segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Acertos de contas: Wilson Figueiredo

Pela dificuldade de conviver com a liberdade de imprensa, desde que desceu do poder, o ex-presidente Lula desapertou à direita e patrocina a poluição que se respira no Brasil, sob a forma de nostalgia da censura.

A capacidade ociosa de ex-presidente equivale à de vice-presidente na ativa, igualmente assediados de perto pelas tentações inerentes à inatividade funcional. No caso da episódica insensatez de Lula, a condição de ex o incomoda e lhe desperta a disposição acumulada de acertar as contas com a própria democracia. O terceiro mandato ainda pulsa nele. No terreno minado da reforma política, o ex-presidente se apresenta como porta-bandeira da censura.

É evidente que o incomoda pessoalmente a apologia da liberdade de imprensa, de que a presidente Dilma Rousseff se encarregou para fazer contraponto ao projeto petista de instalar o controle social dos meios de comunicação, sem definir o modo de conciliar liberdade e controle no mesmo projeto. É o único sintoma de que há mais do que parece no gradual aumento da distância que separa o ex e a presidente, à medida que a perspectiva para 2014 se altera por força das circunstâncias e do destino dos personagens.

Sem que as palavras de um e de outra se engalfinhem, quanto mais Lula ocupa os ares poluídos com a proposta inaceitável, mais franca se apresenta a preferência de Dilma Rousseff pela liberdade de informação e opinião. É, mais do que confronto, uma campanha de vacinação preventiva da opinião publica. Ou, como propôs no seu tempo o presidente Floriano Peixoto, se for de todo impossível acabar com a roubalheira, que todos então se locupletem. Republicanamente.

Há quem desconfie da dificuldade do ex-presidente Lula de se adaptar ao lado de fora do governo, desde o advento da liberdade de imprensa que se alarga socialmente com recursos virtuais. O sintoma manifestado por Lula ainda espera o diagnóstico definitivo. Não se passa semana sem que ele volte à carga pelo controle da liberdade de informação e opinião. Visivelmente constrangido na categoria de ex presidente, tem razão que a própria razão não leva em conta na tensa relação dele com a liberdade, seja de informação ou opinião, dos jornais e revistas.

Por que terá mudado tanto o ex-presidente? Se o ex o incomoda, assuma de uma vez o nome de Doutor Honoris Causa para facilitar-lhe a vida sem mandato. Ou se afaste da choldra política até que a eleição lhe ofereça – sem esquecer os eleitores – oportunidades de escolha.

Desde a campanha eleitoral, ainda candidata, a presidente não fez cerimônia em tomar posição contrária à censura e a qualquer das simulações de propostas alternativas. Não apenas aqui, mas também nos Estados Unidos, a presidente fez questão de marcar a diferença.Foi além da questão de princípio, pois o que está na mira vai se multiplicar à medida que 2014 chegar mais perto e dependurar um ponto de interrogação.

Quem mudou, mas para pior, foi o ex presidente que – no prazer do primeiro mandato _ disse e repetiu que devia aos meios de comunicação ter chegado ao Planalto, quando na verdade esse tipo de dívida é com a liberdade de imprensa, e se paga com respeito Lula não aprendeu com a vitória nem esquece o derrotado que jaz nele.

FONTE: JORNAL DO BRASIL

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