quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Homenagem: Freire destaca decência de Itamar e diz que vivemos hoje tempos indecentes

Valéria de Oliveira

Na sessão solene do Congresso Nacional em homenagem a Itamar Franco, nesta quarta-feira, o presidente nacional do PPs, deputado federal Roberto Freire (SP), disse que, das inúmeras qualidades ressaltadas nos discursos feitos a respeito do ex-presidente e ex-senador, do seu caráter, suas conquistas, daquilo que ele significou para o país, a decência perpassou todas elas. “Itamar tinha-a como obrigação. E por que essa ênfase na questão da decência? Porque vivemos tempos indecentes”.

O deputado lembrou que o governo Itamar terminou sem nenhum grande escândalo. “Saiu limpo como entrou, bem distinto dos tempos que estamos vivendo; que sirva como exemplo, como lembrança de algo que, no Brasil passa a ser extremamente benemérito, que é a decência na atividade pública”.

Freire esteve ao lado de Itamar na época da luta pela resistência democrática, como constituinte e também como líder de seu governo na Câmara dos Deputados, quando o PPS ainda se chamava PCB. Atualmente, preside o partido que o ex-presidente escolheu. “Ele dizia que o PPS era o partido que mais se aproximava de suas ideias e daquilo pelo que ele mais primou ao longo de sua vida política”, afirmou o deputado no discurso.

Itamar disse ainda que, se o PPS ainda fosse um partido comunista, não teria nele se filiado, disse Freire. “Mas vejo o PPS como um partido que busca o socialismo democrático, dizia ele”. Esse, confessou o deputado, foi um grande reconhecimento para quem, como ele, presidiu a transição do PCB para o PPS. O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), e os deputados Stepan Nercessian (RJ), Arnaldo Jordy (PA), Alexandre Silveira (MG) e Carmen Zanotto (SC) estiveram na sessão solene.

Desafio

Freire fez um desafio a todos os parlamentares do tempo do governo Itamar que denunciassem se votaram qualquer matéria em troca de favores, emendas ou cargos. O senador Pedro Simon, que foi líder do governo Itamar no Senado, fez a mesma incitação aos senadores e deputados. “E nós não votamos poucas coisas não; estávamos no período pós-impeachment, com o país à beira da falência, a inflação perto de 1000% ao ano e vivíamos uma crise fiscal das mais sérias da República”, ressaltou Freire. E foi preciso votar inúmeras emendas constitucionais tendo um líder comunista.

Freire explicou que essa postura de Itamar remontava à sua administração como prefeito de Juiz de Fora. No tempo da ditadura, quando os comunistas eram perseguidos, Itamar nomeou muitos deles como secretários. “Ele tinha apego à democracia, à liberdade e respeito a nós, comunistas”.

“Não era fácil; tínhamos a oposição do PT, daqueles que continuavam fiéis a Fernando Collor e também a do PDT – não irresponsável, mas oposição. Era difícil aprovar propostas de emenda constitucional, vínculos fiscais para corrigir distorções e preparar o país para o processo da reforma do Estado e para a estabilidade do Plano Real”.

Foi também no governo Itamar, lembrou Freire, que se começou, “sem nenhum rubor, com hombridade e decência” o processo de privatização de forma efetiva. Foram privatizadas Volta Redonda e Cosipa. “Esse processo foi fundamental para construir o Estado brasileiro moderno, que ainda precisa de reformas, que estão impedidas porque agora se faz privatização com medo de assumir, mas tendo de fazer porque vamos começar a viver de novo a situação grave de o Estado ser incapaz de atender à necessidade de modernização de nossa infraestrutura”.

Ao falar sobre a crise econômica mundial que se avizinha, Freire afirmou que “se tivéssemos Itamar, estaríamos muito melhor do que estamos hoje, “seja do ponto de vista da decência, seja do ponto de vista de um estadista, seja do ponto de vista de um futuro”.

Aécio

O senador Aécio Neves disse que Itamar será “inesquecível” e que teve o privilégio de ter recebido dele conselhos, exemplos e amizade. Afirmou ainda que, depois dele, com a estabilização do Plano Real, o Brasil nunca mais foi o mesmo. Acrescentou que o ex-presidente levou uma mágoa de não ter sido reconhecido devidamente. “A morte de Itamar foi como a queda de um jequitibá, árvore que não se dobra facilmente”.

Na sessão de homenagem ao ex-presidente, estavam presentes, além de deputados e senadores de vários partidos, o governador de Minas, Antônio Anastasia, representantes da Marinha, Exército e Aeronáutica. As filhas de Itamar, Giorgiana e Fabiana e outros familiares e amigos também compareceram.

No evento, a Fundação Astrojildo Pereira (FAP) também lançou o livro "Itamar Franco, Homem público democrata e republicano", com depoimentos de políticos e vários personalidades sobre o ex-presidente. Saiba mais

Nenhum comentário:

Postar um comentário