sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Dilmuska :: Fernando de Barros e Silva

Antonio Palocci (PT), Alfredo Nascimento (PR), Nelson Jobim (PMDB), Wagner Rossi (PMDB). Em comum, os ex-ministros de Dilma Rousseff têm o fato de serem, todos, herança de Lula.

Isso os caracteriza muito mais do que a ideia, amplamente difundida, de que seriam vítimas de uma faxina ética. A saída de Jobim é um caso à parte -nada tem a ver com corrupção. Mas também é errada a impressão de que ele vocalizou uma insatisfação estritamente pessoal. O PMDB não fez um único gesto para contornar o mal-estar provocado pelos ataques do ex-ministro ao governo que ainda integrava. Jobim e o partido jogaram juntos.

Fiquemos com os outros três, de vida suspeita. Dilma só atuou, de fato, em relação aos Transportes, o primo pobre na coalizão da pilantragem. Palocci e Rossi caíram de podre, à sua revelia. Pode-se dizer, se tanto, que ela não lhes deu o respaldo público que Lula teria dado.

O que se vê, em menos de oito meses, é o desmanche mais involuntário do que induzido da política que foi sedimentada na era Lula. O equilíbrio de forças obtido principalmente depois do mensalão, à custa do que se conhece, dependia da figura do presidente que patrocinava seus malandros e fazia, ao mesmo tempo, a animação das massas por via direta, atacando a imprensa quando necessário.

Essa figura está ausente. É difícil discernir entre as virtudes pessoais e a insuficiência política de Dilma. Seu governo escancara os aspectos regressivos do legado de Lula, mas aponta para algo diverso disso?

Tudo se passa como se estivéssemos diante daquele brinquedo russo, em que cada boneca oca, ao ser desmontada, revela outra boneca oca, igual a ela, mas menor, até que se chega à última boneca, minúscula. A Mamuska parece ser uma boa metáfora de Dilma -ou Dilmuska.

Há, por isso, quem veja na sucessão de cabeças cortadas e na insatisfação do Congresso sinais suficientes de que há no horizonte uma crise política já contratada.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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