sábado, 10 de setembro de 2011

Delúbio nega mensalão, cita Cristo e Hitler

Ex-tesoureiro do PT diz que não fez pagamentos a aliados, mas admite no STF ter cometido crime de caixa dois

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Na tentativa de se defender das acusações de envolvimento com o mensalão, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares se apresenta como um militante idealista, pobre e vítima de uma campanha sensacionalista da imprensa. Nas alegações finais, protocoladas no Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira, Delúbio compara as injustiças que teria sofrido durante a CPI dos Correios à condenação de Jesus Cristo. O ex-tesoureiro nega que tenha feito pagamentos mensais a parlamentares da base do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas admite em juízo o crime de caixa dois.

O deputado cassado José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, também alega inocência. Dirceu argumenta que à época das denúncias do mensalão estava no governo e não interferia nas questões do PT. O ex-ministro usa em sua defesa depoimentos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula. Pelo trecho transcrito, a presidente "acha o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu uma pessoa injustiçada e tem por ele grande respeito". Lula, conforme a frase destacada pelo ex-ministro, diz que não tem conhecimento "de nenhum ato indevido" de Dirceu.

Já na defesa de Delúbio, o ex-tesoureiro louva o papel da imprensa e do parlamento na democracia, mas diz que o sistema tem limitações."Entre elas desponta a criação de estados emocionais coletivos, não privativos da democracia, que tampouco lhes é imune, como foi aquele que trocou Barrabás por Cristo, o que expulsou de Atenas o justo Aristides, o que levou Hitler ao poder na Alemanha", diz ele.

O ex-tesoureiro, apontado como um dos principais operadores do mensalão, nega que tenha feito pagamentos mensais a parlamentares da base aliada, como aponta a denúncia do Ministério Público Federal. Delúbio diz que tomou empréstimos nos bancos Rural e BMG com a ajuda do empresário Marcos Valério para cobrir despesas das campanhas eleitorais de 2002. O ex-tesoureiro confessa, no entanto, que fez caixa dois. "A instrução demonstrou que a razão de os pagamentos terem sido feitos em espécie foi exclusivamente o fato de que tais valores não foram registrados na contabilidade do partido", afirma.

O reconhecimento do crime, ainda que perante a Corte Suprema, pode beneficiar o ex-tesoureiro. O crime eleitoral de caixa dois já está prescrito e não implicaria em qualquer sanção ao réu. Na defesa, escrita com tintas literárias, Delúbio é apresentado como um sonhador que permanece pobre: "Delúbio Soares dedica sua vida a um sonho: lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas".

O texto não lembra que, antes do escândalo, Delúbio gostava de ostentar benesses do poder como carro blindado, charuto cubano e uísque importado. O prazo para as alegações finais terminou anteontem. A partir de agora, o ministro Joaquim Barbosa pode começar a preparar seu voto para o julgamento dos envolvidos com o mensalão.

FONTE: O GLOBO

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