terça-feira, 9 de agosto de 2011

Rossi e Dilma negociam 'faxina' em indicados do PMDB, PT e PTB


Mauro Zanatta

Brasília - A crise política aberta por denúncias de supostas irregularidades na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e no Ministério da Agricultura deve resultar em uma "faxina" na estatal cujo comando está dividido entre PTB, PMDB e PT.Sob ataques desde as acusações de envolvimento em esquema de desvio de recursos, feitas pelo ex-diretor financeiro da Conab, Oscar Jucá Neto, o ministro Wagner Rossi costura com a presidente Dilma Rousseff uma ampla mudança na diretoria da estatal. As alterações poderiam atingir até mesmo escalões do próprio ministério, onde há indicações políticas de vários partidos aliados em secretarias, diretorias e coordenadorias.

Defendido publicamente por Dilma, que reiterou ontem "confiança" no auxiliar, Rossi tem conversado com a presidente desde sábado para tentar uma saída negociada com os padrinhos políticos dos atuais diretores da Conab. Os dois voltaram a tratar do tema ontem, no Palácio do Planalto. Ambos avaliam uma forma de circunscrever os danos entre os partidos da coalizão. Mais cedo, Dilma deu a deixa ao avalizar a permanência de Rossi: "Estamos, sem sombra de dúvida, reiterando a confiança no Wagner Rossi. Não é ele que está questão", disse. Em combinação com o Planalto, Rossi anunciou uma sindicância interna, presidida pela Advocacia-Geral da União (AGU), para apurar as denúncias. A "blindagem" da presidente estaria condicionada, porém, à gravidade de eventuais novas denúncias contra Rossi.

O epicentro da crise está na Conab, loteada por partidos, amigos e parentes de políticos. O presidente da estatal, Evangevaldo Moreira dos Santos, foi indicado pelo líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). A saída, avalia-se, seria apoiar Arantes em sua postulação ao Tribunal de Contas da União (TCU). E o PMDB daria sua cota de "sacrifício". O diretor de Operações, Marcelo Araújo Melo, ex-deputado federal e candidato a vice na chapa de Iris Rezende em Goiás, é indicação do PMDB, assim como Rogério Abdalla, amigo de Wagner Rossi abrigado pelo partido na Diretoria de Administração. Restaria encontrar uma solução para evitar problemas no PT. Filiado ao partido, o diretor de Política Agrícola, Silvio Porto, tem apoio do secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho.

A nova diretoria colegiada da Conab teria um perfil técnico, composta por dirigentes especializados, à semelhança do que foi feito no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Isso permitiu estancar a crise gerada por acusações de supostos ilícitos que derrubaram o então ministro e atual senador Alfredo Nascimento (PR-AM). A solução, avalia o governo, encerraria a crise na Agricultura.

Ao defender-se ontem de acusações de irregularidades no ministério, Wagner Rossi afirmou haver uma disputa política na Conab. "Ninguém apontou ato ilegal meu. Há uma concorrência natural por espaço. Na Conab, tem diretores de todos os partidos. Isso tem criado divergências. Sinto que há dificuldades de entendimento", disse. Rossi foi além ao creditar à "disputa de dois grupos" as acusações de ligações do seu então secretário-executivo, Milton Ortolan,

com o suposto lobista Júlio Fróes, feitas pela revista "Veja". "Havia a disputa de dois grupos, da gestão anterior e de alguns que ficaram. Havia fricção (...) um confronto natural. Muda a equipe e se hostilizam por baixo do pano. Isso existe entre equipes", afirmou o ministro. E garantiu desconhecer Fróes: "Não conheço o "seu" Fróes. Se ele entrasse aqui, não o reconheceria. Não controlo tudo, não sou dono do ministério".

Wagner Rossi também insinuou que as acusações seriam derivadas de disputas partidárias em São Paulo. "O PMDB tem crescido em áreas importantes. A eleição para a prefeitura de São Paulo tem criado confrontos. Mas não quero apontar isso como motivação", disse. Comandado por seu filho, o deputado estadual Baleia Rossi, o PMDB paulista disputa espaço com PT e outros partidos aliados de Dilma Roussef no plano federal.

Afilhado político do vice-presidente Michel Temer, o ministro da Agricultura defendeu o emprego de parentes de políticos na Conab. E disse que várias indicações foram feitas por PTB e PT. "Tinham, sim, qualidade e expertise", afirmou. Têm vaga na Conab o filho do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), Rodrigo Calheiros; o neto do deputado Mauro Benevides (PMDB-CE), Matheus Benevides Gadelha; e a ex-mulher do líder pemedebista na Câmara, Henrique Alves (RN), Monica Azambuja. "Eles têm competência. O filho do Renan é da maior qualidade. É engenheiro agrônomo". Rossi afirmou que as "restrições" ao emprego de parentes são "fruto de mentalidade corporativa" que rejeita "quem vem de fora". (Colaborou Fernando Exman)

FONTE: VALOR ECONÔMICO

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