sábado, 8 de outubro de 2011

A força da inflação:: Celso Ming

Basta que a inflação neste mês de outubro seja inferior a 0,75% para que a próxima medição em 12 meses seja menor que os 7,31% registrados em setembro - nível mais alto desde maio de 2005. E basta que, na média, a inflação mensal do último trimestre não seja superior a 0,48% para que a evolução do IPCA no ano fique dentro do teto da meta (6,5%).

O compromisso do Banco Central não é mais garantir inflação dentro da meta (4,5%) neste ano, mas obter a convergência em 2012. É objetivo muito ambicioso, levando-se em conta a distância entre os pressupostos definidos para que isso aconteça e o que, de fato, vai se concretizando.

O Banco Central trabalha com duas apostas: (1) o mergulho da atividade econômica global produzir desinflação externa em proporção tal que seja transmitida, também, para a economia brasileira; e (2) a austeridade orçamentária do governo federal ser suficientemente robusta para que atue a favor da contenção dos preços e, ao mesmo tempo, abra espaço para a baixa dos juros básicos (Selic), hoje, nos 12% ao ano.

Não é nem um pouco certo que a economia mundial entrará em recessão. Ao contrário, a tendência, apontada quase unanimemente pelos organismos encarregados de prever os movimentos da economia mundial, é de que haverá, sim, um crescimento mais baixo da produção e do consumo nas economias maduras, mas não uma recessão. A criação de 103 mil postos de trabalho em setembro nos Estados Unidos, como ontem foi divulgado, parece comprovar essa expectativa.

E ainda que essa lenta retomada global produza desinflação - o que não está nem um pouco evidente -, nada certifica que essa queda dos preços seja transferida para a economia brasileira.

O superávit primário de 3,1% nas contas públicas deve ser elogiado e é um bom passo na direção do controle da inflação, mas sinaliza ser insuficiente para isso. Há o sempre lembrado fator salário mínimo, cujo reajuste de 14%, a vigorar em janeiro, já está contratado. Ele será, por si só, uma força que esticará as despesas correntes dos governos, especialmente, estaduais e municipais, com o grande número de funcionários públicos e aposentados que o recebem. E há o período eleitoral, quando as autoridades, normalmente, têm mais dificuldades para controlar a boca do cofre.

A alta da inflação no Brasil continua bastante generalizada (índice de difusão de 61,5%) e concentrada nos serviços (9,04% em 12 meses). É um indicador que reforça o diagnóstico de que permanece em curso uma forte inflação de demanda (consumo maior do que a capacidade de oferta da economia), a ser combatida com dinheiro curto.

A próxima reunião do Copom está agendada para o dia 19. Caso o Banco Central insista em sua disposição de provocar a convergência da inflação para a meta de 4,5%, não poderá cumprir efetivamente uma política de meta de juros, como transparece em inúmeras declarações da equipe econômica.

Na prática, isso significa que não poderia seguir cortando os juros em meio ponto porcentual por mais quatro ou cinco reuniões do Copom, como demonstra ser a sua intenção.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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