quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Governo foi avisado de aparelhamento na pasta da Agricultura

Associação de empregados pede explicações sobre a nomeação de apadrinhados sem intimidade com setor

Assessoria de imprensa do ministério diz que ofícios recebidos foram enviados anteontem a órgãos de fiscalização

Andreza Matais e Natuza Nery

BRASÍLIA - O governo de Dilma Rousseff foi informado de que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estava sendo aparelhada com objetivos eleitoreiros, mas manteve as indicações políticas.

O órgão se tornou o novo foco de denúncias da gestão petista após um ex-diretor da empresa acusar seus colegas de "bandidos".

As indicações para a companhia, braço do Ministério da Agricultura, intensificaram-se a partir de 2007, com a adesão do PMDB a Lula.

Em oito cartas a diversos ministérios, a Associação Nacional dos Empregados da Conab cobrou do governo explicações para nomeações de apadrinhados políticos sem intimidade com o setor.

Numa das cartas, protocolada no dia 20 de junho, a associação pediu à ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) explicações para as indicações de Oscar Jucá Neto e Marcelo Araújo à diretoria, ignorando os pedidos por nomeações técnicas.

Irmão do senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, Jucá Neto foi exonerado na semana passada após a revelação de que ele ordenou, de forma suspeita, o pagamento de R$ 8 milhões a um armazém hoje em nome de laranjas.

O outro diretor citado no documento, responsável pelas operações de abastecimento da Conab, é um ex-deputado federal e chegou à empresa com o apoio da bancada do PMDB na Câmara. Todos os diretores têm padrinhos políticos.

"Nos últimos anos, a Conab vem sendo utilizada como uma organização de acomodação partidária, com vistas a objetivos essencialmente político-eleitoreiros", escreveram quatro dirigentes da associação.

Carta com o mesmo teor foi encaminhada à Casa Civil e à pasta de Relações Institucionais quando da nomeação do atual presidente da Conab, Evangevaldo dos Santos.

Nela, pedem que seja comprovada a experiência no setor agrícola para embasar a indicação. Santos foi indicado pelo líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO).

A única resposta oficial do governo para as cobranças veio da ministra Gleisi, que disse ter encaminhado a demanda ao Ministério da Agricultura. A Casa Civil confirmou que recebeu as cartas. Duas foram encaminhadas nos dias 27 de junho e 25 de julho para o ministro e seu chefe de gabinete na Agricultura, informou a Casa Civil.

Numa primeira resposta, a assessoria do Ministério da Agricultura disse o seguinte: "não chegou nenhum ofício da ministra Gleisi Hoffmann tratando do assunto relativo às indicações políticas na Conab". À noite, a assessoria mudou a versão. Disse que a pasta recebeu os ofícios anteontem e que foram enviados a órgãos de fiscalização.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

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