segunda-feira, 12 de setembro de 2011

‘Mensalão’ do tráfico derruba chefes da UPP

PMs envolvidos em 'mensalão' poderão ser expulsos da corporação

Após reportagem de 'O DIA', capitão e tenente são exonerados da unidade pacificadora

Francisco Edson Alves e João Antônio Barros

Rio - O mensalão da UPP da Coroa, Fallet e Fogueteiro, no Catumbi, noticiado neste domingo por O DIA, resultou no afastamento do comandante e do subcomandante da unidade de pacificação, respectivamente o capitão Elton Costa e o tenente Rafael Medeiros. Os dois estão entre os 30 agentes da unidade investigados no esquema de corrupção em que propinas fixas vinham sendo pagas regularmente pelos traficantes aos policiais.

A ‘caixinha’ foi descoberta pela Coordenadoria de Inteligência da PM. De acordo com as apurações, traficantes da região pagam de R$ 400 a R$ 2 mil — totalizando mais de R$ 53 mil por mês — ao grupo, para que ações de combate aos criminosos não sejam desencadeadas. Os valores eram proporcionais à patente e à importância do agente na estrutura do policiamento.

O anúncio da exoneração dos oficiais foi feito em entrevista coletiva convocada pelo comandante-geral da Polícia Militar, coronel Mário Sérgio Duarte, e pelo chefe do Comando de Polícia Pacificadora, coronel Robson Rodrigues.

“Tomaremos uma série de medidas administrativas e, certamente, afastaremos os dois comandantes”, afirmou Mário Sérgio, adiantando que outros PMs da unidade serão afastados por envolvimento no esquema ou por outras razões administrativas.

Segundo ele, o Inquérito Policial Militar, iniciado há 60 dias, será concluído em menos de uma semana e poderá culminar na expulsão dos envolvidos da corporação. “Não vejo outra saída para policiais que se envolvem com esse tipo de crime, que não seja a porta de saída”, disse Mário Sérgio. Rodrigues disse que o afastamento dos responsáveis pela UPP é “questão de conveniência”.

“Não estamos afirmando que eles (Elton e Rafael) estão ou não estão envolvidos. Mas não vamos nos furtar de tomar medidas duras contra quem ocupe qualquer posição no escalão. E mesmo que não estejam, é da conveniência que troquemos o comando”.

Mário Sérgio evitou entrar em detalhes, alegando segredo de Justiça, mas exaltou a investigação, iniciada após denúncias de moradores. “É um alerta para outros policiais mal-intencionados. Nosso monitoramento se estende a toda a corporação”, advertiu.

Estrutura de empresa

O mensalão montado por traficantes para subornar PMs da UPP do Catumbi tinha estrutura de empresa. Da coleta do dinheiro até a distribuição dos envelopes com propina, cada etapa era feita por um agente de folga e sem farda, para evitar reconhecimento. A ‘caixinha’ era contabilizada e envelopada em local fora de suspeita e cercado de segurança: na Rua Marques de Pombal, a poucos passos do Batalhão de Choque e da Academia da Polícia Civil. O levantamento da Coordenadoria de Inteligência da PM mostra que cinco dos 30 PMs investigados eram os responsáveis pela coleta, feita sempre à noite e nunca em becos ou dentro das comunidades.

UPP abre canal para denúncias

O comandante geral da PM, coronel Mário Sérgio Duarte, garantiu que não há indícios de que esquema de corrupção semelhante ao da unidade da Coroa, Fallet e Fogueteiro ocorra em outras UPPs. “Não detectamos isso em outras unidades. Mas nosso monitoramento é constante ”, afirmou, ressaltando, porém, que denúncias podem ser feitas pelos telefones 2333-2757 ou 2333-2753.

Policiamento é reforçado após conflitos

Neste domingo, após os confrontos entre PMs e traficantes de sábado, o policiamento foi reforçado nos morros da Providência e da Coroa, Fallet e Fogueteiro. Atingido por disparo na traqueia no Fogueteiro e com a bala alojada na coluna, o soldado Fávaro Rocha Coutinho, 30 anos, está em coma induzido no Hospital Geral da PM e corre risco de ficar tetraplégico.

Mas Mário Sérgio acredita que os confrontos e o esquema de corrupção no Catumbi não mancharão a imagem das UPPs: “Pelo contrário, é resposta à comunidade de que estamos sempre atentos (a desvios de conduta) e a traficantes de quadrilhas desmanteladas que insistem em tentar voltar a áreas pacificadas”.

Números

30 PMs
São investigados pela Corregedoria da PM. Eles foram afastados e destacados ao batalhão de origem

R$ 2 MIL
Valor a que chegavam as quantias pagas a cada policial para fazer vista grossa para atuação do tráfico

R$ 53 MIL
Valor que o grupo de PMs arrecadava por mês com a ‘caixinha do tráfico’ na UPP da Coroa, Fallet e Fogueteiro

FONTE: O DIA

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