quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A rebelde e os chapas-brancas

“Importada” pela UNE, Camila Vallejo, musa dos protestos no Chile, viu cerca de 5 mil alunos pedirem mudanças na educação brasileira. Mas, ao contrário do que ocorre em Santiago, em Brasília não há embates. O alinhamento dos líderes com o governo é evidente – muitos ocupam cargos de confiança em órgãos públicos. A reunião com a presidente Dilma foi cordial, mas teve poucos avanços, o que não incomodou o movimento. Houve tempo ontem até para ajudar o Planalto com uma manifestação, em frente ao BC, pela redução de juros.

Protesto chapa-branca

Com direito a celebridade do Chile, UNE reivindica aumento dos gastos na educação, mas sem críticas ao governo. Manifestantes brigam na Esplanada

Integrantes da União Nacional dos Estudantes (UNE) fizeram um protesto "light" em Brasília ontem, passando pelo Banco Central e pela Esplanada dos Ministérios. As reivindicações incluem a diminuição das taxas de juros, o investimento anual em educação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) — o dobro do índice praticando atualmente — e 50% do fundo social que será irrigado pelos ganhos oriundos do pré-sal. À tarde, a entidade apresentou uma lista de 43 pontos à presidente Dilma Rousseff. Na reunião com representantes da UNE, Dilma não se debruçou sobre nenhum dos temas em particular. Ainda assim, o movimento estudantil saiu satisfeito do encontro. Para a presidente, ficou confirmado que a entidade, antes combativa, hoje está alinhada ao governo — boa parte dos ex-presidentes da UNE tem cargos no Executivo, em especial no Ministério do Esporte, a exemplo do atual titular da pasta, Orlando Silva.

Nem nos protestos na rua o envolvimento de alguns ministérios em recentes escândalos de corrupção foi citado. "A UNE não fez menção a nenhum caso específico de corrupção porque defende medidas estruturantes, como a reforma política, embora os casos recentes nos preocupem. Além disso, o centro da nossa pauta é o debate educacional e econômico. Quer escândalo maior que o governo pagar 44% do PIB em juros e amortizações da dívida pública?", contemporiza Daniel Iliescu, presidente da entidade, que, à tarde, se encontrou com o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS). Quem mais chamou as atenções no Congresso Nacional, entretanto, foi a líder estudantil Camila Vallejo, 23 anos, presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile e convidada da UNE no protesto.

A maior parte dos manifestantes — calculados em 5 mil pela Polícia Militar e em 20 mil pelo movimento estudantil — saiu de escolas públicas do Distrito Federal em ônibus fretados. Gente que nunca havia pisado o chão da Esplanada, como Tatiane Macedo. "Sou da escola do Incra (região rural de Brazlândia), venho poucas vezes para o Plano Piloto", disse a garota de 16 anos. Embora em minoria, havia alunos da rede privada. Lucas Miranda, o mais empolgado de um grupo de oito estudantes de dois dos mais caros colégios da cidade, empunhava a bandeira do Brasil. "Fiquei feliz em ver tanta gente aqui lutando pela educação pública", contou o garoto de 18 anos, que sempre estudou em escola particular e hoje se prepara para fazer um intercâmbio na Alemanha.

O protesto congestionou o trânsito na Esplanada, restrito a apenas duas faixas no sentido Rodoviária-Congresso até pouco antes do meio-dia. Depois, o tráfego voltou ao normal.

Confusão

Apesar do clima amistoso, sem atrito com a polícia nem na hora do tradicional banho no espelho d"água em frente ao Congresso Nacional, estudantes brigaram, provavelmente motivados pela rivalidade entre escolas. Um grupo de um colégio de ensino médio da Asa Sul afirmou ter sido agredido com canos de PVC, socos e pontapés por cerca de 50 alunos de outras instituições. "Eles derrubaram um dos meninos, chutaram a testa dele e quebraram um cano na cabeça dele", relatou um estudante de 17 anos. A Polícia Militar, embora presente, afirmou que a ação ocorreu isoladamente, longe de onde havia homens da corporação.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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