sábado, 6 de agosto de 2011

No Brasil, inflação sobe mais

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), da meta do governo, bateu 6,87% nos últimos 12 meses, maior taxa desde junho de 2005. Mas especialistas acreditam que crise global pode ajudar a controlar a inflação.

Inflação em 12 meses é a maior desde 2005

TREMOR GLOBAL: Analistas acreditam que crise pode ajudar a trazer o IPCA para meta de 4,5% mais rápido

Taxa em julho foi de 0,16%, pressionada pela alta dos combustíveis e domésticos. Alimentos ficaram mais baratos
Liana Melo
RIO e SÃO PAULO. Se antes da turbulência e agravamento da tensão internacional a inflação brasileira era comparável a um animal selvagem; hoje, o cenário de inflação está mais parecido com um bicho doméstico. A analogia foi feita pelo ex-diretor do Banco Central (BC) e atual economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, ao comentar a inflação de 0,16% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em julho, divulgada ontem pelo IBGE. Ainda que represente, em 12 meses, uma inflação acumulada de 6,87% - a maior alta desde junho de 2005 -, a crise nos EUA e Europa poderá ser um aliado do governo, na sua batalha de trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%.

- Num contexto internacional enfraquecido, os preços das commodities, que já começaram a cair, tendem a desacelerar ainda mais, o que acaba reduzindo a pressão sobre os preços no Brasil - comenta Freitas, lembrando que, em julho, os preços destes produtos já caíram 3,34%, como apontou o Índice de Commodities Brasil, do BC.

Até o mês passado, a inflação já tinha acumulado alta de 4,04% no ano, acima dos 3,10% relativos ao primeiro semestre de 2010. A coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, considera que, apesar de o IPCA de julho ter ficado ligeiramente acima dos 0,15% de junho, a inflação está estável:

- Apesar das taxas de junho e julho terem sido semelhantes, o perfil da inflação destes dois meses é diferente. A inflação de julho foi pressionada, sobretudo, pelos combustíveis. Só o etanol subiu 4,01% em julho.

Entre os serviços, o salário doméstico foi o que mais pressionou.

Coutinho acha insensato BC continuar a aumentar juros

Os alimentos que engordaram o índice no início do ano está em baixa. O preço do tomate caiu 15,32%, seguida da carne, que ficou 1,12% mais barata. Ainda que a redução dos preços dos alimentos tenha sido de apenas 0,34%, o recuo contribuiu para neutralizar o aumento dos preços dos combustíveis.

Há um consenso entre economistas de diferentes tendências de que a crise internacional vai ajudar o país a levar o IPCA para o centro da meta. Alguns, como é o caso do professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, concordam com a projeção do presidente do BC, Alexandre Tombini, de que este objetivo será alcançado já em 2012. Outros, como Thiago Curado, da Tendências Consultoria Integrada, e o próprio Freitas, discordam. Curado acredita que a meta só será alcançado em 2013. A Tendências projetando inflação de 6,60% para este ano.

- A estabilidade apontada pelo IPCA em julho é sazonal, não reflete uma melhora real do quadro inflacionário - avalia Curado, comentando que a crise externa é uma "oportunidade excelente" para frear inflação no país. - Mas para o objetivo ser plenamente cumprido, o governo deveria continuar aumentando a taxa Selic em 0,25 ponto percentual nas três próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Em São Paulo, presidente do BNDES, Luciano Coutinho, afirmou ontem que o agravamento da crise financeira nos países da Europa e nos Estados Unidos vai obrigar o Brasil e outros países em desenvolvimento revisar para baixo o crescimento de suas economias em 2011. Segundo ele, a economia global vive hoje um momento "quase crítico", de turbulência que pode levar a uma paralisação do crédito internacional, a exemplo do ocorrido durante a crise de 2008/2009.

- Estamos à beira de uma situação que pode replicar no episódio de duplo mergulho da economia mundial e de paralisação do crédito.

Para Coutinho, que falou no Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), a situação de instabilidade e de crescimento menor se dará também nas outras economias em desenvolvimento como o Brasil. Em função da deteriorização das condições de crédito, Coutinho considerou "insensato" o Banco Central (BC) continuar com a atual política de elevação das taxas de juros.

Colaborou Lino Rodrigues

FONTE: O GLOBO

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