segunda-feira, 8 de agosto de 2011

G-7 acena com dinheiro para acalmar as bolsas


O grupo das sete maiores economias do mundo se comprometeu a assegurar recursos para os mercados e reafirmou sua confiança de que os EUA cumprirão sua meta de reduzir o déficit a médio prazo, Hoje, as bolsas mundiais vão mostrar sua reação ao rebaixamento, pela agência de classificação de risco Standard&Poor"s na última sexta-feira, da nota dos EUA. A cotação do ouro avançou mais de 2% no pregão eletrônico e a Bolsa de Tóquio abriu em queda de 1,5%, enquanto os ministros de Finanças e presidentes de BCs do G-7 discutiam a crise. O diretor-gerente da S&P ameaçou os EUA com novo rebaixamento, num prazo de seis meses a dois anos

Teste de estresse nos mercados

G-7 promete liquidez e diz que EUA cortarão déficit. Tóquio abre em queda

Fernando Eichenberg*

Hoje os mercados passarão por um autêntico teste de estresse, no primeiro dia de funcionamento após o rebaixamento, na noite de sexta-feira, da nota de crédito soberano dos Estados Unidos pela agência de classificação de risco Standard&Poor"s (S&P), de "AAA" para "AA+". A Bolsa de Tóquio abriu (às 21h, pelo horário de Brasília) em queda de 1,5%, enquanto a cotação do ouro avançava já no pregão eletrônico. Em uma tentativa de acalmar os mercados, o G-7 (grupo das maiores economias, que reúne EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Japão e Itália) convocou uma teleconferência entre seus ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais. Eles prometeram agir para garantir recursos ao sistema financeiro.

Em comunicado, o G-7 se comprometeu a assegurar liquidez aos mercados e garantir a estabilidade e o crescimento da economia global. "Os EUA adotaram reformas que trarão redução substancial do déficit a médio prazo", afirmou a nota, que não citou o rebaixamento do país. O G-7 ainda ressaltou os esforços dos países da zona do euro que enfrentam uma crise de endividamento para colocar suas finanças em ordem.

Mas a situação dos EUA ainda pode se agravar. Em entrevista à rede de televisão ABC, o diretor-gerente da S&P, John Chambers, afirmou que há uma chance em três de um novo rebaixamento, em um período de seis meses a dois anos.

- Se a posição fiscal dos EUA se deteriorar mais ou se a disputa política se tornar mais arraigada, isso pode levar a um rebaixamento. A perspectiva indica pelo menos uma chance em três - disse Chambers, acrescentando que os EUA levarão algum tempo para recuperar a nota "AAA". - Exigiria uma estabilização da dívida e maior habilidade para obter consenso em Washington do que vemos hoje.

O ouro atingiu o recorde de US$1.670,70 a onça-troy (31,1g) na negociação eletrônica da Comex, em Nova York. Depois recuou a US$1.687,20, alta de 2,14%. Em nota, o banco UBS afirmou que o ouro pode atingir US$1.725 a curto prazo.

Já o dólar chegou a cair 2,5% em relação ao franco suíço em Tóquio. A queda desacelerou depois a 1%, a 0,7597 franco. O euro, após subir 1%, avançava 0,3%, a US$1,4326.

Kerry: Rebaixamento é do Tea Party

O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan disse ontem à rede de televisão NBC que as quedas dos mercados - que semana passada registraram as maiores perdas desde 2008 - devem continuar por algum tempo.

Assessores do governo Barack Obama montaram uma ofensiva na mídia como reação à decisão da S&P, com a clara intenção de desacreditar a agência. O diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Gene Sperling, condenou a "magnitude do erro" da agência, referindo-se a uma diferença US$2 trilhões apontada por técnicos do Tesouro no cálculo da S&P sobre o índice da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos por um país) americano.

O ex-secretário do Tesouro e ex-assessor econômico da Casa Branca Larry Summers endossou as críticas:

- O histórico da S&P é terrível e, como vimos neste fim de semana, sua aritmética está pior. Então, não há nada de bom a dizer sobre o que eles fizeram.

Austan Goolsbee, que na sexta-feira deixou a direção do Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca, acusou a S&P de "cálculo desleixado".

- As agências de rating que não fizeram um erro matemático de US$2 trilhões reafirmaram o status "AAA" (dos EUA) - afirmou Goolsbee em entrevista ao programa de TV "Meet the Press", da rede NBC.

No mesmo programa, o senador democrata John Kerry, que foi candidato à Presidência dos EUA em 2004, culpou o comportamento do movimento ultraconservador Tea Party no debate sobre o aumento do limite de endividamento americano pelo rebaixamento da nota dos EUA.

- Eu acredito que é, sem dúvida alguma, o rebaixamento do Tea Party, porque a sua minoria na Câmara de Representantes se opôs até ao desejo de muitos republicanos no Senado dos EUA, que concordavam com um acordo mais amplo.

O principal assessor político da Casa Branca, David Axelrod, definiu a atitude da S&P como uma "ampla análise política". Segundo ele, os investidores entenderam que os EUA "ainda são o local mais seguro para colocar seu dinheiro".

- A política temerária (no impasse sobre a crise da dívida) que vimos foi atroz, e isso contribuiu para a análise da S&P - disse ele no programa "Face the Nation", da CBS.

No mesmo programa, o ex-candidato democrata à Presidência Howard Dean não poupou críticas ao ultraconservadores do Tea Party:

- Eles são completamente irracionais. Acho que andaram fumando, em vez de apenas beber - disse Dean, referindo-se ao nome do grupo (tea é chá em inglês).

Em editorial, o site de notícias Daily Beast classificou o rebaixamento de irônico, "já que o endividamento extra dos EUA nos últimos anos foi cortesia dos ratings imbecis dados pela S&P a ativos podres".

(*) Com Bloomberg News e agências internacionais

FONTE: O GLOBO

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