segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Que pena, Dilma!:: Ricardo Noblat

Ninguém está preocupado se Sarney é isso ou aquilo. Queremos garantir a governabilidade." (Rui Falcão, presidente do PT)

Curioso. Foi da presidente Dilma a iniciativa de devolver a luta contra a corrupção à agenda dos brasileiros, normalmente pouco interessados no assunto. Vai ver que cansaram de pedir providências contra a roubalheira e agora custam a acreditar no êxito de refreá-la. Bem, aí quando apareceu gente disposta a dar uma força à ideia de Dilma...

O que aconteceu? Dilma fez cara de paisagem. Como se dissesse: "Quem? Eu? Combater a corrupção? Imagina! É claro que combaterei. Como o presidente Lula combateu... Mas, sabe? Isso é obrigação de qualquer governo. De qualquer um. Meu negócio é varrer a miséria do país". Gracinha!

Dilma tem medo do quê? Dos políticos ladrões que a apoiam se sentirem ofendidos e a abandonarem? Do PT achar que seus mensaleiros só têm a perder com uma campanha contra a corrupção às vésperas de serem julgados pelo Supremo Tribunal Federal? Da lama a ser revolvida respingar em Lula sem querer? De acabar sobrando para ela mesma?

Não, não afirmo que Dilma tenha protagonizado falcatruas ou se beneficiado de falcatruas cometidas por quem lhe devia obediência. Falta esclarecer, porém, o caso de Erenice Guerra, que a sucedeu na Casa Civil. O filho de Erenice, com a anuência dela, traficou influência e fez lobby. A mãe perdeu o emprego. Dilma foi a última a saber?

Falta esclarecer também como conseguiram esconder de Dilma, sempre atenta ao que se passava nos ministérios mais poderosos, as 66 irregularidades em processos de licitação e contratos firmados pelo Ministério dos Transportes. A União amargou um prejuízo de R$ 682 milhões. É muito dinheiro.

Nossos gatunos municipais, estaduais e federais não fazem nada barato. É por isso que a menção a pequenas quantias não nos sensibilizam mais. Quem lembra o nome do diretor da Empresa de Correios e Telégrafos filmado no marco zero do mensalão recebendo propina? Somente o Dr. Google lembra: Maurício Marinho.

De quanto foi a propina? Maurício embolsou míseros R$ 3 mil. No vídeo, conta que o roubo corria solto na empresa controlada pelo deputado Roberto Jefferson (RJ), presidente do PTB. Jefferson viu na denúncia a digital do ministro José Dirceu, da Casa Civil. Aí deflagrou o escândalo que quase derrubou o governo.

Três anos depois de Maurício ter saído dos Correios para entrar na História, a Polícia Federal descobriu um novo esquema de fraude na empresa. Na ocasião, 16 pessoas foram presas, suspeitas de desviar R$ 21 milhões. Logo, logo foram soltas. Nenhuma foi julgada até hoje. O dinheiro continua desaparecido. Como de costume.

O Dia da Independência foi marcado por tentativas espontâneas de marchas contra a corrupção. Só uma reuniu muita gente — a de Brasília, com mais de 25 mil pessoas. O que animou quem ainda se preocupa com a ética na política assustou quem vive da política sem ética. Dilma preferiu não ver o que foi estimulado por ela. Uma pena.

Vida de gado

Deputados federais e senadores têm o direito de apresentar emendas ao Orçamento da União destinando verbas para a construção de pequenas obras em seus redutos eleitorais. Uma vez aprovadas, as emendas dependem da vontade do governo para se transformar em dinheiro vivo. Às vésperas de decisões importantes no Congresso ou depois que elas ocorrem, a levar-se em conta seu resultado, o governo libera parte das emendas dos parlamentares que votaram justamente como ele queria. Guarda o resto para outras ocasiões. E assim vai conduzindo o seu gado. Muito bem. Agora me respondam: se isso não configura compra indireta de votos, configura mesmo o quê?

FONTE: O GLOBO

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