quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Dilma sabia de descontrole, diz ex-ministro

Bancada do PR no Senado anuncia que deixou o bloco de apoio ao governo; grupo na Câmara pode fazer o mesmo

Nascimento afirma que deixou o cargo por ter perdido apoio de Dilma; "Eu não sou lixo, o meu partido não é lixo", disse

Catia Seabra e Gabriela Guerreiro

BRASÍLIA -Exonerado do cargo sob acusações de irregularidades, o ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento (PR) disse ontem, na tribuna do Senado, que a presidente Dilma sabia desde março do que chamou de "descontrole" nos gastos da pasta.

Nascimento deixou o cargo no início de julho em meio a acusações de corrupção no ministério, que derrubaram outros 22 servidores.

Sobre a expressão "faxina nos Transportes", usada para designar as exonerações em série, disse que não aceita ser chamado de "lixo":

"Não aceito que usem o meu nome e que brinquem com a minha carreira para corrigir distorções que eu não criei nem para desfazer acordos dos quais eu não participei. Eu não sou lixo, o meu partido não é lixo, os senadores do PR não são lixo".

Após o discurso, o PR do Senado anunciou que os sete integrantes da bancada deixarão o bloco de apoio do governo. O mesmo poderá ocorrer na Câmara.

PAC

Num discurso de mais de duas horas, Nascimento responsabilizou a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, pelo aumento de despesas incluídas no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dos Transportes no ano passado, em plena disputa presidencial.

Lembrou que o atual ministro e ex-secretário executivo, Paulo Sérgio Passos, estava à frente do ministério em 2010 já que ele deixou o ministério para concorrer ao Senado pelo Amazonas.

Nascimento afirmou que as obras tiveram salto bilionário no ano eleitoral de 2010, passando de R$ 58 bilhões para R$ 72 bilhões. Por isso, disse, procurou Belchior, em março, para falar do crescimento de gastos.

Dias depois, ainda em março, ele afirmou ter procurado Dilma. "Coloquei o assunto para a presidente e informei que já começara a trabalhar no ajuste necessário para garantir a viabilidade orçamentária das obras durante sua gestão."

Planalto e Transportes não comentaram o conteúdo do discurso de Nascimento.

O ex-ministro disse que só deixou o cargo depois de perder o apoio de Dilma. "Diante dos ataques violentos contra mim desferidos, não recebi o apoio que me havia sido prometido pela presidente."

O senador Blairo Maggi (PR-MT) cobrou de Dilma a mesma atitude "dura" adotada com o PR em relação as outros partidos que ocupam ministérios acusados de corrupção e disse que Passos não é da cota do partido.

"Se a presidente quiser continuar com o Passos, continue, é bom ministro, mas ele não é do PR. Não quero ter a responsabilidade da indicação política de ninguém."

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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