domingo, 18 de setembro de 2011

Colóquio "Comunistas Brasileiros: cultura política e produção cultural"

Apresentação

O fenômeno comunista no Brasil e no mundo, situado dentro da tradição mais ampla das esquerdas na história contemporânea, é um dos temas mais complexos e multifacetados da historiografia e das ciências humanas como um todo, propiciando abordagens nos campos da política, cultura, economia, antropologia, artes, comunicação, entre outros. No decorrer do século XX o cenário político foi polarizado pela presença do projeto comunista e sua promessa de instalar o reino da igualdade entre os homens, que se tornou um horizonte de expectativa para milhões de pessoas. Tão grande o seu poder de sedução e, conseqüentemente, a sua força política, que engendrou adversários poderosos, militantes da causa de salvar o mundo do comunismo, frequentemente tomado como sinônimo de regime antidemocrático e totalitário.

No Brasil, as idéias e a cultura comunista encontraram aderentes dedicados a partir do início dos anos 1920, quando intelectuais e líderes sindicais de esquerda se deixaram entusiasmar pelos sucessos da Revolução de 1917 e se propuseram a organizar um partido nos moldes soviéticos, o Partido Comunista do Brasil, posteriormente, Partido Comunista Brasileiro (PCB). Inicialmente, sua influência se restringiu a pequenas camadas sociais das principais zonas urbanas, mas, com a adesão de Luis Carlos Prestes (e a apropriação e ressignificação do mito prestista originário dos movimentos tenentistas dos anos 1920), o Partido Comunista ganhou condições de crescimento para além das suas bases originais. Após a Segunda Guerra, a influência do comunismo viveu seu momento de auge, alimentada pela força dos seus principais mitos (Prestes, o cavaleiro e mártir, após sua prisão em 1936, e a URSS, “nação proletária” vencedora do nazi-fascismo). Além disso, a partir de meados dos anos 1940, o enraizamento do partido nos movimentos sociais então existentes, sobretudo o sindical urbano, também ajudou a disseminar os valores do Partido. Outro índice da capacidade de atração dos valores comunistas foi o número significativo de intelectuais e artistas que se ligou ao PCB, que, por sua vez, serviam como chamariz para novas adesões.

Fenômeno longevo na história brasileira, ao qual se poderia facilmente aplicar as categorias temporais braudelianas (a média duração), o comunismo pecebista deitou raízes na sociedade e no debate político-cultural brasileiro, ainda que não tenha logrado atingir as grandes massas proletárias do país. No entanto, e apesar dos esforços repressivos do Estado e de várias campanhas anticomunistas, as idéias e valores provenientes da cultura comunista circularam no espaço público, encontrando abrigo em periódicos, editoras e livros, e influenciaram a produção artística e cultural em suas diversas expressões, desde o romance, a poesia e o teatro, até o cinema e a televisão.

Na historiografia e nas ciências sociais, a temática do comunismo tem atraído a atenção dos pesquisadores há bastante tempo. Porém, tal produção acadêmica tendeu, majoritariamente, a tratar o tema partindo de abordagens clássicas, como o funcionamento das instituições partidárias, o debate programático, a repressão política, o papel das lideranças, as ligações com o movimento sindical, entre outras. Não se pretende aqui criticar tal produção, ao contrário, reconhecemos sua fundamental contribuição aos estudos do fenômeno comunista no Brasil. Mas a proposta deste Colóquio é reunir trabalhos e pesquisadores dedicados ao tema a partir de outro viés, capaz de lançar luz sobre aspectos ainda pouco explorados. Interessa-nos, sobretudo, abordar os comunistas e o comunismo (de filiação pecebista, sobretudo), simultaneamente, como cultura política e como agência produtora de cultura. Por cultura política entendemos um conjunto de valores, tradições, práticas e representações políticas partilhado por determinado grupo humano, que expressa uma identidade coletiva e fornece leituras comuns do passado, assim como fornece inspiração para projetos políticos direcionados ao futuro. E na acepção utilizada aqui, vale a pena esclarecer, a categoria representações configura conjunto amplo que inclui ideologia, linguagem, memória, imaginário e iconografia, capaz de mobilizar e produzir mitos, símbolos, discursos, vocabulários e uma rica cultura visual (cartazes, emblemas, caricaturas, cinema, fotografia, bandeiras etc).

A análise de fatores culturais como valores, crenças, normas e representações ajuda a esclarecer e a compreender as múltiplas facetas do político, notadamente a origem de certas formas de ação e de comportamento na esfera pública que não se explicam somente pela determinação de interesses individuais ou coletivos, mas também pela influência de valores e paixões, bem como pela força da tradição ou do costume. E o projeto comunista engendrou uma cultura política das mais sólidas e complexas, produto da mescla entre elementos nacionais e internacionais, resultando em um conjunto de valores, convicções e representações que alimentou o debate político e a atuação de intelectuais, artistas e produtores culturais.

Assim, a motivação do Colóquio é entender melhor os elementos constituintes da cultura comunista/pecebista, cujos valores e idéias circularam para além dos espaços tradicionais da esquerda, fornecendo temas e argumentos para os agentes culturais, assim como inspirando determinadas políticas culturais. Ao centrar o foco das análises tanto na cultura quanto na produção cultural comunista teremos melhores condições de compreender os mecanismos que explicam sua força de atração e capacidade de reprodução ao longo do tempo e, quem sabe, dimensionar de maneira mais acurada a sua influência no debate político-cultural brasileiro.

Marcos Napolitano (USP)
Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG)
Rodrigo Czajka (UFVJM)

PROMOÇÃO

 Departamento de História / Universidade de São Paulo
 Programa de Pós-Graduação em História Social / USP

APOIO:
 CAPES
 Pró-Reitoria de Pesquisa / Universidade de São Paulo
 Departamento de História / USP
 Programa de Pós-Graduação em História Social/USP
 Programa de Pós Gradução em História / Universidade Federal de Minas Gerais
 Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e do Mucuri

Informações e inscrições

 Maiores informações sobre o colóquio podem ser obtidas pelo e-mail:
coloquiocomunistas@gmail.com
 As inscrições para o Colóquio poderão ser feitas, gratuitamente, na Secretaria do Departamento de História da Universidade de São Paulo (Av. Prof. Lineu Prestes 338, Cidade Universitária, São Paulo (SP), entre 14hs e 19hs. O evento disponibiliza 180 vagas, com direito a certificado de participação.
 Para ter direito ao certificado, será necessário assistir ao menos 4 das 6 mesas previstas no programa.

Programa do Colóquio: “Comunistas brasileiros: cultura política e produção cultural”

Segunda feira (3/outubro

Abertura – 9h00

Mesa 1 (9h30-12h00): Cultura política e representações comunistas

 Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG): A cultura política comunista: alguns apontamentos
 Paula Elise Ferreira Soares (UFMG): O camponês na cultura política comunista
 Marcelo Ridenti(UNICAMP): Brasilidade revolucionári

Mesa 2 (14h30-17h00): Dramaturgia comunista: conexões do teatro e audiovisual

 Reinaldo Cardenuto (ECA/USP e FAAP): A sobrevida da dramaturgia comunista na televisão dos anos 1970: o percurso de um realismo crítico em negociação
 Igor Sacramento (UFRJ): Por uma teledramaturgia épica: a experiência dos dramaturgos comunistas na televisão.
 Denise Rollemberg (UFF): O encontro de Dias Gomes com a Globo e o grande público. O intelectual comunista sob ditadura.

Terça feira (4 de outubro)

Mesa 3 (9h30-12h00): Políticas culturais

 Carine Dalmás (USP): Propostas e concepções político-culturais do PCB e do Partido Comunista do Chile entre 1935 e 1956: aportes do estudo comparado à história do comunismo na América Latina.
 Miliandre Garcia (UVJM): A gestão de Orlando Miranda no SNT e os paradoxos da “hegemonia cultural de esquerda”
 Francisco Alambert (USP): Comunistas e Tropicalistas

Mesa 4 (14h30-17h00): Intelectuais e vida partidária

 Rodrigo Czajka (UVJM): “A luta pela cultura”: intelectuais e o Comitê Cultural do PCB
 Lincoln Secco (USP): Caio Prado Junior como intelectual comunista
 Paulo Cunha (UNESP-Marília-SP): Nelson Werneck Sodré: uma militância entre o Sabre e a Pena

Quarta feira (5/outubro)

Mesa 5 (9h30-12h00): Palavra e engajamento (literatura, imprensa)

 Eduardo Tollendal (UFU): Arte revolucionária, forma revolucionária: o romance de José Godoy Garcia
 Marco Roxo (UFF): Jornalistas comunistas: trajetórias sinuosas entre o jornalismo e política
 Martin Cezar Feijó (Universidade Mackenzie): O comunista e o hippie: Uma interpretação histórico-cultural da peça “Rasga-Coração”, de Oduvaldo Vianna Filho (1967-1974.

Mesa 6 (14h30-17h00): Comunistas e resistência cultural durante o regime militar

 Marcos Napolitano (USP): A “estranha derrota”: os comunistas e a resistência cultural durante o regime militar
 Miriam Hermetto (UFOP): Práticas de resistência cultural no Grupo Casa Grande (1975-1978): o frentismo comunista contra a ditadura
 Arnaldo Contier (USP e Universidade Mackenzie): O Centro Popular de Cultura, Sérgio Ricardo e a canção engajada nos anos 60.

FONTE: USP

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