sábado, 6 de agosto de 2011

Agência de risco rebaixa EUA e aumenta incerteza na economia

Standard & Poor"s tira o triplo A que país tinha há mais de 90 anos e expõe perigo de calote

O que mais se temia aconteceu na noite de ontem: apesar de o Congresso americano ter autorizado a elevação do teto da dívida federal esta semana, os Estados Unidos foram rebaixados pela agência Standard&Poor"s (S&P), que classificava o país como "AAA" desde 1941. Bem antes, desde 1917, o país já tinha a nota máxima por outra agência, a Moody"s. Agora, pela S&P, os EUA passam a ser "AA"+". Pelas agências Fitch e Moody"s, a nota continua máxima, mas elas anunciaram nas últimas semanas possibilidade de revisão. O triplo A era um atestado de risco zero de calote. Comprar um título da dívida americana era considerado um porto seguro pra investidores mundo afora. A mudança da nota foi justificada pelo crescente déficit americano, que pode levar a uma moratória futura. O maior detentor de títulos americanos é a China. O Brasil é o quarto. A nota das agências orienta a decisão de grandes investidores.

Estados Unidos são rebaixados

TREMOR GLOBAL

Agência reduz nota de crédito da maior economia do mundo de "AAA" para "AA+"

Bruno Villas Bôas*

Depois de semanas de impasse sobre a elevação do teto da dívida dos Estados Unidos, o que ocorreu no último minuto, na terça-feira, a maior economia do mundo finalmente perdeu sua nota "AAA". Por volta das 21h15m (horário de Brasília), a agência de classificação de risco Standard&Poor"s (S&P) reduziu o rating dos EUA em um nível, para "AA+", citando preocupações sobre o crescente déficit orçamentário. À tarde já haviam circulado rumores de que isso aconteceria.

A classificação de risco é uma nota dada a países e empresas para balizar as decisões de investimento de investidores em todo o mundo. Os EUA estavam no nível máximo - ou seja, era considerados de risco zero de calote - da S&P desde 1941. Na Moody"s, outra importante agência, o rating está no mais alto patamar desde 1917, segundo a CNN. O país também tem a nota máxima na Fitch, outra grande empresa do segmento.

"O rebaixamento reflete nossa opinião de que o plano de consolidação fiscal fechado pelo Congresso e o governo não contempla o que, a nosso ver, seria necessário para estabilizar a dinâmica da dívida federal a médio prazo", afirmou a S&P em nota.

Os títulos do Tesouro americano agora têm rating abaixo dos de Reino Unido, Alemanha, França e Canadá. Além disso, a perspectiva é negativa, o que pode significar um novo rebaixamento dentro de 12 ou 18 meses.

Valor das bolsas tem queda de US$4,2 tri

Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe da CM Capital Market, o corte vai intensificar o nervosismo nos mercados na próxima semana, que pode, mais uma vez, ser de fortes perdas. Para ele, a medida aumenta a pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para adotar novas medidas de injeção de liquidez na economia americana.

- Fundos de investimento mais rigorosos, que usam a S&P como referência, terão de vender os títulos americanos porque eles não têm mais o maior grau de classificação de risco. Mas é muito difícil mensurar a magnitude do que está para acontecer - afirma Rostagno, ressaltando não acreditar que seja algo nos moldes da quebra do Lehman Brothers.

O rebaixamento fecha a pior semana dos mercados internacionais desde a crise mundial. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), fechou com leve alta de 0,26%, aos 52.949 pontos, conquistada nos minutos finais do pregão, após oscilar dez vezes entre os campos positivo e negativo, com 11,4 bilhões de ações trocando de mãos. Mas isso não impediu um tombo de 9,99% na semana, o pior desde 21 de novembro de 2008 (-12,68%). Em Wall Street, o Dow Jones também oscilou muito, para fechar em alta de 0,54% na sua pior semana em dois anos, com queda acumulada de 5,75%.

Segundo a base de dados da agência Bloomberg News, os mercados mundiais perderam US$4,2 trilhões em valor de mercado em apenas cinco dias, o equivalente a duas vezes o Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços) do Brasil, de US$1,594 trilhão em 2010.

No mercado cambial, o dólar comercial avançou 0,37%, a R$1,587, com a redução de apostas contra a moeda e remessas para o exterior. A divisa fechou a semana com alta de 2,12%.

O Ibovespa chegou a subir 1,99% na abertura, após os EUA divulgarem a geração de 117 mil vagas em julho, contra previsão de 85 mil. O índice de desemprego recuou de 9,2% para 9,1%. Mas isso não segurou os mercados europeus, de olho na reunião dos líderes da União Europeia (UE) para discutir a crise da dívida na zona do euro. Londres caiu 2,71%, Paris, 1,26%, e Frankfurt, 2,78%. A Ásia já registrara fortes perdas, refletindo os mercados do Ocidente na véspera. Tóquio recuou 3,72%. Após o fechamento do mercado europeu, a Itália anunciou um plano para reduzir o déficit e liberalizar a economia. Isso contribuiu para a alta de Bovespa e Dow Jones.

Para Rogério Freitas, sócio e e gestor da Teórica Investimentos, as revisões das expectativas de crescimento das economias americana e mundial continuam a pressionar os preços das commodities e a afetar as bolsas:

- Tem um elefante enorme passando pelos mercados: as revisões de recuperação da economia global. Será preciso mais do que um dado isolado de emprego para mudar de vez o foco de atenção dos investidores.

As ações preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras recuaram 2,28%. Já as PN da Vale caíram 2,50%. As principais altas ficaram as ações que recuaram muito nos últimos dias, como Usiminas ON (10,42%) e MMX ON (8,02%).

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Corretoras tentam segurar clientes

As corretoras decidiram agir contra o nervosismo dos investidores, enviando e-mails para tentar conter a saída de clientes. Na quarta-feira, a primeira forte queda da Bovespa, as pessoas físicas fizeram saques líquidos de R$76,4 milhões. Investidores institucionais brasileiros (bancos, empresas e grandes fundos) venderam R$187,6 milhões. Já os estrangeiros colocaram R$326 mil na Bolsa. Em e-mail aos clientes, a XP Investimentos pediu cautela: "Sabemos que é difícil não cair na tentadora vontade de seguir o movimento de manada, vender tudo e voltar com força total para a renda fixa".

(*) Com agências internacionais

FONTE: O GLOBO

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