quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Apesar das ameaças, Negromonte fica no cargo


Ministro das Cidades disse que deputados tinham "ficha corrida"; partido resolveu não reagir para não perder a pasta

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Apesar do forte constrangimento provocado no Palácio do Planalto pela entrevista dada ao GLOBO pelo ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP), a presidente Dilma Rousseff decidiu mantê-lo no cargo. Ele só foi poupado e ganhou uma sobrevida após sair a campo para se viabilizar no seu partido. Ontem à tarde, Negromonte foi ao Planalto anunciar que conseguira a unidade da bancada pela sua permanência.

De manhã, Negromonte havia sido avisado pelo ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) de que havia preocupação no Planalto com o tom de suas declarações. Na entrevista, Negromonte foi para o ataque e alertou o partido das consequências do racha na bancada. Disse que "em briga de família, irmão mata irmão e morre todo mundo". E que deputados do PP tinham "ficha corrida".

Por telefone, Carvalho disse que era importante que Negromonte reunificasse o PP. Carvalho lembrou que o "Brasil é presidencialista, e não parlamentarista". E que, nesse caso, os partidos não tinham autonomia para tirar os ministros do governo quando bem entendessem. Segundo interlocutores da presidente, a grande preocupação dela seria ficar refém das disputas internas das bancadas.

Por isso, Dilma manteve Negromonte, como uma tentativa de impor limite às brigas entre facções internas dos partidos. O mesmo recado serviu para frear a rebelião da bancada peemedebista para substituir o ministro do Turismo, Pedro Novais.

Para tentar pacificar a bancada, o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), participou da operação de pacificação. Foi então que o grupo do PP que destituiu o ex-líder, deputado Nelson Meurer (PP-PR), fez um cálculo pragmático: a queda de Negromonte significaria uma derrota para todo o partido, já que a sigla ficaria sem o Ministério das Cidades. Isso desgastaria o novo líder, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Dornelles deu ordem para ninguém reagir

Além disso, o partido poderia sofrer sequelas depois das ameaças de Negromonte. Num restaurante em Brasília, estavam reunidos, além de Aguinaldo Ribeiro, os deputados Eduardo da Fonte (PP-PE), Arthur Lira PP-AL) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI). Segundo um dos presentes, "não adiantava derrubar o ministro e o partido perder a pasta".

Ainda na madrugada de ontem, o grupo foi alertado pelo deputado Paulo Maluf (PP-SP), que leu a entrevista no site do GLOBO. Mas, no início da manhã, o próprio Dornelles telefonou para os deputados e deu a ordem para ninguém reagir.

Após Negromonte avisar que tinha o apoio da bancada, Carvalho o levou ao gabinete presidencial. O ministro das Cidades recebeu dois beijinhos de Dilma, e falou rapidamente. Depois, eles desceram a rampa do terceiro andar do Planalto para uma solenidade no segundo andar.

Colaborou Adriana Vasconcelos

FONTE: O GLOBO

Nenhum comentário:

Postar um comentário