terça-feira, 4 de outubro de 2011

Cabral cobra apoio de Dilma sobre royalties

Governador pede que presidente diga publicamente que vetará mudança na distribuição de receitas de campos já licitados

Nos bastidores, membros do governo dizem que Dilma não pode romper com outros governadores em benefício do Rio

Rodrigo Rötzsch e Natuza Nery

RIO – BRASÍLIA - O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), cobrou o apoio da presidente Dilma Rousseff na disputa que trava com outros governadores por receitas advindas da exploração de petróleo no país.

Ele quer que a presidente assuma publicamente o compromisso de vetar qualquer iniciativa do Congresso que "invada" as receitas do Rio e de outros Estados produtores, com campos de petróleo cujo direito de exploração já tenha sido dado a Petrobras ou outras empresas do setor.

No sábado, Cabral pediu a Dilma que ajudasse a negociar o adiamento a votação de um veto do ex-presidente Lula a um projeto que define a distribuição igualitária dos recursos entre os Estados.

Se a proposta for à votação, a expectativa é de que o veto seja derrubado. Neste caso, o Rio promete recorrer da decisão no STF (Supremo Tribunal Federal).

Segundo Cabral, Dilma teria atendido seu pedido e ligado imediatamente para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pedindo o adiamento da votação.

Segundo o relato do governador, a presidente teria dito que a discussão do tema é "impertinente" neste momento de crise mundial.

Cabral quer ainda que a presidente vete um segundo projeto, do senador Wellington Dias (PT-PI), que traria perdas à arrecadação de Estados produtores de petróleo.

No fim de semana, o jornal "O Globo" publicou uma entrevista com Cabral, em que ele afirmava que Dilma terá uma "tragédia eleitoral dramática" no Rio se não impedir a mudança das regras sobre os royalties do petróleo.

REPERCUSSÃO

O governo não gostou da forma como Cabral se posicionou no debate.

A frase do governador sobre uma possível tragédia eleitoral da presidente Dilma foi interpretada como um "recado desesperado" do aliado.

Para o Planalto, nas entrelinhas, a mensagem trazia uma ameaça de que ele não moverá nem um músculo sequer para reeleger Dilma no Rio em uma eventual campanha pelo segundo mandato.

Cabral ajudou a petista nas eleições do ano passado, após costura política feita pelo ex-presidente Lula.

Nos bastidores, integrantes do governo dizem que a presidente não pode romper com todos os outros representantes de Estado para resolver um problema do governador do Rio.

Nas palavras de um interlocutor de Dilma, o governador do Rio está "equivocado" se acha que convencerá o governo a ceder mais, ao fazer ameaças por meio de declarações na imprensa.

Ontem, Cabral recebeu no Palácio Guanabara a bancada do Rio na Câmara dos Deputados, que expôs apoio unânime a sua decisão de não aceitar nenhuma concessão em relação à lei atual.

Estiveram presentes 29 dos 46 deputados do Estado.

Cabral disse aos parlamentares que propôs a Dilma soluções para ampliar a receita de Estados não produtores, como o aumento de tributos cobrados das empresas em campos de grande produção.

Deputados da oposição a Cabral, como Otávio Leite (PSDB) e Rodrigo Maia (DEM), também engrossaram o movimento pluripartidário.

FOLHA DE S. PAULO

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