domingo, 7 de agosto de 2011

Cai o nº2 da Agricultura

Após denúncias de ligação com lobista acusado de corrupção, secretário-executivo se demite

Adriana Vasconcelos

Brasília - Novas denúncias de corrupção no Ministério da Agricultura, comandado pelo peemedebista Wagner Rossi, provocaram ontem a demissão do número 2 da pasta, o secretário-executivo Milton Ortolan. Homem de confiança e amigo de Rossi há 25 anos, segundo declarações do próprio ministro, ele pediu para deixar o cargo após a revista "Veja" desta semana afirmar que o secretário-executivo garantiu livre acesso ao ministério para o lobista Júlio Fróes, acusado por funcionários da Agricultura e por empresa ouvidos pela revista de pagar propina e cobrar comissão em nome de Ortolan. Fróes — que teria sala no ministério sem fazer parte do quadro de pessoal — diziase ainda amigo de Rossi, que nega.

Fróes teria dito à "Veja" que tem gravações que comprometeriam Ortolan. E teria pedido dinheiro à revista para entregá-las.

Foi a segunda suspeita contra a Agricultura em uma semana. A edição anterior de "Veja" trouxera entrevista com Oscar Jucá Neto, ex-diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e irmão do líder governista, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Exonerado por liberação irregular de recursos, Jucá Neto acusou a existência de um esquema de corrupção na Agricultura sob o comando de Rossi, com participação de PMDB e PTB. O ministrou negou e o líder Jucá pediu desculpas à presidente Dilma Rousseff pelo comportamento do irmão.

PMDB quis evitar sangria de ministro

A demissão de Ortolan começou a ser costurada pelo PMDB logo pela manhã, quando a revista começou a circular, e contou com a articulação direta do vice-presidente Michel Temer.

A avaliação foi de que as denúncias não atingiam diretamente Rossi, indicado por Temer, mas poderiam provocar a sangria do ministro, do vice e do partido se não houvesse uma ação rápida. Rossi já vai prestar esclarecimentos esta semana no Congresso Nacional, por conta das acusações de Jucá Neto.

"O PMDB é governo, não corre risco nenhum. Se alguém do partido comprovadamente faz besteira, que se exploda. Corrupção tem CPF, não CNPJ", escreveu o ex-deputado Geddel Vieira Lima, atual vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, em seu Twitter.

Chegou-se a cogitar que Rossi demitiria Ortolan sumariamente. Mas optou- se depois por uma manifestação do ministro por meio de nota negando qualquer ligação com Fróes, anunciando a abertura de um procedimento disciplinar para que todos os funcionários citados pela revista sejam ouvidos e tenham seu direito de defesa garantido, e pedindo que a Controladoria Geral da União (CGU) investigue as denúncias e os contratos.

Rossi, na nota, não defendeu Ortolan e sequer citou seu nome. Foi a senha para que o secretário-executivo, horas depois, pedisse publicamente demissão em caráter irrevogável.

Segundo "Veja", pelas mãos de Milton Ortolan, o lobista Júlio Fróes teria garantido livre acesso à entrada privativa do Ministério da Agricultura, além de uma sala com computador, telefone e secretária.

Em seu escritório clandestino, Fróes teria participado da elaboração de documento que justificou a contratação, sem licitação, da Fundação São Paulo (Fundasp), entidade mantenedora da PUC-SP. Depois, o lobista se apresentou como representante da entidade. E, após a formalização do negócio, Fróes teria voltado ao ministério e convocado uma reunião na sala da Assessoria Parlamentar, na qual teria distribuído pastas com dinheiro a funcionários que o ajudaram.

Em outra denúncia, a Gráfica Brasil confirmou à "Veja" que Fróes pediu "10% de gratificação" à empresa, em nome de Ortolan, em troca da renovação de um contrato. As gravações se refeririam a este episódio.

Na nota em que anuncia seu pedido de demissão, Milton Ortolan diz que conheceu Júlio Fróes no início do processo de contratação da Fundasp "como sendo um representante da PUC-SP" e afirma desconhecer a reunião da distribuição de propina por Fróes:

"Não participei e nem compactuo com ilegalidades. Tenho 40 anos de serviço público. Jamais fui acusado de conduta irregular. Sinto-me injustiçado e ofendido pelas suspeitas levantadas na reportagem (...). Tenho a consciência tranquila e provarei minha inocência".

O ministro da Agricultura, por sua vez, garantiu: "Nunca participei de reunião com este senhor (Fróes). Não desfruta de minha amizade e nem de minha confiança. Reafirmo: não é meu amigo".

Wagner Rossi também acionou a CGU para investigar o processo judicial da empresa Spam com a Conab.

Advogados da Spam teriam sido procurados por representante da Conab, que pediram o pagamento de uma propina de 15% para liberar o pagamento de uma dívida de R$ 150 milhões determinada pela Justiça desde 2009.


"Reafirmo que, sob minha gestão, o Ministério da Agricultura e a Conab sempre atentaram às boas práticas administrativas e de controle interno. Nos três casos citados pela reportagem, não houve de minha parte ilegalidade. Não fui, não sou e não serei conivente com qualquer tipo de desvio", assegurou o ministro na nota.

FONTE: O GLOBO

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