, e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que ocupou a pasta do Planejamento até dezembro de 2010.

Sobre Nascimento, Pagot reclama que o ex-ministro tirou-lhe autonomia de ação e passou a centralizar a condução dos projetos. Em relação a Paulo Bernardo, integrantes do PR afirmam ter ouvido que o petista sabia dos aditivos contratuais em obras no Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina — a suspeita é de que esses apêndices dos contratos de obra não representam trabalho a mais, apenas propina. Sobre Passos, o diretor do Dnit lembrou que o ministro já foi titular por quase dois anos, entre 2006 e 2010.

O governo montou uma operação para evitar estragos no depoimento de Pagot. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), voltou ontem à noite a Brasília para comandar o abafa. Foram escalados também assessores do Ministério do Planejamento ligados às obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para acalmar o diretor afastado do Dnit, que, diante da determinação do governo de afastá-lo, tirou férias. Procurado ontem à noite pelo Correio, Pagot pediu desculpas por falar apressadamente — estava saindo de uma padaria em Brasília — e afirmou que só falará com jornalistas na quarta, após o depoimento que prestará na Câmara dos Deputados. No Senado, o depoimento será em audiência conjunta nas comissões de Infraestrutura e Meio Ambiente. Já na Câmara, Pagot comparecerá às comissões de Fiscalização e Controle, Ciência e Tecnologia, Trabalho e Viação e Transportes.

Um parlamentar da base que prefere não ser identificado afirmou que não existe irregularidade no fato de o então ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, saber de aditivos contratuais em obras do PAC. Para este senador governista, como os recursos do PAC fazem parte do Orçamento, o ministro do Planejamento precisa, necessariamente, ser informado quando os gastos são majorados.

Questionamentos e juízo


Adversário político do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) afirmou que ainda não tem uma posição fechada sobre o depoimento de Pagot. "Vou esperar suas declarações para formar um juízo e pensar em meus questionamentos", ponderou. Outro que optou pela cautela foi o senador Jorge Viana (PT-AC), presidente da Comissão de Meio Ambiente do Senado. "O requerimento foi feito pelo senador Blairo Maggi (PR-MT). Espero que ele venha aqui e esclareça tudo o que ocorreu", completou Viana.


Apesar de não esperar avanços no depoimento de Pagot sobre as irregularidades cometidas no Dnit, a oposição acredita que o diretor vai relacionar suas ações no órgão a ordens superiores, envolvendo até mesmo o ministro interino, Paulo Sérgio Passos, que assumiu a pasta em dois momentos, durante as desincompatibilizações de Alfredo Nascimento para disputar eleições majoritárias.

Senadores da oposição duvidam que Pagot avance sobre as irregularidades no Dnit. "Ele não vai se autoincriminar", diz um senador. Por isso, a saída seria atribuir a ordens superiores todas suas atitudes na autarquia. Alguns senadores já ouviram do próprio Pagot que ele não fez nada sozinho. Pelo fato de ter topado o convite para prestar esclarecimentos numa audiência pública, cujo comparecimento não é obrigatório, esses senadores acreditam que Pagot vai aproveitar para apontar a mando de quem agia no comando do Dnit.

Um dos senadores atentos às explicações do ex-diretor-geral do Dnit é o senador Pedro Taques (PDT-MT). Apesar de o PDT ser da base do governo, Taques mantém independência em relação ao Planalto, especialmente em assuntos envolvendo investigações de irregularidade — ele foi procurador da República em Mato Grosso, mesmo estado de Pagot. "Nesses casos, não existe oposição nem situação. É preciso defender o patrimônio público e cobrar a verdade."

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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